130E evoco, então, as crônicas navais:Mouros baixéis, heróis, tudo ressuscitado!Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!Singram soberbas naus que eu não verei jamais!E o fim da tar<strong>de</strong> inspira-me; e incomoda!De um couraçado inglês vogam os escalares;E <strong>em</strong> terra num tinir <strong>de</strong> louças e talheresFlamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.Num tr<strong>em</strong> <strong>de</strong> praça arengam dois <strong>de</strong>ntistas;Um trôpego arlequim braceja numas andas;Os querubins do lar flutuam nas varandas;Às portas, <strong>em</strong> cabelo, enfadam-se os lojistas!Vazam-se os arsenais e as oficinas;Reluz viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,Correndo com firmeza, assomam as varinas.Vêm sacudindo as ancas opulentas!Seus troncos varonis recordam-me pilastras;E algumas, à cabeça, <strong>em</strong>balam nas canastrasOs filhos que <strong>de</strong>pois naufragam nas tormentas.Descalças! Nas <strong>de</strong>scargas <strong>de</strong> carvão,Des<strong>de</strong> manhã à noite, a bordo das fragatas;E apinham-se num bairro aon<strong>de</strong> miam gatas,E o peixe podre gera os focos <strong>de</strong> infecção!II - NOITE FECHADATocam-se as gra<strong>de</strong>s, nas ca<strong>de</strong>ias. SomQue mortifica e <strong>de</strong>ixa umas loucuras mansas!O Aljube, <strong>em</strong> que hoje estão velhinhas e crianças,B<strong>em</strong> raramente encerra uma mulher <strong>de</strong> “dom”!E eu <strong>de</strong>sconfio, até, <strong>de</strong> um aneurisma,Tão mórbido me sinto, ao acen<strong>de</strong>r das luzes;À vista das prisões, da velha Sé, das Cruzes,Chora-me o coração que se enche e que se abisma.A espaços, iluminam-se os andares,E as tascas, os cafés, as tendas, os estancosAlastram <strong>em</strong> lençol os seus reflexos brancos;E a lua l<strong>em</strong>bra o circo e os jogos malabares.Duas igrejas, num saudoso largo,Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero:Nelas esfumo um ermo inquisidor severo,Assim que pela História eu me aventuro e alargo.Na parte que abateu no terr<strong>em</strong>oto,
131Muram-me as construções retas, iguais crescidas;Afrontam-me, no resto, as íngr<strong>em</strong>es subidas,E os sinos dum tanger monástico e <strong>de</strong>voto.Mas, num recinto público e vulgar,Com bancos <strong>de</strong> namoro e exíguas pimenteiras,Brônzeo, monumental, <strong>de</strong> proporções guerreiras,Um épico doutrora ascen<strong>de</strong>, num pilar!E eu sonho o Cólera, imagino a Febre,Nesta acumulação <strong>de</strong> corpos enfezados;Sombrios e espectrais recolh<strong>em</strong> os soldados;Inflama-se um palácio <strong>em</strong> face <strong>de</strong> um casebre.Part<strong>em</strong> patrulhas <strong>de</strong> cavalariaDos arcos dos quartéis que foram já conventos;Ida<strong>de</strong> Média! A pé, outras, a passos lentos,Derramam-se por toda a capital, que esfria.Triste cida<strong>de</strong>! Eu t<strong>em</strong>o que me avivesUma paixão <strong>de</strong>funta! Aos lampiões distantes,Enlutam-me, alvejando, as tuas elegantes,Curvadas a sorrir às montras dos ourives.E mais: as costureiras, as floristasDesc<strong>em</strong> dos magasins, causam-me sobressaltos;Custa-lhes a elevar os seus pescoços altosE muitas <strong>de</strong>las são comparsas ou coristas.E eu, <strong>de</strong> luneta <strong>de</strong> uma lente só,Eu acho s<strong>em</strong>pre assunto a quadros revoltados:Entro na brasserie; às mesas <strong>de</strong> <strong>em</strong>igrados,Ao riso e à crua luz joga-se o dominó.III - AO GÁSE saio. A noite pesa, esmaga. NosPasseios <strong>de</strong> lajedo arrastam-se as impuras.Ó moles hospitais! Sai das <strong>em</strong>bocadurasUm sopro que arrepia os ombros quase nus.Cercam-me as lojas, tépidas. Eu pensoVer círios laterais, ver filas <strong>de</strong> capelas,Com santos fiéis, andores, ramos, velas,Em uma catedral <strong>de</strong> um cumpimento imenso.As burguesinhas do CatolicismoResvalam pelo chão minado pelos canos;E l<strong>em</strong>bram-me, ao chorar doente dos pianos,As freira que os jejuns matavam histerismo.Num cutileiro, <strong>de</strong> avental, ao torno,Um forjador maneja um malho, rubramente;
- Page 1 and 2:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁCE
- Page 4 and 5:
DEDICATÓRIADedicamos esta disserta
- Page 6 and 7:
Cesário diz-me muito: gostava de f
- Page 8 and 9:
ABSTRACTThe Portuguese poet Joaquim
- Page 10 and 11:
SUMÁRIORESUMO.....................
- Page 12 and 13:
CONSIDERAÇÕES INICIAISAo entardec
- Page 14 and 15:
12revelando nos versos a crise port
- Page 16 and 17:
14grau, ao seu contexto histórico
- Page 18 and 19:
16se começa a falar em método com
- Page 20 and 21:
18faleceu em Connecticut, em 1995.
- Page 22 and 23:
20do tipo original/cópia, centro/p
- Page 24 and 25:
22No entanto, Nitrini (2000, p. 184
- Page 26 and 27:
24Essa verificação de que “a ar
- Page 28 and 29:
26Os homens sempre utilizaram sinai
- Page 30 and 31:
28intelectual. Segundo Lichtenstein
- Page 32 and 33:
30observar bem para apreender a sem
- Page 34 and 35:
32apud AGUIAR e SILVA, 1990, p. 167
- Page 36 and 37:
34e justificam a proposta poética
- Page 38 and 39:
36A terceira tendência revolucion
- Page 40 and 41:
38incluindo-se Camille Pissarro. Na
- Page 42 and 43:
40mercado foi desenvolvido no exter
- Page 44 and 45:
42Pissarro morreu em novembro de 19
- Page 46 and 47:
44O segundo artista é Claude Monet
- Page 48 and 49:
46Figura 5 refere-se à tela A pont
- Page 50 and 51:
48fazem parte do segundo plano. O p
- Page 52 and 53:
50Silva Pinto, que se tornara colec
- Page 54 and 55:
52desdobramento da lírica. Do cont
- Page 56 and 57:
54Classes Laboriosas, em 1852, que
- Page 58 and 59:
56Faria e Maia, Manuel de Arriaga,
- Page 60 and 61:
58De forma aprimorada.E eu vou acom
- Page 62 and 63:
60poemas narrativos como “Don Jua
- Page 64 and 65:
62O que se configura na poesia de C
- Page 66 and 67:
64do modelo Aristotélico” (2001,
- Page 68 and 69:
66Ocorrem mudanças na sociedade bu
- Page 70 and 71:
68interpretação do verso contradi
- Page 72 and 73:
70Segundo Friedrich, a obra Flores
- Page 74 and 75:
72mundo; mas, por outro lado, o dâ
- Page 76 and 77:
744. CESÁRIO VERDE E CAMILLE PISSA
- Page 78 and 79:
76ao relacioná-lo com a abdicaçã
- Page 80 and 81:
78Camões. Há variantes entre a ed
- Page 82 and 83: 80mundo, ironicamente representado
- Page 84 and 85: 82sombrios da ordem social) é segu
- Page 86 and 87: 84Verde no século XIX que sabe que
- Page 88 and 89: 864.3 LEITURA DA PAISAGEM URBANA DO
- Page 90 and 91: 88Figura 8. PISSARRO, Camille. Boul
- Page 92 and 93: 90construções muito altas, árvor
- Page 94 and 95: 92Levou tempo para as pessoas se ac
- Page 96 and 97: 94data a expansão foi rápida, mas
- Page 98 and 99: 96Nas telas Boulevard Montmartre So
- Page 100 and 101: 98A carta é datada do dia 29 de ju
- Page 102 and 103: 100Na segunda estrofe, da parte I d
- Page 104 and 105: 102subjetiva, descreve pintando a c
- Page 106 and 107: 104da libra e do “shilling”, /
- Page 108 and 109: 106apresentam uma vida desgastada e
- Page 110 and 111: 108florestas em que há corsas, / N
- Page 112 and 113: 110falta de incentivo fiscal, técn
- Page 114 and 115: 112Figura 13. PISSARRO, Camille. Ho
- Page 116 and 117: 114da encosta do sexto plano com a
- Page 118 and 119: 116As Encostas de Vesinet, Yvelines
- Page 120 and 121: 118Imagem presente no poema OSentim
- Page 122 and 123: 120CONSIDERAÇÕES FINAISO homem in
- Page 124 and 125: 122Essas imagens chegam ao leitor e
- Page 126 and 127: 124REFERÊNCIASAGUIAR e SILVA, V. M
- Page 128 and 129: 126MOISÉS, M. A Literatura Portugu
- Page 130 and 131: 128Vê-se a cidade, mercantil, cont
- Page 134 and 135: 132E de uma padaria exala-se, inda
- Page 136 and 137: 134Fugiu da capital como da tempest
- Page 138 and 139: 136E assim postas, nos barros e are
- Page 140 and 141: 138Tinhas caninos, tinhas incisivos
- Page 142 and 143: 140Todos os tipos mortos ressuscito
- Page 144 and 145: 142De como, às calmas, nessas excu
- Page 146 and 147: 144Chorassem de resina as laranjeir
- Page 148: 146Se inda trabalho é como os pres