744. CESÁRIO VERDE E CAMILLE PISSARRO: CIDADE E CAMPOCesário Ver<strong>de</strong> usava a tintaDe forma singular:Não para colorir,Apesar da cor que nele há.João <strong>de</strong> Cabral <strong>de</strong> Melo Neto 74.1 CESÁRIO VERDE e o seu olhar poético sobre a cida<strong>de</strong> e o campoA louvável atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Silva Pinto <strong>de</strong> publicar a obra do amigo Cesário Ver<strong>de</strong> équestionada por alguns <strong>de</strong> seus estudiosos como Joel Serrão, pois se levantam algumasquestões apresentadas anteriormente <strong>de</strong> maneira sucinta, o que foi profundamenteinvestigado pelo autor. Silva Pinto, ao publicar a obra, intitulando-a O Livro <strong>de</strong> CesárioVer<strong>de</strong>, não incluiu e alterou alguns po<strong>em</strong>as da obra original. O livro foi dividido <strong>em</strong>duas partes, “Crise Romanesca” e “Naturais”, divisão que levou o questionamento daunida<strong>de</strong> da obra e <strong>de</strong> que maneira ela teria sido dividida pelo autor. Estudos einterpretações da obra poética <strong>de</strong> Cesário, a partir dos critérios adotados por Silva Pinto,<strong>de</strong>limitam as conclusões <strong>de</strong> seus pesquisadores e editores.No século XX, Joel Serrão (1961, p. 137) apresenta sua organização da obrado poeta, obe<strong>de</strong>cendo à or<strong>de</strong>m cronológica dos textos, explicando que: “(...) só umaedição crítica <strong>de</strong> suas poesias, divididas <strong>em</strong> ciclos cronológicos rigorosos po<strong>de</strong>rá<strong>de</strong>sfazer para nos levar, homens do século XX, e, logo com diversa perspectiva, a umaoutra visão... o Cesário <strong>de</strong> Silva Pinto não correspon<strong>de</strong> a uma edição crítica.” Sendoassim, a nossa opção recai sobre a or<strong>de</strong>m cronológica estabelecida por Joel Serrão, poisé fundamental a contextualização da poesia e da vida <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong>.Carlos Felipe Moisés, <strong>em</strong> Cesário Ver<strong>de</strong> Poesia Completa & CartasEscolhidas (1982), divi<strong>de</strong> a produção poética <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong> <strong>em</strong> quatro ciclos. Oprimeiro ciclo, segundo Moisés, “[...] apesar do ímpeto e da inexperiência dos 18 anos,contesta com certeira ironia o próprio espírito romântico, cujo sentimentalista i<strong>de</strong>alistaele se recusa a assumir.” (1982, p.3). A atitu<strong>de</strong> do poeta <strong>de</strong> irreverência, crítico e avessoàs convenções só se generalizam com as vanguardas. No segundo ciclo a ironia e a7 MELO NETO, J. C. O Sim Contra o Sim. 3ª Edição, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Editora José Olympio, 1979.
75irreverência do primeiro ciclo se tornam mais fortes, “[...] a linguag<strong>em</strong>, que aos poucosse vai libertando do artificialismo retórico e da ênfase da oratória, para ganhar sedutoraespontaneida<strong>de</strong> e comunicabilida<strong>de</strong>, pela apropriação do coloquialismo.” (MOISÉS,1982, p. 4). Esse coloquialismo é incorporado ao cotidiano e à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa: ruas,bairros, pessoas são apresentados na poesia <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong>. Assim, segundo Moisés,essa produção reveladora do banal, do feio e do vulgar ocorre <strong>de</strong> maneira inusitada:Com isso, começa a ruir o antigo edifício das Verda<strong>de</strong>s e Belezaseternas; com Cesário, o espaço poético passa a ser dominado pelotransitório e o efêmero, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se origina uma imag<strong>em</strong> da existênciacomo fragmentação e dispersão, <strong>em</strong> que a consciência individual se vêpermeada da presença objetiva da realida<strong>de</strong> circundante, que aomesmo t<strong>em</strong>po repele e fascina (MOISÉS, 1982, p. 4).Essa poesia modifica o cenário poético e causa a péssima recepção que suaprodução obteve da crítica <strong>de</strong> sua época. Sua poesia não objetiva agradar e n<strong>em</strong><strong>de</strong>spertar prazer. O leitor t<strong>em</strong> outra perspectiva para ver e sentir a realida<strong>de</strong>. Moisésiguala o segundo ciclo ao quarto ciclo dos po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong>. O campo éapresentado com a linguag<strong>em</strong> coloquial e <strong>de</strong> maneira realista. Para o autor o contrastecampo/cida<strong>de</strong> assim ocorre:Não se dá <strong>em</strong> termos da oposição entre i<strong>de</strong>al e real, entre natureza‘pura’ e civilização ‘corrompida’, Cesário encara o campo s<strong>em</strong><strong>de</strong>formações sentimentalistas ou i<strong>de</strong>alistas, para ver aí situações <strong>em</strong>otivos s<strong>em</strong>elhantes àqueles entrevistos no cenário urbano. Campo ecida<strong>de</strong> participam da mesma atmosfera realista, repart<strong>em</strong> a mesmapreocupação social, interessada <strong>em</strong> registrar o dia-a-dia prosaico econcreto (MOISÉS, 1982, p. 5).A novida<strong>de</strong> <strong>em</strong> Cesário Ver<strong>de</strong> é apontada pelo fato <strong>de</strong> que “[...] mais mo<strong>de</strong>rno eatual na <strong>de</strong>terminação do ‘eu’ (...) é na fenomenologia da subjetivida<strong>de</strong> que permeia esustenta todos os seus po<strong>em</strong>as, <strong>em</strong> especial do 3º ciclo.” (MOISÉS, 1982, p. 6). Asubjetivida<strong>de</strong> <strong>em</strong> sua poesia é outro diferencial, <strong>de</strong>svincula-se do sentimentalismo eapresentando-se direcionada pela inteligência e pelo real. Este fato, segundo o autor,resulta <strong>em</strong> uma poesia <strong>de</strong>scritiva e não fotográfica. O olhar <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong> aproximaodos artistas plásticos, pois se atém a formas e cores e o objeto é captado pela sensação,ponto <strong>de</strong> partida para a fantasia poética. Moisés aproxima Cesário Ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bau<strong>de</strong>laire
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