13.07.2015 Views

Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

83Na seção final do po<strong>em</strong>a, Horas Mortas, a viag<strong>em</strong> noturna do sujeito líricolevou-o até o momento da escuridão mais profunda. As luzes da cida<strong>de</strong> já se apagaramtodas. A noite da cida<strong>de</strong> já não o esmaga <strong>em</strong>bora ainda se sinta enclausurado:O teto fundo <strong>de</strong> oxigênio, <strong>de</strong> ar,Esten<strong>de</strong>-se ao comprido, ao meio das trapeiras;Vêm lágrimas <strong>de</strong> luz dos astros com olheiras,Enleva-se a quimera azul <strong>de</strong> transmigrar.O visualismo da linguag<strong>em</strong> poética intensifica-se e antropomorfiza-se: os astrostêm olheiras e estão cansados <strong>de</strong> chorar lágrimas <strong>de</strong> luz. O <strong>de</strong>sejo do eu-lírico <strong>de</strong> fugirno espaço geográfico <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a primeira seção: Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, omundo - ou no t<strong>em</strong>po histórico – o passado heróico das crônicas navais, acentua-senuma ânsia metafísica <strong>de</strong> quebrar os limites do próprio ser e nas exclamações do poeta:“Por baixo, que portões! Que arruamentos!” É a cida<strong>de</strong> da sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> bloqueada(segunda estrofe) “Um parafuso cai nas lajes, às escuras: / Colocam-se taipais, rang<strong>em</strong>as fechaduras, / E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.”. Os <strong>de</strong>maispormenores da realida<strong>de</strong> observada confirmam a prisão fantasmagórica da cida<strong>de</strong>, numclima <strong>de</strong> terror. Clima que se quebra ao ouvir o som <strong>de</strong> uma flauta distante, que l<strong>em</strong>braa libertação associada ao campo (quarta estrofe), “Se eu não morresse, nunca! Eeternamente / Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas! / Esqueço-me a prevercastíssimas esposas, / Que aninh<strong>em</strong> <strong>em</strong> mansões <strong>de</strong> vidro transparente!”, levando-o àânsia espiritual da eternida<strong>de</strong> – a libertação da prisão final da morte: Se eu nãomorresse, nunca! E eternamente, / Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!.Na última estrofe da seção: “E, enorme, nesta massa irregular / De prédiossepulcrais, com dimensões <strong>de</strong> montes, / A Dor humana busca os amplos horizontes, / Et<strong>em</strong> marés, <strong>de</strong> fel, como um sinistro mar!”, o eu-lírico está perante o povo, a cida<strong>de</strong>massa irregular, os prédios sepulcrais e o mar. A Dor humana v<strong>em</strong> personificada,procurando saída para a situação. No horizonte o mar também é sinistro, uma saídanebulosa e incerta. Esse anseio da liberda<strong>de</strong>, t<strong>em</strong>a recorrente do po<strong>em</strong>a, é transformadonum programa <strong>de</strong> ação cujo caráter coletivo é acentuado pelo uso enfático do pronomenós. Dentro da cida<strong>de</strong> (ou da estrutura social), a renovação da vitalida<strong>de</strong> criadora é umaesperança imaginária. Cesário Ver<strong>de</strong> no século XIX vê o presente, o mundo que o cerca,e busca no passado inspiração, força para resgatar o momento presente <strong>em</strong> que estáimerso o hom<strong>em</strong> oci<strong>de</strong>ntal ao longo do po<strong>em</strong>a. Assim, o posicionamento <strong>de</strong> Cesário

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!