60po<strong>em</strong>as narrativos como “Don Juan” e os po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> flânerie <strong>de</strong> Bau<strong>de</strong>laire. Mario Higaapresenta-nos um percurso da obra <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong>:O primeiro Mo<strong>de</strong>rnista português que <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhou papel <strong>de</strong>cisivo noprocesso <strong>de</strong> redimensionamento crítico da poesia cesárica. Em 1912,Mário <strong>de</strong> Sá Carneiro publica Princípio, livro <strong>de</strong> contos. Uma dasestórias intitulada ‘Loucura...’ baseia-se no po<strong>em</strong>a ‘Ironias do<strong>de</strong>sgosto’, <strong>de</strong> Cesário. Dois anos <strong>de</strong>pois, à questão proposta pelojornal República sobre ‘o mais belo livro das últimas três décadas’,Mário <strong>de</strong> Sá Carneiro respon<strong>de</strong> citando a obra <strong>de</strong> Camilo Pessanha –ainda não reunida <strong>em</strong> volume, o Só, <strong>de</strong> Antônio Nobre, e o “livrofuturista Cesário Ver<strong>de</strong>” (2010, p. 23-24).O fazer poético <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong> constitui uma novida<strong>de</strong> para o momentohistórico, o que provoca um estranhamento <strong>em</strong> seus pares cont<strong>em</strong>porâneos. Assim,explica-nos Higa,O formalismo exigente, preciso, rigoroso, dotado <strong>de</strong> consciêncialinguística, senso <strong>de</strong> simetria, música <strong>de</strong> surdina, mas voltado para anatureza dinâmica da existência, e não frio, estéril, ensimesmado,ligou Cesário a certas tendências da poesia recente que valorizam ocerebral, o mat<strong>em</strong>ático, o engenhoso da forma, <strong>em</strong> que se acomodaconteúdo sensível, mas não sentimental. A ficcionalização da vozenunciante na poesia cesárica ajudou a <strong>de</strong>smantelar o mito dasincerida<strong>de</strong> lírica e com isso contribuiu para a formação <strong>de</strong> uma era daficção, ou era da precarieda<strong>de</strong>, <strong>em</strong> que todas as verda<strong>de</strong>s viv<strong>em</strong> sobcustódia da dúvida. Dessa forma, Cesário antecipou o Simbolismo,Fernando Pessoa, Álvaro <strong>de</strong> Campos, Alberto Caieiro, MuriloMen<strong>de</strong>s, João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto... E <strong>de</strong>sse modo, a obra cesáricafoi ampliando seu lugar canônico na literatura portuguesa. Cadaher<strong>de</strong>iro reconhecido vale um bônus; quanto mais valorizado oher<strong>de</strong>iro, mais valioso o bônus (2010, p. 27).Hom<strong>em</strong> ativo <strong>em</strong> seu t<strong>em</strong>po, o poeta se divi<strong>de</strong> entre o trabalho no campo, ocomércio e a literatura e <strong>em</strong> sua produção literária <strong>de</strong>monstra ser consciente dastransformações ocorridas no mundo. Não é só na linguag<strong>em</strong> poética que o poetaapresenta novida<strong>de</strong>, Cesário Ver<strong>de</strong> observa o que se passa ao seu redor e o revela <strong>de</strong>maneira única, <strong>em</strong> sua obra <strong>de</strong>nota-se o hom<strong>em</strong> do século XIX como é explicitado porBerman,Ao mesmo t<strong>em</strong>po o público mo<strong>de</strong>rno do século XIX ainda se l<strong>em</strong>brado que é viver, material e espiritualmente, <strong>em</strong> um mundo que nãochega a ser mo<strong>de</strong>rno por inteiro. É <strong>de</strong>ssa profunda dicotomia, <strong>de</strong>ssa
61sensação <strong>de</strong> viver <strong>em</strong> dois mundos simultaneamente que <strong>em</strong>erge e se<strong>de</strong>sdobra a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnismo e mo<strong>de</strong>rnização (1986, p. 16).Essa dicotomia soa mais forte na alma do artista, poeta que vê a cida<strong>de</strong> crescer e<strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência do progresso observa os probl<strong>em</strong>as que interfer<strong>em</strong> <strong>de</strong> vários modos navida do cidadão. Des<strong>de</strong> criança Cesário e sua família buscam refúgio e saú<strong>de</strong> no campo,fato marcante <strong>em</strong> sua obra literária, que apresenta o campo e a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maneirasdistintas e muitas vezes, marcadas por situações pertinentes à vida do poeta. O camporepresentado na poesia cesárica não é atacado <strong>de</strong> maneira negativa, não se apresentandonocivo ao hom<strong>em</strong>. No entanto, o eu-lírico sente os probl<strong>em</strong>as do campo. De acordo comBerman (1986, p. 18), “Todos gran<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnistas do século XIX atacam esseambiente com paixão, e se esforçam por fazê-lo ruir ou explorá-lo a partir do seuinterior [...]”.Esse ataque ao mundo campesino chega à poesia <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong> através dajocosida<strong>de</strong> e da ironia, conforme registra Higa (2010). A má recepção da obra do poetase <strong>de</strong>ve aos seus modos <strong>de</strong> leitura, que <strong>de</strong>veriam ter sido pela linha da ironia, para secompreen<strong>de</strong>r a grandiosida<strong>de</strong> e a antecipação artística <strong>de</strong> sua poética. Seus críticoscont<strong>em</strong>porâneos como Ramalho Ortigão (1836/1915), Teófilo Braga (1843/1924) eFialho <strong>de</strong> Almeida (1857/1911) não compreen<strong>de</strong>ram o sentido mais amplo da poesia <strong>de</strong>Cesário. Não se po<strong>de</strong> alegar, porém, que foi por <strong>de</strong>sencontro <strong>de</strong> gerações, porqueCesário era muito jov<strong>em</strong> quando ingressou no mundo literário e não havia muitadiferença <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> entre eles. Mesmo assim, <strong>de</strong> acordo com Higa (2010, p. 201), oscríticos estavam voltados para uma outra linha da poesia, na qual a ironia e o prosaísmonão eram cont<strong>em</strong>plados, além dos <strong>de</strong>mais el<strong>em</strong>entos que o tornaram precursor do ritmosimbolista. Deste modo, Cesário Ver<strong>de</strong> pertence a um período <strong>de</strong> transformações queinterfer<strong>em</strong> na vida das pessoas, on<strong>de</strong> há contradições e dúvidas, como é ressaltado porBerman,Nossos pensadores do século XIX eram simultaneamente entusiastas einimigos da vida mo<strong>de</strong>rna, lutando <strong>de</strong>sesperados contra suasambiguida<strong>de</strong>s e contradições, sua auto-ironia e suas tensões íntimasconstitu<strong>em</strong> as fontes primárias <strong>de</strong> seu po<strong>de</strong>r criativo (1986, p. 23 - 24).
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