26Os homens s<strong>em</strong>pre utilizaram sinais e símbolos com funções e perspectivasvariadas, tais como os i<strong>de</strong>ogramas egípcios, cuja escrita se afasta progressivamente dofigurativo e os signos se linearizam e adquir<strong>em</strong> cada vez mais um caráter simplificado eabstrato. Gombrich analisa essa ocorrência ligando as representações dos povosprimitivos ao artista:Po<strong>de</strong> parecer que isso t<strong>em</strong> pouco a ver com arte, mas o fato é queessas condições influenciam a arte <strong>de</strong> muitas maneiras. Muitas obras<strong>de</strong> artistas <strong>de</strong>stinam-se a <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar um papel nesses estranhosrituais, e nesse caso o que importa não é a beleza da pintura ouescultura po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sincumbir-se da mágica requerida. Além disso, osartistas trabalham para gente da sua própria tribo, que sabe exatamenteo que cada forma ou cada cor preten<strong>de</strong> significar. Não se espera queeles mu<strong>de</strong>m tais coisas, mas apenas que apliqu<strong>em</strong> toda a suahabilida<strong>de</strong> e saber na execução <strong>de</strong>sse trabalho. (2009, p. 43).Para o historiador, enten<strong>de</strong>r a arte como “espécie <strong>de</strong> belo artigo <strong>de</strong> luxo” é um<strong>de</strong>senvolvimento recente. Pintores, escultores e construtores do passado não pensavamassim. Consi<strong>de</strong>rava-se o princípio da utilida<strong>de</strong>: “Quanto mais recuamos na história,mais <strong>de</strong>finidas, mas também mais estranhas são as finalida<strong>de</strong>s se crê ser<strong>em</strong> servidas pelaarte” (GOMBRICH, 2009, p. 39).Gonçalves (1994, p.17) aponta casos <strong>em</strong> que o artista plástico ilustra o textoliterário ou o escritor se inspira nas artes plásticas. Há fatos mais raros <strong>em</strong> que o escritortambém é pintor, confirmando que poetas e pintores realizam-se também por inspiraçãoda arte vizinha. Cesário Ver<strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plifica essa i<strong>de</strong>ia, revelando-se um poeta que criaverda<strong>de</strong>iras aquarelas poéticas <strong>em</strong> seus po<strong>em</strong>as. Seu leitor é capaz <strong>de</strong> visualizar a cena<strong>de</strong>scrita no texto pela força imagética <strong>de</strong> suas palavras, como nos versos do po<strong>em</strong>a“Cristalizações”, produzido entre 1877 e 1880, pertencente ao terceiro ciclo, segundoMoisés (1982):Faz frio. Mas <strong>de</strong>pois duns dias <strong>de</strong> aguaceiros,Vibra uma imensa clarida<strong>de</strong> crua.(...)Negrejam os quintais, enxuga a alvenaria;Em arco, s<strong>em</strong> as nuvens flutuantes,O céu renova a tinta corredia;E os charcos brilham tanto, que eu diriaTer ante mim lagoas <strong>de</strong> brilhantes!(...).(VERDE, Cesário, 1982, p. 67-68)
27Nesses versos, há referências à paisag<strong>em</strong> envolvendo a passag<strong>em</strong> do t<strong>em</strong>pocronológico e também às condições climáticas. (“Faz frio. Mas <strong>de</strong>pois duns dias <strong>de</strong>aguaceiros,”). Há o po<strong>de</strong>r dos adjetivos expressivos; imensa clarida<strong>de</strong> crua, b<strong>em</strong> comoos verbos expressivos: Vibra, além do visualismo nos versos “O céu renova a tintacorredia”; lagoas <strong>de</strong> brilhantes, recursos que reproduz<strong>em</strong> o brilho, a leveza <strong>de</strong> umamanhã clara <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> dias chuvosos. A visão plástica do poeta é a qualida<strong>de</strong>predominante na sua organização lírica, no seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> associar imagens visuais pormeio <strong>de</strong> uma linguag<strong>em</strong> impressionista.Historicamente, <strong>de</strong> acordo com Gonçalves (1994, p. 19), essa relação da poesiacom a pintura foi recuperada no Renascimento, assumindo uma crescente visibilida<strong>de</strong>do ponto <strong>de</strong> vista teórico ao longo da história mo<strong>de</strong>rna da literatura e da arte. Nosséculos XVI, XVII e XVIII, a polêmica <strong>em</strong> torno do t<strong>em</strong>a cresceu, abrandando-sesomente no século XIX. Essa discussão foi retomada com gran<strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> no séculoXX. Muitos trabalhos abordaram as questões analógicas entre as artes, alguns <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>complexida<strong>de</strong> teórica, outras discutindo questões básicas, mas que continuaramcausando polêmica. São apontados por Gonçalves,Dentre outras, existe uma causa que se torna obstáculo para o processoevolutivo das discussões: as ten<strong>de</strong>nciosas abordagens que privilegiamora o texto, ora a imag<strong>em</strong>, algumas vezes forjam correspondências,elevando-as ao nível <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação, o que parece negativo para averda<strong>de</strong>ira compreensão das possíveis relações. Outras vezes, e <strong>de</strong>modo inverso, uma espécie <strong>de</strong> visão restrita das coisas, fundida àerudição normativa e categórica, interfere no fluxo livre do olho e damente <strong>de</strong> alguns estudiosos, que ten<strong>de</strong>m a fazer retroce<strong>de</strong>r omovimento evolutivo (1994, p, 19-20).Esclarece-nos Gonçalves que “Na verda<strong>de</strong>, a pintura nunca atingiu i<strong>de</strong>ntificaçãoconsigo mesma tão intensa como <strong>em</strong> nosso século, o mesmo acontecendo com a poesia,e paradoxalmente, nunca essas duas estiveram tão próximas (1994, p.20).” Ao longo dot<strong>em</strong>po consi<strong>de</strong>rou-se o artista um trabalhador manual e muitos são os que tentaramimprimir um caráter científico ao seu trabalho, como ex<strong>em</strong>plo, Leonardo Da Vinci <strong>em</strong>Paragone: Uma Comparação das Artes, cotejando pintores e poetas, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a i<strong>de</strong>ia<strong>de</strong> que a pintura e a escultura eram artes teóricas. Com essa afirmação Da Vinci tentava<strong>de</strong>sfazer a concepção antiga <strong>de</strong> artesanal ou “ofício manual”. A representação da formano <strong>de</strong>senho imprime o caráter intelectual na percepção visual. Com a técnica do olharocorre o processo analítico <strong>de</strong> interpretação e i<strong>de</strong>ntificação elaborado pela capacida<strong>de</strong>
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