76ao relacioná-lo com a abdicação do sentimentalismo pessoal, mas ressalta que o poetanão é tão extr<strong>em</strong>ado, pois <strong>em</strong> sua poesia há traços biográficos e <strong>de</strong> circunstânciaspessoais. O pe<strong>de</strong>stre na poesia <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong> não fica distante da população,distância que não ocorre <strong>de</strong>vido ao recurso do coloquialismo e do cotidiano apresentadopelo poeta. Moisés (1982) o conceitua como possuidor <strong>de</strong> uma voz móvel, outroel<strong>em</strong>ento que o liga à estética impressionista.Danilo Lôbo (1999) divi<strong>de</strong> a obra poética <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong> <strong>em</strong> duas vertentest<strong>em</strong>áticas, a dos po<strong>em</strong>as urbanos e a dos po<strong>em</strong>as campestres, subdivididas <strong>em</strong> duassubvertentes: po<strong>em</strong>as pré-impressionistas e po<strong>em</strong>as impressionistas. Aponta, porém, umterceiro grupo <strong>de</strong> poesia, <strong>de</strong>nominado “neutro”, e justifica a classificação tripartida aocitar a coerência com sua exposição e a leitura cronológica que permite observar aevolução do poeta <strong>em</strong> relação ao estilo e à estética.Partimos da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que, ao longo do percurso da humanida<strong>de</strong>, houve muitasmudanças que se fizeram profundamente perturbadoras a partir do século XVIII. Essasmudanças ating<strong>em</strong> o hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> todos os sentidos. Marshall Berman <strong>em</strong> sua obra Tudoque é sólido <strong>de</strong>smancha no ar (1986), <strong>de</strong>fine o conjunto <strong>de</strong> experiências como“mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>” e que ser mo<strong>de</strong>rno é encontrar-se <strong>em</strong> um ambiente que prometeaventura, po<strong>de</strong>r, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas aoredor, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que ameaça <strong>de</strong>struir tudo o que sab<strong>em</strong>os, ou o que somos,quebrando fronteiras ambientais, geográficas, raciais e unindo a espécie humana. Estaunida<strong>de</strong> é paradoxal e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sunida<strong>de</strong>, pois permanent<strong>em</strong>ente nos apresenta<strong>de</strong>sintegração e mudança, luta e contradição <strong>de</strong> ambiguida<strong>de</strong> e angústia.Berman (1986) explica que na esperança <strong>de</strong> ter controle sobre algo tão vastoquanto a história da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, para sua melhor compreensão, ela foi dividida <strong>em</strong>três fases. Na primeira fase, do início do século XVI até o fim do século XVIII, aspessoas começam a experimentar a vida mo<strong>de</strong>rna, s<strong>em</strong> noção do que as atinge,permanecendo <strong>em</strong> estado <strong>de</strong> s<strong>em</strong>i-cegueira, tendo pouco ou nenhum senso <strong>de</strong> umpúblico ou <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, s<strong>em</strong> que seus julgamentos e suas esperançaspu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> ser compartilhados. A segunda fase inicia-se com a gran<strong>de</strong> ondarevolucionária <strong>em</strong> 1790. Com a Revolução Francesa e suas reverberações, ganha vidaum gran<strong>de</strong> público que partilha o sentimento <strong>de</strong> viver uma era revolucionária <strong>em</strong> que se<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam explosivas convulsões <strong>em</strong> todos os níveis <strong>de</strong> vida pessoal e política. O
77público mo<strong>de</strong>rno do século XIX registra o que é viver, material e espiritualmente, <strong>em</strong>um mundo que não chega a ser mo<strong>de</strong>rno por inteiro. Dessa dicotomia e da sensação <strong>de</strong>viver <strong>em</strong> dois mundos simultaneamente é que <strong>em</strong>erge e se <strong>de</strong>sdobra a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>mo<strong>de</strong>rnismo e <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização.A terceira fase refere-se ao século XX, quando o processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização seexpan<strong>de</strong> a ponto <strong>de</strong> abarcar virtualmente o mundo todo, e a cultura mundial domo<strong>de</strong>rnismo <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento atinge espetaculares triunfos na arte e no pensamento.Por outro lado, <strong>de</strong> acordo com Berman, à medida que se expan<strong>de</strong>, essa i<strong>de</strong>ia, o públicomo<strong>de</strong>rno se multiplica <strong>em</strong> uma multidão <strong>de</strong> fragmentos, que fala linguagensconfi<strong>de</strong>nciais; a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, concebida <strong>em</strong> inúmeros e fragmentárioscaminhos, per<strong>de</strong> muito <strong>de</strong> sua niti<strong>de</strong>z, ressonância e profundida<strong>de</strong> e isso arrasta suacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organizar e dar sentido à vida das pessoas. Em consequência disso,encontramo-nos hoje <strong>em</strong> meio a uma era mo<strong>de</strong>rna que per<strong>de</strong>u contato com as raízes <strong>de</strong>sua própria mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.Cesário Ver<strong>de</strong> se encontra no período <strong>em</strong> que o hom<strong>em</strong> está dividido, pois elet<strong>em</strong> a experiência <strong>de</strong> viver nos dois mundos, como apontado por Berman (1986), ummundo que não é mo<strong>de</strong>rno por inteiro. Expressando-se por outras palavras, Joel Serrãose aproxima do pensamento <strong>de</strong> Berman <strong>em</strong> relação ao sentimento do eu lírico quandoele afirma: “O sentimento dum Oci<strong>de</strong>ntal é, pois, expressão <strong>de</strong>ssa vivênciacaracteristicamente citadina; é um momento <strong>de</strong> um conflito que v<strong>em</strong> <strong>de</strong> trás, e que setraduz agora pelo predomínio da experiência urbana e dos seus probl<strong>em</strong>as.” (SERRÃO,1961, p. 99).4.2 O SENTIMENTO DUM OCIDENTAL - o olhar <strong>de</strong> Cesário sobre a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>LisboaO po<strong>em</strong>a O Sentimento dum Oci<strong>de</strong>ntal 8 foi publicado pela primeira vez <strong>em</strong> 10 <strong>de</strong>junho <strong>de</strong> 1880, quando o poeta tinha 25 anos e pleno domínio do exercício poético. Deacordo com Higa (2010, p.205-206), a publicação ocorreu <strong>em</strong> um número extraordináriodo periódico portuense Jornal <strong>de</strong> Viagens, <strong>em</strong> homenag<strong>em</strong> ao tricentenário da morte <strong>de</strong>8 O texto completo está disponível na seção Anexos <strong>de</strong>ssa dissertação.
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