110falta <strong>de</strong> incentivo fiscal, técnicas agrícolas <strong>de</strong>fasadas, entre outros probl<strong>em</strong>as queating<strong>em</strong> do fazen<strong>de</strong>iro ao jornaleiro, aquele que trabalha por uma diária na roça. Nestasubseção, o sentido do pronome “nós” é ampliado para além do microcosmo da família,esten<strong>de</strong>ndo-se ao agricultor português como nos versos: A nós tudo nos rouba e nosdizima; (...) Compet<strong>em</strong> contra os nossos fazen<strong>de</strong>iros (...) Por uma cotação que nos<strong>de</strong>svia! (...) Nós não viv<strong>em</strong>os só <strong>de</strong> coisas belas (...) Somos fortes! As nossas energias /Tudo venc<strong>em</strong> e domam muito b<strong>em</strong>! Observamos que o probl<strong>em</strong>a maior é aquele que nãot<strong>em</strong> cura, como a cólera e a tuberculose que ating<strong>em</strong> sua família. Assim, o pronome“nós” adquire um amplo sentido dos probl<strong>em</strong>as universais da saú<strong>de</strong> pública e dotrabalho rural.O prosaísmo é uma marcante característica da produção poética <strong>de</strong> CesárioVer<strong>de</strong>. O título Nós, autobiográfico, <strong>em</strong>prega o recurso da m<strong>em</strong>ória e tornam-seinevitáveis <strong>de</strong>terminados posicionamentos e o <strong>em</strong>prego <strong>de</strong> recursos da oralida<strong>de</strong>, b<strong>em</strong>como a pontuação e outros recursos utilizados pelo poeta. Tanto no passado como nopresente ocorr<strong>em</strong> as doenças e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fuga para o campo. As imagenspoéticas representam a visão <strong>de</strong> amor, <strong>de</strong> respeito ao campo, consciente <strong>de</strong> todos os seusprobl<strong>em</strong>as. Por meio <strong>de</strong> imagens poéticas e plásticas, o poeta assim como o pintorretrata o campo nos versos e nas telas. Camille Pissarro nas telas As encostas <strong>de</strong> Vesinet(18710 e A horta <strong>em</strong> Hermitage, Pontoise (1879) apresenta, a seguir, sua visão docampo.4.4.1 O olhar <strong>de</strong> Camille Pissarro sobre o campoAs telas representantes do campo, <strong>de</strong> Camille Pissarro, escolhidas para ser<strong>em</strong>comparadas com o po<strong>em</strong>a Nós (1884) são As Encostas <strong>de</strong> Vesinet Yvelines (1871) eHorta <strong>em</strong> Hermitage, Pontoise (1879). Seguindo o plano metodológico parainterpretação <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> arte estabelecido por Rufach, Pena e Toá, (1990, p.23/28),dois segmentos são importantes para análise das telas, o primeiro trata das investigaçõestécnicas e formais do trabalho e o segundo, do conteúdo social.Quanto às investigações técnicas formais, <strong>em</strong> ambas as telas o material<strong>em</strong>pregado é a tinta a óleo. O procedimento técnico utilizado para a primeira tela é atécnica impressionista. Conforme Doeser, “De vez <strong>em</strong> quando, Pissarro parece ter
111especialmente apreciado sua pura virtuosida<strong>de</strong> técnica ao retratar vastas paisagenspanorâmicas” (2007, p. 16).Figura 22. PISSARRO, Camille. As Encostas <strong>de</strong> Vesinet (apud DOESER, 2007, p. 16/17).Na tela Horta <strong>em</strong> Hermitage, (1879) há uma combinação da técnicaimpressionista e do pontilhismo, também observada por Doeser, “As muitas tonalida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> ver<strong>de</strong> são aplicadas com a técnica <strong>de</strong> “pontilhamento”, favorita <strong>de</strong> Pissarro, com oresultado <strong>de</strong> que a folhag<strong>em</strong> viçosa parece ter sido gentilmente sacudida por umainvisível brisa <strong>de</strong> verão (2007, p. 40).” Esta distinção, do mesmo modo, é ressaltada napaisag<strong>em</strong> da primeira tela como se foss<strong>em</strong> manchas e na segunda, o espectador t<strong>em</strong> asensação <strong>de</strong> movimento da paisag<strong>em</strong> provocada pela técnica do pontilhismo.
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