62O que se configura na poesia <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong> e <strong>em</strong> seu caminho (daí aconfirmação <strong>de</strong> uma poesia <strong>de</strong>ambulatória) é o que ele vê e sente, sua sensibilida<strong>de</strong>poética registra a realida<strong>de</strong> do momento – o século XIX por meio <strong>de</strong> sua lírica. Assim,resulta <strong>em</strong> uma poesia que causa no mínimo estranhamento aos portugueses daquel<strong>em</strong>omento e ao estudar o gênero lírico compreen<strong>de</strong>-se a grandiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse t<strong>em</strong>po, <strong>em</strong>que Cesário Ver<strong>de</strong> consiste <strong>em</strong> um gran<strong>de</strong> diferencial da poesia portuguesa para além <strong>de</strong>seu momento.3.3 O GÊNERO LÍRICO E SEU DESDOBRAMENTO HISTÓRICOEstudar a poesia <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong> significa estudar um texto especial. Para quea leitura se concretize, é preciso revisar textos teóricos que reflet<strong>em</strong> sobre as questões<strong>de</strong> gênero literário, a lírica e suas implicações, permitindo-nos conhecer, mesmo quebrev<strong>em</strong>ente, o panorama histórico que trata do assunto.A palavra lirismo origina-se <strong>de</strong> lira, instrumento musical, consi<strong>de</strong>rando que apoesia <strong>em</strong> seu início <strong>de</strong>stinava-se a ser cantado com o acompanhamento instrumental <strong>de</strong>cordas da lira, inspirado <strong>em</strong> Orfeu, “A figura mitológica <strong>de</strong> Orfeu, legendário inventorda cítara, que serviu <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo à voz encarnada que encanta a natureza e seduz osanimais.” (STALLONI, 1997, p. 150/151). No sentido mo<strong>de</strong>rno lirismo é a expressãopessoal da <strong>em</strong>oção por vias ritmadas e musicadas (STALLONI, 1997, p. 151). Assim,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros apontamentos sobre a lírica, observa-se sua associação à música, oque permite a transcendência espiritual do leitor. Com o afastamento doacompanhamento dos instrumentos musicais, fica a sonorida<strong>de</strong> representada pelas rimase pelo ritmo. A musicalida<strong>de</strong> permite ao leitor a elevação do espírito e a imaginaçãoconstrói as imagens suscitadas pelo po<strong>em</strong>a, <strong>de</strong> tal modo que seu percurso histórico élongo.A questão entre poesia e teoria é dividida <strong>em</strong> quatro momentos por AlmeidaCara (1986, p.5): a Antiguida<strong>de</strong> Clássica e sua releitura pelo Renascimento (séculos XVe XVI), o período do Romantismo (contando seus momentos preparatórios na primeirameta<strong>de</strong> do século XIX); o período mo<strong>de</strong>rno; e a consciência mo<strong>de</strong>rna (<strong>de</strong>lineada <strong>em</strong> finsdo século XIX). Des<strong>de</strong> a Antiguida<strong>de</strong> a poesia está ligada à música. Com oRenascimento, os neoclássicos apresentam uma releitura da Poética <strong>de</strong> Aristóteles
63dando importância aos esqu<strong>em</strong>as classificatórios: “a teoria da poética neoclássica não ésuficiente para dar conta da qualida<strong>de</strong> poética dos melhores poetas líricosrenascentistas.” (CARA, 1989, p.6). Assim, enten<strong>de</strong>mos que cada período, seja nocampo artístico, na ciência ou na tecnologia, possui características próprias, <strong>em</strong> algunsmomentos mais fortes, distanciando-se mais ou menos daquilo que está vigente <strong>em</strong> seut<strong>em</strong>po, s<strong>em</strong>pre se relacionando ao gênero.No período romântico culminam muitos acontecimentos, o que o torna um dosmais <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>áticos da história do hom<strong>em</strong>, pois está ligado a acontecimentos históricoscomo a Revolução Francesa, provocando mudanças <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m social e fortalecendo asocieda<strong>de</strong> burguesa. O mundo estava passando por avanços industriais, tecnológicos ecientíficos. Segundo Cara, “A poesia lírica adquire durante o período romântico umprestígio inusitado” (1989, p.6). Este é um momento <strong>em</strong> que o poeta está <strong>em</strong> crise <strong>em</strong>relação à função da poesia <strong>em</strong> um mundo <strong>em</strong> ebulição.Não é possível classificar rigidamente hoje os gêneros <strong>em</strong> lírico, épico edramático, pois a disposição genérica não mais aten<strong>de</strong> às propostas <strong>de</strong> cada texto.Alguns teóricos se posicionam <strong>em</strong> relação aos gêneros <strong>de</strong> maneira distinta. De acordocom Cara (1989, p. 31-32), Johann Gottfried Her<strong>de</strong>r (1741-1803), filósofo al<strong>em</strong>ão, foi oprimeiro que rompeu com o pensamento neoclássico. Her<strong>de</strong>r rejeita a classificação porgênero, fundindo o que <strong>em</strong> Aristóteles era separado, os gêneros lírico, dramático e aepopéia. Bene<strong>de</strong>tto Croce (1886-1952), por sua vez, <strong>de</strong>sprezava a abordag<strong>em</strong> científica:ao invés do gênero como mo<strong>de</strong>lo, posicionava <strong>em</strong> primeiro lugar a concepção <strong>de</strong> cadaobra <strong>de</strong> arte como expressão única e insubstituível. Interessava-lhe os objetos reais, ostextos, o gosto do leitor e não o conceito <strong>de</strong> gênero, suportável apenas enquantoinstrumento <strong>em</strong>pírico <strong>de</strong> classificação.Ambos, Cara (1989) e Stalloni (2001), apontam o fato <strong>de</strong> Bene<strong>de</strong>tto Croce sercontra a classificação do gênero. Stalloni (2001, p. 26) argumenta que “combina uma<strong>de</strong>saprovação i<strong>de</strong>ológica (o aspecto normativo e prescritivo da tría<strong>de</strong>) e uma<strong>de</strong>saprovação estética (a limitação retórica do mo<strong>de</strong>lo)”. No entanto, para entrar <strong>em</strong><strong>de</strong>talhe <strong>de</strong>sse posicionamento haveria necessida<strong>de</strong>, segundo Stalloni, <strong>de</strong> “inventariar e<strong>de</strong>screver o modo <strong>de</strong> classificação utilizado e as construções teóricas que eles <strong>de</strong>corr<strong>em</strong>
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