100Na segunda estrofe, da parte I do po<strong>em</strong>a “Nós”, os versos Ora, meu pai, <strong>de</strong>poisdas nossas 11 vidas salvas / (Até então nós só tivéramos sarampo),/ Tanto nos viucrescer entre uns montões <strong>de</strong> malvas / Que ele ganhou por isso um gran<strong>de</strong> amor aocampo! retratam metonimicamente a família <strong>de</strong> agricultores, b<strong>em</strong> como o terceiro versoda décima segunda estrofe, (...) somos provincianos, / Des<strong>de</strong> o calor <strong>de</strong> Maio aos frios<strong>de</strong> Nov<strong>em</strong>bro. Do mesmo modo, na quinta subseção, oitava estrofe, quarto verso: Àsnossas tecelagens e moinhos! há uma ampliação <strong>de</strong> sentido do pronome possessivo“nossa” para referir-se às tecelagens e moinhos do país, esten<strong>de</strong>ndo-se para o povoportuguês.Para a crítica especializada o po<strong>em</strong>a “Nós” é um referencial na obra <strong>de</strong> CesárioVer<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rando que o poeta só havia usado o recurso da m<strong>em</strong>ória no po<strong>em</strong>a EmPetiz (1879), na parte I, primeira estrofe, terceiro e quarto versos: E eu, nesse t<strong>em</strong>po, um<strong>de</strong>stro e bravo rapazito, / Como um homenzarrão servi-lhe <strong>de</strong> barreira!. No po<strong>em</strong>a“Nós”, além do recurso <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória, o poeta apresenta certa tendência autobiográfica aoapresentar a situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero e <strong>de</strong> fuga das pessoas da capital provocada pordoenças como a febre e o cólera: Foi <strong>em</strong> dois verões, seguidamente, a Febre / E oCólera também andaram na cida<strong>de</strong>, / Que esta população, com um terror <strong>de</strong> lebre, /Fugiu da capital como da t<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong>.As doenças personificadas por letras maiúsculas receb<strong>em</strong> atitu<strong>de</strong>s humanas,“andaram pela cida<strong>de</strong>”. Há também nessa estrofe a comparação do medo das pessoascom o pânico das lebres no verso “com um terror <strong>de</strong> lebre” e na segunda parte dopo<strong>em</strong>a, na subseção cinco, décima sétima estrofe, quarto verso: “Comes com bestialsofreguidão!...” o poeta relaciona o ato <strong>de</strong> comer, na expressão “bestial sofreguidão”,ambas as comparações r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> ao Naturalismo, ao relacionar atos humanos aos <strong>de</strong>animais.Na sexta estrofe são apresentadas as causas dos focos <strong>de</strong> doenças, expondo asituação precária <strong>de</strong> higiene que obriga a população a cumprir um triste itinerário: omédico, o padre e o coveiro:S<strong>em</strong> canalizações, <strong>em</strong> muitos burgos ermos,11 Grifos nossos.
101Secavam <strong>de</strong>jeções cobertas <strong>de</strong> mosqueiros.E os médicos, ao pé dos padres e coveiros,Os últimos fiéis, tr<strong>em</strong>iam dos enfermos!.Depreen<strong>de</strong>-se dos versos que o cenário na cida<strong>de</strong> é <strong>de</strong> terror e a única alternativaera a transferência para o campo:Uma iluminação a azeite <strong>de</strong> purgueira,De noite amarelava os prédios macilentos.Barricas <strong>de</strong> alcatrão ardiam. De maneiraQue tinham tons <strong>de</strong> inferno outros arruamentos.Porém, lá fora, à solta, exageradamente,Enquanto acontecia essa calamida<strong>de</strong>,Toda a vegetação, pletórica, potente,Ganhava imenso com a enorme mortanda<strong>de</strong>1e pelo campo:O eu-lírico, a seguir, <strong>de</strong>clara o amor e o respeito que o seu pai sente pela famíliaPor isso, o chefe antigo e bom da nossa casa,Triste <strong>de</strong> ouvir falar <strong>em</strong> órfãos e <strong>em</strong> viúvas,E <strong>em</strong> permanência olhando o horizonte <strong>em</strong> brasa,Não quis voltar senão das gran<strong>de</strong>s chuvas.O amor e o respeito pelo campo são revelados na última estrofe da seçãoE o campo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, segundo o que me l<strong>em</strong>bro,É todo o meu amor <strong>de</strong> todos estes anos!Nós vamos para lá; somos provincianos,Des<strong>de</strong> o calor <strong>de</strong> Maio aos frios <strong>de</strong> Nov<strong>em</strong>bro!Encerra-se, assim, a primeira seção (ou parte) do po<strong>em</strong>a. A cida<strong>de</strong>, cenáriocaótico, representa morte e doença e, as epi<strong>de</strong>mias se alastram e matam as pessoas,paralisando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o transporte ao comércio e a solução é retirar-se com a família para ocampo. A linguag<strong>em</strong> plástica nos versos do po<strong>em</strong>a Nós é uma constante. Ao <strong>de</strong>screver asituação que se encontrava a cida<strong>de</strong>, observamos o <strong>em</strong>prego do cromático paraevi<strong>de</strong>nciar a calamida<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong> comparada ao inferno: iluminação a azeite;amarelava os prédios macilentos; Barricas (...) ardiam; tons d’ inferno. Com uma visão
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