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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

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59Os revolucionários perceberam que o lirismo satânico é tão convencional e,portanto, artificial quanto os praticados pelos ultrarromânticos faltando <strong>em</strong> ambos asincerida<strong>de</strong> revolucionária que <strong>em</strong> tese combate o artifício, educa a sensibilida<strong>de</strong> e, porconseguinte, auxilia na edificação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> menos hipócrita e mais justa.Cesário Ver<strong>de</strong> não pretendia ser hipócrita e sim revolucionário, ou ao menos afinar-secom os revolucionários que admirava. Por influência <strong>de</strong> Bau<strong>de</strong>laire, o poeta incorporouno po<strong>em</strong>a “Esplêndida” os recursos próprios da prosa <strong>de</strong> ficção realista. O principal<strong>de</strong>les é a “disparida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão” entre personagens, narrador, leitor e autor queprovoca o efeito irônico. Nesse sentido, po<strong>de</strong>-se afirmar que Ramalho Ortigão leu comagu<strong>de</strong>za os excessos <strong>de</strong> mau gosto que o po<strong>em</strong>a <strong>de</strong>screve, mas não enten<strong>de</strong>u, ourecusou-se a enten<strong>de</strong>r o viés irônico pelo qual o autor (ou a consciência manipuladorados recursos textuais) critica esses mesmos excessos. Higa (2010) confirma <strong>em</strong> seusapontamentos, com estrofes do po<strong>em</strong>a, explicando aspectos <strong>em</strong> que a composição émais bau<strong>de</strong>lairiana que byroniana. Bau<strong>de</strong>laire cultivou um tipo <strong>de</strong> enunciado poético <strong>em</strong>que certas tendências reclamavam dois <strong>de</strong>stinatários ou leitores i<strong>de</strong>ais, um conservadore outro liberal. Conclui-se que Cesário leu Bau<strong>de</strong>laire com mais amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>compreensão que os revolucionários que buscavam aproximar-se ao poeta francês. Masfoi lido <strong>de</strong> modo equivocado por eles, como Higa esclarece,Dizer, pois, que “Esplêndida” foi lida <strong>de</strong> modo equivocado nãoequivale a afirmar que Ramalho e Teófilo não compreen<strong>de</strong>ram opo<strong>em</strong>a; simplesmente, eles leram com parâmetros hugoanos, umpo<strong>em</strong>a que foi escrito para ser lido com critérios bau<strong>de</strong>lairianos, osmesmos, aliás, utilizados pela crítica no século XX (2010, p. 44).Depreen<strong>de</strong>-se que o crítico faz a distinção entre prosaísmo lírico e po<strong>em</strong>anarrativo. Afirma que a poesia <strong>de</strong> Cesário assimila e manipula recursos típicos da prosa<strong>de</strong> ficção, sobretudo a realista: sujeito lírico ficcional, personagens, espaço e t<strong>em</strong>po<strong>de</strong>marcados, ação narrativa, estilização da linguag<strong>em</strong> coloquial, enunciado que reclamaleitura irônica, motivos cotidianos e imanentismo imagético. Esses aspectos estãoassociados ao conceito <strong>de</strong> prosaísmo, termo crítico reduzido à dimensão sintáticolexical(coloquialismo). O lirismo prosaico é um gênero híbrido que busca produzirefeito <strong>de</strong> subjetivação sentimental, por meio <strong>de</strong> recursos prosaicos, <strong>em</strong> particular a açãonarrativa. Seus precursores imediatos no século XIX são, sobretudo, o Byron irônico <strong>de</strong>

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