58De forma aprimorada.E eu vou acompanhando-a, corcovado,No trottoir, como um doido, <strong>em</strong> convulsões,Febril, <strong>de</strong> colarinho amarrotado,Desejando o lugar dos seu truões,Sinistro e mal trajado.E daria, contente e voluntário,A minha in<strong>de</strong>pendência e o meu porvir,Para ser, eu poeta solitário,Para ser, ó princesa s<strong>em</strong> sorrir,Teu pobre trintanário.E aos almoços magníficos do MataPreferiria ir, fardado, aí,Ostentando galões <strong>de</strong> velha prata,E <strong>de</strong> costas voltada para ti,Formosa aristocrata! (DAUNT, 2006, p. 77)De forma sumária Higa transcreve as críticas produzidas por Ramalho Ortigão<strong>em</strong> As Farpas, 1874, p. 78-79, apresentado aqui somente a primeira parte <strong>de</strong> cincoetapas da crítica proferida por Ramalho Ortigão,1. Nas duas primeiras estrofes, (a) “o poeta abusa um pouco dosadornos com que veste sua dama, já envolvendo-a <strong>em</strong> sedasmulticores, o que é <strong>de</strong> um mal gosto inadmissível, já fazendo-aportadora dos esplendores <strong>de</strong> Versailles, don<strong>de</strong> é lícito <strong>de</strong>duzirmosque traria à cabeça o Trianon ou que viria <strong>de</strong>ntro da carruag<strong>em</strong>fazendo jogar as suas gran<strong>de</strong>s águas”; (b) o Landau que leva a“esplendida” é “forrado <strong>de</strong> cetim ‘azul celeste’, coisa que nuncaninguém teve e que a ninguém se permite”; (c) os cavalos que puxamo Landau da formosa “são pretos, o que é <strong>de</strong> saber que nenhumamulher elegante usa senão uma vez única – para se ir enterrar”; (d)“<strong>de</strong>stes versos salva-se unicamente uma coisa verda<strong>de</strong>ira e sensata,que é a rua do Alecrim (p. 80), <strong>completa</strong> o cronista num elogio<strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhoso (apud HIGA, 2010, p. 34).Nesse contexto, Cesário Ver<strong>de</strong> adotou o estilo <strong>de</strong> João Penha, poeta parnasianoque combinava uma série <strong>de</strong> estil<strong>em</strong>as românticos e a ironia prosaica <strong>de</strong>corrente doRomantismo, um realista no sentido satírico do termo. Higa (2010) discorre sobre anoção <strong>de</strong> satanismo aplicada à poesia no século XIX, implicando i<strong>de</strong>ias como prosaísmoe, sobretudo, o uso da ironia corrosiva, dandismo, flânerie, representação do espaçourbano, apego ao contingente cotidiano e material, abatimento e tensão psicológica,frieza <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e perversão moral. Apresenta, ainda, a crítica negativa produzidapor Ramalho Ortigão, acusando Cesário <strong>de</strong> usar o estilo <strong>de</strong> Bau<strong>de</strong>laire e a difusão dosatanismo ou “realismo bau<strong>de</strong>lairiano” entre os novos poetas portugueses.
59Os revolucionários perceberam que o lirismo satânico é tão convencional e,portanto, artificial quanto os praticados pelos ultrarromânticos faltando <strong>em</strong> ambos asincerida<strong>de</strong> revolucionária que <strong>em</strong> tese combate o artifício, educa a sensibilida<strong>de</strong> e, porconseguinte, auxilia na edificação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> menos hipócrita e mais justa.Cesário Ver<strong>de</strong> não pretendia ser hipócrita e sim revolucionário, ou ao menos afinar-secom os revolucionários que admirava. Por influência <strong>de</strong> Bau<strong>de</strong>laire, o poeta incorporouno po<strong>em</strong>a “Esplêndida” os recursos próprios da prosa <strong>de</strong> ficção realista. O principal<strong>de</strong>les é a “disparida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão” entre personagens, narrador, leitor e autor queprovoca o efeito irônico. Nesse sentido, po<strong>de</strong>-se afirmar que Ramalho Ortigão leu comagu<strong>de</strong>za os excessos <strong>de</strong> mau gosto que o po<strong>em</strong>a <strong>de</strong>screve, mas não enten<strong>de</strong>u, ourecusou-se a enten<strong>de</strong>r o viés irônico pelo qual o autor (ou a consciência manipuladorados recursos textuais) critica esses mesmos excessos. Higa (2010) confirma <strong>em</strong> seusapontamentos, com estrofes do po<strong>em</strong>a, explicando aspectos <strong>em</strong> que a composição émais bau<strong>de</strong>lairiana que byroniana. Bau<strong>de</strong>laire cultivou um tipo <strong>de</strong> enunciado poético <strong>em</strong>que certas tendências reclamavam dois <strong>de</strong>stinatários ou leitores i<strong>de</strong>ais, um conservadore outro liberal. Conclui-se que Cesário leu Bau<strong>de</strong>laire com mais amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>compreensão que os revolucionários que buscavam aproximar-se ao poeta francês. Masfoi lido <strong>de</strong> modo equivocado por eles, como Higa esclarece,Dizer, pois, que “Esplêndida” foi lida <strong>de</strong> modo equivocado nãoequivale a afirmar que Ramalho e Teófilo não compreen<strong>de</strong>ram opo<strong>em</strong>a; simplesmente, eles leram com parâmetros hugoanos, umpo<strong>em</strong>a que foi escrito para ser lido com critérios bau<strong>de</strong>lairianos, osmesmos, aliás, utilizados pela crítica no século XX (2010, p. 44).Depreen<strong>de</strong>-se que o crítico faz a distinção entre prosaísmo lírico e po<strong>em</strong>anarrativo. Afirma que a poesia <strong>de</strong> Cesário assimila e manipula recursos típicos da prosa<strong>de</strong> ficção, sobretudo a realista: sujeito lírico ficcional, personagens, espaço e t<strong>em</strong>po<strong>de</strong>marcados, ação narrativa, estilização da linguag<strong>em</strong> coloquial, enunciado que reclamaleitura irônica, motivos cotidianos e imanentismo imagético. Esses aspectos estãoassociados ao conceito <strong>de</strong> prosaísmo, termo crítico reduzido à dimensão sintáticolexical(coloquialismo). O lirismo prosaico é um gênero híbrido que busca produzirefeito <strong>de</strong> subjetivação sentimental, por meio <strong>de</strong> recursos prosaicos, <strong>em</strong> particular a açãonarrativa. Seus precursores imediatos no século XIX são, sobretudo, o Byron irônico <strong>de</strong>
- Page 1 and 2:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁCE
- Page 4 and 5:
DEDICATÓRIADedicamos esta disserta
- Page 6 and 7:
Cesário diz-me muito: gostava de f
- Page 8 and 9:
ABSTRACTThe Portuguese poet Joaquim
- Page 10 and 11: SUMÁRIORESUMO.....................
- Page 12 and 13: CONSIDERAÇÕES INICIAISAo entardec
- Page 14 and 15: 12revelando nos versos a crise port
- Page 16 and 17: 14grau, ao seu contexto histórico
- Page 18 and 19: 16se começa a falar em método com
- Page 20 and 21: 18faleceu em Connecticut, em 1995.
- Page 22 and 23: 20do tipo original/cópia, centro/p
- Page 24 and 25: 22No entanto, Nitrini (2000, p. 184
- Page 26 and 27: 24Essa verificação de que “a ar
- Page 28 and 29: 26Os homens sempre utilizaram sinai
- Page 30 and 31: 28intelectual. Segundo Lichtenstein
- Page 32 and 33: 30observar bem para apreender a sem
- Page 34 and 35: 32apud AGUIAR e SILVA, 1990, p. 167
- Page 36 and 37: 34e justificam a proposta poética
- Page 38 and 39: 36A terceira tendência revolucion
- Page 40 and 41: 38incluindo-se Camille Pissarro. Na
- Page 42 and 43: 40mercado foi desenvolvido no exter
- Page 44 and 45: 42Pissarro morreu em novembro de 19
- Page 46 and 47: 44O segundo artista é Claude Monet
- Page 48 and 49: 46Figura 5 refere-se à tela A pont
- Page 50 and 51: 48fazem parte do segundo plano. O p
- Page 52 and 53: 50Silva Pinto, que se tornara colec
- Page 54 and 55: 52desdobramento da lírica. Do cont
- Page 56 and 57: 54Classes Laboriosas, em 1852, que
- Page 58 and 59: 56Faria e Maia, Manuel de Arriaga,
- Page 62 and 63: 60poemas narrativos como “Don Jua
- Page 64 and 65: 62O que se configura na poesia de C
- Page 66 and 67: 64do modelo Aristotélico” (2001,
- Page 68 and 69: 66Ocorrem mudanças na sociedade bu
- Page 70 and 71: 68interpretação do verso contradi
- Page 72 and 73: 70Segundo Friedrich, a obra Flores
- Page 74 and 75: 72mundo; mas, por outro lado, o dâ
- Page 76 and 77: 744. CESÁRIO VERDE E CAMILLE PISSA
- Page 78 and 79: 76ao relacioná-lo com a abdicaçã
- Page 80 and 81: 78Camões. Há variantes entre a ed
- Page 82 and 83: 80mundo, ironicamente representado
- Page 84 and 85: 82sombrios da ordem social) é segu
- Page 86 and 87: 84Verde no século XIX que sabe que
- Page 88 and 89: 864.3 LEITURA DA PAISAGEM URBANA DO
- Page 90 and 91: 88Figura 8. PISSARRO, Camille. Boul
- Page 92 and 93: 90construções muito altas, árvor
- Page 94 and 95: 92Levou tempo para as pessoas se ac
- Page 96 and 97: 94data a expansão foi rápida, mas
- Page 98 and 99: 96Nas telas Boulevard Montmartre So
- Page 100 and 101: 98A carta é datada do dia 29 de ju
- Page 102 and 103: 100Na segunda estrofe, da parte I d
- Page 104 and 105: 102subjetiva, descreve pintando a c
- Page 106 and 107: 104da libra e do “shilling”, /
- Page 108 and 109: 106apresentam uma vida desgastada e
- Page 110 and 111:
108florestas em que há corsas, / N
- Page 112 and 113:
110falta de incentivo fiscal, técn
- Page 114 and 115:
112Figura 13. PISSARRO, Camille. Ho
- Page 116 and 117:
114da encosta do sexto plano com a
- Page 118 and 119:
116As Encostas de Vesinet, Yvelines
- Page 120 and 121:
118Imagem presente no poema OSentim
- Page 122 and 123:
120CONSIDERAÇÕES FINAISO homem in
- Page 124 and 125:
122Essas imagens chegam ao leitor e
- Page 126 and 127:
124REFERÊNCIASAGUIAR e SILVA, V. M
- Page 128 and 129:
126MOISÉS, M. A Literatura Portugu
- Page 130 and 131:
128Vê-se a cidade, mercantil, cont
- Page 132 and 133:
130E evoco, então, as crônicas na
- Page 134 and 135:
132E de uma padaria exala-se, inda
- Page 136 and 137:
134Fugiu da capital como da tempest
- Page 138 and 139:
136E assim postas, nos barros e are
- Page 140 and 141:
138Tinhas caninos, tinhas incisivos
- Page 142 and 143:
140Todos os tipos mortos ressuscito
- Page 144 and 145:
142De como, às calmas, nessas excu
- Page 146 and 147:
144Chorassem de resina as laranjeir
- Page 148:
146Se inda trabalho é como os pres