128Vê-se a cida<strong>de</strong>, mercantil, contente:Ma<strong>de</strong>iras, águas, multidões, telhados!Negrejam os quintais; enxuga a alvenaria;Em arco, s<strong>em</strong> as nuvens flutuantes,O céu renova a tinta corredia;E os charcos brilham tanto que eu diriaTer ante mim lagoas <strong>de</strong> brilhantes!E engelh<strong>em</strong> muito <strong>em</strong>bora, os fracos, os tolhidos,Eu tudo encontro alegr<strong>em</strong>ente exato,Lavo, refresco, limpo os meus sentidos.E tang<strong>em</strong>-me, excitados, sacudidos,O tacto, a vista, o ouvido, o gosto, o olfato!Pe<strong>de</strong>-me o corpo inteiro esforços na friag<strong>em</strong>De tão lavada e igual t<strong>em</strong>peratura!Os ares, o caminho, a luz reag<strong>em</strong>;Cheira-me a fogo, a sílex, a ferrag<strong>em</strong>;Sabe-me a campo, a lenha, a agricultura.Mal encarado e negro, um pára enquanto eu passo;Dois assobiam, altas as marretasPossantes, grossas, t<strong>em</strong>peradas <strong>de</strong> aço;E um gordo, o mestre, com ar ralaçoE manso, tira o nível das valetas.Homens <strong>de</strong> carga! Assim as bestas vão curvadas!Que vida tão custosa! Que diabo!E os cavadores <strong>de</strong>scansam as enxadas,E cosp<strong>em</strong> nas calosas mãos gretadas,Para que não lhes escorregue o cabo.Povo! No pano cru rasgado das camisasUma ban<strong>de</strong>ira penso que transluz!Com ela sofres, bebes, agonizas;Listrões <strong>de</strong> vinho lançam-lhe divisas,E os suspensórios traçam-lhe uma cruz!De escuro, bruscamente, ao cimo da barroca,Surge um perfil direito que se aguça;E ar matinal <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> saiu da toca,Uma figura fina, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>boca,Toda abafada num casaco à russa.Don<strong>de</strong> ela v<strong>em</strong>! A atriz que tanto cumprimentoE a qu<strong>em</strong>, à noite, na plateia, atraioOs olhos lisos como polimento!Com seu rostinho estreito, friorento,Caminha agora para o seu ensaio.E aos outros eu admiro os dorsos, os costadosComo lajões. Os bons trabalhadores!
129Os filhos das lezírias, dos montados:Os das planícies, altos, aprumados;Os das montanhas, baixos, trepadores!Mas fina <strong>de</strong> feições, o queixo hostil, distinto,Furtiva a tiritar <strong>em</strong> suas peles,Espanta-me a atrizita que hoje pinto,Neste Dez<strong>em</strong>bro enérgico, sucinto,E nestes sítios suburbanos, reles!Como animais comuns, que uma picada esquente,Eles, bovinos, másculos, ossudos,Encaram-na, sanguínea, brutamente:E ela vacila, hesita, impacienteSobre as botinas <strong>de</strong> tacões agudos.Porém, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhando o seu papel na peça,S<strong>em</strong> que inda o público a passag<strong>em</strong> abra,O <strong>de</strong>monico arrisca-se, atravessaCovas, entulhos, lamaçais, <strong>de</strong>pressa,Com seus pezinhos rápidos, <strong>de</strong> cabra!O Sentimento dum Oci<strong>de</strong>ntalA Guerra JunqueiroI - AVE- MARIASNas nossas ruas ao anoitecer,Há tal soturnida<strong>de</strong>, há tal melancolia,Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresiaDespertam-me um <strong>de</strong>sejo absurdo <strong>de</strong> sofre,O céu parece baixo e <strong>de</strong> neblina,O gás extravasado enjoa-me, perturba;E os edifícios com chaminés, e a turbaToldam-se duma cor monótona e londrina.Bat<strong>em</strong> os carros d’aluguer, ao fundo,Levando à via férrea os que se vão, Felizes!Ocorr<strong>em</strong>-me <strong>em</strong> revista exposições, países:Madrid, Paris, S. Petersburgo, o mundo!S<strong>em</strong>elham-se a gaiolas, com viveiros,As edificações somente <strong>em</strong>a<strong>de</strong>iradas:Como morcegos, ao cair das badaladas,Saltam <strong>de</strong> viga <strong>em</strong> viga os mestres carpinteiros.Voltam os calafates, aos magotes,De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos;Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos,Ou erro pelos cais a que se atracam botes.
- Page 1 and 2:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁCE
- Page 4 and 5:
DEDICATÓRIADedicamos esta disserta
- Page 6 and 7:
Cesário diz-me muito: gostava de f
- Page 8 and 9:
ABSTRACTThe Portuguese poet Joaquim
- Page 10 and 11:
SUMÁRIORESUMO.....................
- Page 12 and 13:
CONSIDERAÇÕES INICIAISAo entardec
- Page 14 and 15:
12revelando nos versos a crise port
- Page 16 and 17:
14grau, ao seu contexto histórico
- Page 18 and 19:
16se começa a falar em método com
- Page 20 and 21:
18faleceu em Connecticut, em 1995.
- Page 22 and 23:
20do tipo original/cópia, centro/p
- Page 24 and 25:
22No entanto, Nitrini (2000, p. 184
- Page 26 and 27:
24Essa verificação de que “a ar
- Page 28 and 29:
26Os homens sempre utilizaram sinai
- Page 30 and 31:
28intelectual. Segundo Lichtenstein
- Page 32 and 33:
30observar bem para apreender a sem
- Page 34 and 35:
32apud AGUIAR e SILVA, 1990, p. 167
- Page 36 and 37:
34e justificam a proposta poética
- Page 38 and 39:
36A terceira tendência revolucion
- Page 40 and 41:
38incluindo-se Camille Pissarro. Na
- Page 42 and 43:
40mercado foi desenvolvido no exter
- Page 44 and 45:
42Pissarro morreu em novembro de 19
- Page 46 and 47:
44O segundo artista é Claude Monet
- Page 48 and 49:
46Figura 5 refere-se à tela A pont
- Page 50 and 51:
48fazem parte do segundo plano. O p
- Page 52 and 53:
50Silva Pinto, que se tornara colec
- Page 54 and 55:
52desdobramento da lírica. Do cont
- Page 56 and 57:
54Classes Laboriosas, em 1852, que
- Page 58 and 59:
56Faria e Maia, Manuel de Arriaga,
- Page 60 and 61:
58De forma aprimorada.E eu vou acom
- Page 62 and 63:
60poemas narrativos como “Don Jua
- Page 64 and 65:
62O que se configura na poesia de C
- Page 66 and 67:
64do modelo Aristotélico” (2001,
- Page 68 and 69:
66Ocorrem mudanças na sociedade bu
- Page 70 and 71:
68interpretação do verso contradi
- Page 72 and 73:
70Segundo Friedrich, a obra Flores
- Page 74 and 75:
72mundo; mas, por outro lado, o dâ
- Page 76 and 77:
744. CESÁRIO VERDE E CAMILLE PISSA
- Page 78 and 79:
76ao relacioná-lo com a abdicaçã
- Page 80 and 81: 78Camões. Há variantes entre a ed
- Page 82 and 83: 80mundo, ironicamente representado
- Page 84 and 85: 82sombrios da ordem social) é segu
- Page 86 and 87: 84Verde no século XIX que sabe que
- Page 88 and 89: 864.3 LEITURA DA PAISAGEM URBANA DO
- Page 90 and 91: 88Figura 8. PISSARRO, Camille. Boul
- Page 92 and 93: 90construções muito altas, árvor
- Page 94 and 95: 92Levou tempo para as pessoas se ac
- Page 96 and 97: 94data a expansão foi rápida, mas
- Page 98 and 99: 96Nas telas Boulevard Montmartre So
- Page 100 and 101: 98A carta é datada do dia 29 de ju
- Page 102 and 103: 100Na segunda estrofe, da parte I d
- Page 104 and 105: 102subjetiva, descreve pintando a c
- Page 106 and 107: 104da libra e do “shilling”, /
- Page 108 and 109: 106apresentam uma vida desgastada e
- Page 110 and 111: 108florestas em que há corsas, / N
- Page 112 and 113: 110falta de incentivo fiscal, técn
- Page 114 and 115: 112Figura 13. PISSARRO, Camille. Ho
- Page 116 and 117: 114da encosta do sexto plano com a
- Page 118 and 119: 116As Encostas de Vesinet, Yvelines
- Page 120 and 121: 118Imagem presente no poema OSentim
- Page 122 and 123: 120CONSIDERAÇÕES FINAISO homem in
- Page 124 and 125: 122Essas imagens chegam ao leitor e
- Page 126 and 127: 124REFERÊNCIASAGUIAR e SILVA, V. M
- Page 128 and 129: 126MOISÉS, M. A Literatura Portugu
- Page 132 and 133: 130E evoco, então, as crônicas na
- Page 134 and 135: 132E de uma padaria exala-se, inda
- Page 136 and 137: 134Fugiu da capital como da tempest
- Page 138 and 139: 136E assim postas, nos barros e are
- Page 140 and 141: 138Tinhas caninos, tinhas incisivos
- Page 142 and 143: 140Todos os tipos mortos ressuscito
- Page 144 and 145: 142De como, às calmas, nessas excu
- Page 146 and 147: 144Chorassem de resina as laranjeir
- Page 148: 146Se inda trabalho é como os pres