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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

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95As mudanças na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris ocorr<strong>em</strong> no fim dos anos <strong>de</strong> 1850: “GeorgesEugène Haussmann, prefeito <strong>de</strong> Paris e circunvizinhanças, investido no cargo por ummandato imperial <strong>de</strong> Napoleão III, estava implantando uma vasta re<strong>de</strong> <strong>de</strong> bulevares nocoração da velha cida<strong>de</strong> medieval” (BERMAN, 1986, p.147). Essas mudanças daestrutura da cida<strong>de</strong> são apontadas pelo crítico como altamente revolucionárias na vidaurbana, alterando o fluxo <strong>de</strong> trânsito, comércio, com as <strong>de</strong>molições <strong>de</strong> antigasconstruções houve in<strong>de</strong>nizações e contratação <strong>de</strong> <strong>de</strong>zena <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> trabalhadores<strong>em</strong> longo prazo para essas obras. Não se tratava apenas <strong>de</strong> tornar<strong>em</strong> os bulevares maislargos, “Os bulevares representam apenas uma parte do amplo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> planejamentourbano, que incluía mercados centrais, pontes, esgotos, fornecimento <strong>de</strong> água, a Ópera eoutros monumentos culturais, uma gran<strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> parques” (1986, p. 146). Nessecenário <strong>de</strong> mudanças é o que o eu lírico quer estar, pois <strong>em</strong> seu país a situação flagradapelo seu <strong>de</strong>ambular pela cida<strong>de</strong> não lhe apresenta perspectiva <strong>de</strong> mudanças o que severifica no po<strong>em</strong>a O Sentimento dum Oci<strong>de</strong>ntal.O po<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong> apresenta recortes que o eu lírico vai captando, ao<strong>de</strong>ambular pela cida<strong>de</strong> na companhia do poeta. Figueiredo (1986, p.34) justifica aprodução do poeta ao afirmar que “Cesário Ver<strong>de</strong> só sabia ser fotógrafo <strong>de</strong>instantâneos”. Com o seu olhar <strong>de</strong> artista, capta a cena com perfeição e pelasubjetivida<strong>de</strong> revelada conduz o leitor às ruas, aos becos e ao cais da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa.De maneira única, expressando seu prosaísmo poético, é como se registrasse numacâmera fotográfica pessoas, carros, edifícios, chaminés, varinas “E num cardume negro,hercúleas, galhofeiras, / Correndo com firmeza, assomam as varinas”, inspirado pelofim <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>, mas sofrendo fisicamente: “O céu parece baixo e <strong>de</strong> neblina, / O gásextravasado enjoa-me, perturba; (...) E o fim da tar<strong>de</strong> inspira-me; e incomoda!”. Naparte II do mesmo po<strong>em</strong>a, Noite Fechada, esse mal estar cresce: “E eu <strong>de</strong>sconfio, até, <strong>de</strong>um aneurisma/ Tão mórbido me sinto, ao acen<strong>de</strong>r as luzes”. O mal estar cresce <strong>em</strong>alguns sentidos, pois o eu lírico se encontra preso a algumas circunstâncias, a cida<strong>de</strong> oaprisiona, não permite sua expansão artística, como sua arte não é reconhecida “E o fimda tar<strong>de</strong> inspira-me; e incomoda!”, e ao mesmo t<strong>em</strong>po sente prenúncios da doença quevitimou alguns m<strong>em</strong>bros <strong>de</strong> sua família. Assim, não visualiza uma boa perspectiva paraa situação, mesmo com o “acen<strong>de</strong>r das luzes”.

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