104da libra e do “shilling”, / Eu andava abstrato e s<strong>em</strong> que visse / Que o teu alvorromântico <strong>de</strong> “miss” / Te obrigava a morrer antes <strong>de</strong> mim!Na subseção cinco, há a <strong>de</strong>scrição do cenário interno <strong>de</strong> Portugal com sua fartaprodução agrícola e sua gente simples. O eu po<strong>em</strong>ático louva o primitivismo <strong>de</strong>Portugal no campo e <strong>de</strong>monstra como eram rudimentares os trabalhos e suas produçõesFeias e fortes! Punham-lhes papel, / A forrá-las. E <strong>em</strong> grossa serradura / Acamava-se auva pr<strong>em</strong>atura / Que não <strong>de</strong>ve servir para tonel! Esses versos se contrapõ<strong>em</strong> aosavanços das fábricas e indústrias estrangeiras, na nona estrofe: B<strong>em</strong> sei que preparaiscorretamente / O aço e a seda, as lâminas e o estofo: / Tudo o que há <strong>de</strong> mais dúctil, <strong>de</strong>mais fofo, / Tudo o que há <strong>de</strong> mais rijo e resistente! e aos filósofos <strong>de</strong> outros paísesapontados na décima terceira estrofe: Ah! Que <strong>de</strong> glória,que <strong>de</strong> colorido, / Quando pormeu mandado e meu conselho, / Cá se <strong>em</strong>papelam “as maçãs d’espelho / Que HerbertSpencer talvez tenha comido!Sobre Herbert Spencer, Eduardo Lourenço (apud Higa, 2010, p.267) esclarece,Hebert Spencer foi filósofo inglês (1810-1903), teórico doEvolucionismo. Para Spencer, assim como para Taine e Comte, oprogresso material <strong>de</strong> países do Norte da Europa representava aconquista <strong>de</strong> etapa superior e avançada na história social da históriasocial da humanida<strong>de</strong>. Nesta passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> “Nós”, o narrador contestaesse pensamento e probl<strong>em</strong>atiza a noção materialista <strong>de</strong> progressodas socieda<strong>de</strong>s. No entanto, <strong>em</strong> outro momento do po<strong>em</strong>a, o mesmonarrador incorpora postular da teoria evolucionista para justificar amorte da irmã <strong>de</strong>scrita como “herbívora mansinha” (v. III), “tênuerosa” (v. 58), disposta <strong>em</strong> “sítio <strong>de</strong> cerqueiro” (v. 125), entre ru<strong>de</strong>scamponeses. // A hipotética cena <strong>de</strong> que <strong>de</strong>screve o filósofo HerbertSpencer comendo maçãs portuguesas na Inglaterra po<strong>de</strong> ser lidacomo resposta irônica e trocista à proposta da Geração <strong>de</strong> 70 <strong>de</strong>produzir literatura dotada <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>a filosófico próprio e original. Oprojeto <strong>de</strong> Antero, Teófilo e Eça, <strong>de</strong> conceber e exportar “I<strong>de</strong>ias”,como faziam franceses, al<strong>em</strong>ães e ingleses, se mostrou por fim tãoambicioso quanto falido. O que <strong>de</strong> fato Portugal podia produzir eexportar com eficiência para seus pares do Norte eram excelentesmaçãs, e produtos agrícolas, que alimentavam a filosofia e davamprazer aos filósofos. O po<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong> propõe, <strong>em</strong> suma, avalorização da autêntica cultura portuguesa, com sua vocaçãoagrária, como forma <strong>de</strong> superar seu complexo <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong> diante<strong>de</strong> países “<strong>de</strong>senvolvidos” do Norte.Na subseção seis ocorr<strong>em</strong> menções às cores, reforçando a visualização da cena.Na quarta estrofe, há uma <strong>de</strong>claração do poeta comparando sua produção com a
105clarida<strong>de</strong> do alvorecer (cena oposta a da cida<strong>de</strong>) Pinto, quadros por letras, por sinais, /Tão luminosos como os do Levante, / Nas horas <strong>em</strong> que a calma é mais queimante, / Naquadra <strong>em</strong> que o verão aperta mais. Já na quinta estrofe, po<strong>de</strong>m ser observados ossentimentos <strong>de</strong> alegria, t<strong>em</strong>po e espaço, s<strong>em</strong>blante das pessoas, ferramentas etrabalhadores se cruzam colocados no mesmo plano – o campo – espaço <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> eharmonia. Essa mistura <strong>de</strong> sensações, <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> transfigurada e da busca daluminosida<strong>de</strong> reiteram as características da pintura impressionista, expressas na quintaestrofe: Como <strong>de</strong>stacam, vivas, certas cores, / Na vida externa cheia d’alegrias! / Horasvozes, locais, fisionomias, / As ferramentas, os trabalhadores!O poeta encerra a subseção, ao revelar o orgulho <strong>em</strong> pertencer àquele meio: Oh!Que brava alegria eu tenho quando / Sou tal qual como os mais! E, s<strong>em</strong> talento, / Façoum trabalho técnico, violento, / Cantando 12 , praguejando, batalhando! Nesse últimoverso ocorre rima interna com o mesmo som nasal nos vocábulos: cantando,praguejando, batalhando como um g<strong>em</strong>er <strong>de</strong> máquina e uma ação contínua, expressandoque ao mesmo t<strong>em</strong>po da batalha há alegrias por meio da palavra “cantando” edissabores por meio da palavra “praguejando”.Na subseção sete, a figura do trabalhador, hom<strong>em</strong> forte com estatura <strong>de</strong> heroicontrasta-se com a dos frutos que já não são <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>: Os fruteiros, tostadospelos sóis, / Tinham passado, muita vez, a raia, / E espertos, entre os mais da sua laia, /- Pobres campônios – eram uns heróis. Observa-se, ao longo dos versos, um fluxo <strong>de</strong>vocábulos na captação da realida<strong>de</strong>, tornando a estrofe uma cena impressionista. Naterceira estrofe, a cor amarela possui o sentido <strong>de</strong> doença numa proposta sinestésicaestabelecida entre o visual “cor amarela” e o paladar “a água salobra” que,contrariamente, à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> fonte da vida, é foco <strong>de</strong> doenças, <strong>de</strong> febres: De como, àscalmas, nessas excursões, / Tinham águas salobras por refrescos; / E amarelos,enormes, gigantescos, / Lá batiam o queixo com sezões!Retrata também a situação do trabalhador rural, na quinta estrofe: Que pragascastelhanas, que alegrão / Quando contavam cenas <strong>de</strong> pousadas! / Adoravam as cintasencarnadas / E as cores como os pretos do sertão! R<strong>em</strong>ete também às cenas que12 Grifos nossos.
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