28intelectual. Segundo Lichtenstein: “A representação torna visível uma diferença entre aforma e a matéria que aqui não é só lógica, mas também real. Como a existência daforma é mostrada na representação, a percepção visual po<strong>de</strong> ser concebida como um atointelectual, um juízo <strong>de</strong> conhecimento.” (1994, p. 67).Assim, o conteúdo “filosófico” das artes visuais e a natureza predominant<strong>em</strong>enteintelectual da apreciação resultam numa tendência racionalista e intelectual na teoria daarte que tomou força e predominou nos séculos seguintes:Durante os séculos XVI, XVII, e XVIII, caracterizados peloclassicismo, barroco e neoclassicismo, as questões das artescomparadas tomaram proporções consi<strong>de</strong>ráveis, por meio dasproduções artísticas e das discussões críticas e filosóficas. Porém,todas elas ocorreram <strong>de</strong>ntro das várias interpretações da Poética <strong>de</strong>Aristóteles, dos conceitos <strong>de</strong> mímesis que nortearam o pensamentoclássico (GONÇALVES, 1994, p. 26).Foram os gran<strong>de</strong>s pensadores e poetas que difundiram a proximida<strong>de</strong> das artesplásticas com a poesia. Há a busca <strong>de</strong> imitar os antigos gregos, surgindo trabalhosteóricos que tratavam da “imitação” extraída da literatura clássica. Essa ação erapautada por duas i<strong>de</strong>ias. Como o dito aforismático Muta poesis, eloquens pictura (a“pintura é poesia muda e a poesia é pintura falante)”, recuperado por Plutarco <strong>de</strong>Simóni<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Céos, poeta que viveu entre os séculos VI e V a.C., esse pensamentoapresenta a força das palavras na poesia que sua construção, revelando-nos imagens omesmo ocorrendo com a pintura que, através da cor e forma, nos apresenta um conjunto<strong>de</strong> significações. A outra i<strong>de</strong>ia refere-se ao verso do poeta Horácio ut pictura poesis“como a pintura é a poesia”, pertencente ao século I a. C.Ambos os pensamentos eram base para os estudos da relação entre a poesia e apintura retomada no Renascimento. A interpretação da expressão Ut pictura poesisconduziu muitos trabalhos teóricos sobre as correspondências das artes. Pois, Horácioapresenta as duas artes, afirmando que há po<strong>em</strong>a que agrada <strong>de</strong> uma só vez; outrospo<strong>em</strong>as, porém, po<strong>de</strong>m ser lidos com mais agrado e explica que este fato tambémacontece com a pintura, sendo que a arte verda<strong>de</strong>ira agrada a todos, “A poesia é como apintura, haverá a que mais te cativa, se estiveres mais perto e outra, se ficares maislonge; esta ama a obscurida<strong>de</strong>, esta, que não t<strong>em</strong>e o olhar arguto do crítico, <strong>de</strong>seja sercont<strong>em</strong>plada à luz; esta, revisitada <strong>de</strong>z vezes, agradará” (TRINGALI, 1993, p. 35).Porém, foi com Aristóteles que se fundaram as primeiras teorias a respeito da relação
29entre poesia e pintura. Aristóteles <strong>em</strong> sua Poética aproxima essas duas artes ao afirmarque ambas tiveram sua orig<strong>em</strong> na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> imitar.Mas como os imitadores imitam homens que praticam alguma ação, eestes, necessariamente, são indivíduos <strong>de</strong> elevada ou baixa índole(porque a varieda<strong>de</strong> dos caracteres só se encontra nestas diferenças [e,quanto a caráter, todos os homens se distingu<strong>em</strong> pelo vício ou pelavirtu<strong>de</strong>), necessariamente também suce<strong>de</strong>rá que os poetas imitamhomens melhores, piores ou iguais a nós, como o faz<strong>em</strong> os pintores(1992, p. 21).O artista cria, pelo princípio da mimese, sua obra patenteada na realida<strong>de</strong>.Seguindo esse mesmo pensamento, além <strong>de</strong> Aristóteles também Plutarco, citado porAguiar e Silva (1990), afirma que tanto a arte poética quanto a pintura <strong>de</strong>v<strong>em</strong> serestudadas a partir do conceito <strong>de</strong> imitação (mímesis) da realida<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rando-as artesanálogas. Para esses pensadores, o poeta e o pintor estavam <strong>em</strong> constante sintonia. Noentanto, Aristóteles diferencia a materialida<strong>de</strong> <strong>em</strong>pregada na produção artística e aimportância <strong>de</strong> respeitá-la <strong>em</strong> relação aos meios <strong>de</strong> imitação, estando a poesiafundamentada na linguag<strong>em</strong>, no ritmo e na harmonia e a pintura nas cores e nas formas.Como é afirmado por Aristóteles <strong>em</strong> (1992, p. 23), ”Porque tanto na dança como naaulética e na citarística po<strong>de</strong> haver tal diferença; e, assim também nos gêneros poéticosque usam, como meio, a linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> prosa ou <strong>em</strong> verso [s<strong>em</strong> música]”. Aguiar eSilva (1990, p.163) nos esclarece,É ainda Plutarco que, ao comentar uma <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> Tucía<strong>de</strong>s, realçaa vivi<strong>de</strong>z pictórica (enargeia) do texto do historiador. A palavra gregaenargeia é um termo pertencente à retórica e significa a capacida<strong>de</strong>que as imagens verbais possu<strong>em</strong> para representar<strong>em</strong> visualmente, comvivacida<strong>de</strong>, as cenas, as coisas e os seres <strong>de</strong> que se fala.Dois importantes pontos são ressaltados por Aristóteles: a visão e a metáfora.No plano das artes discursivas, Aristóteles aproveitou-se do prazer advindo dassensações visuais e explorou as forças pictóricas da enargeia, ou seja, a linguag<strong>em</strong>verbal possui força para representar visualmente e com vivacida<strong>de</strong> as cenas, as coisas eos seres <strong>de</strong> que fala, ressaltando o po<strong>de</strong>r gráfico <strong>de</strong> criar movimentos e cenas. Emrelação à metáfora, Aristóteles (1992, p. 105) ensina que “A metáfora consiste notransportar para uma coisa o nome <strong>de</strong> outra, ou do gênero para a espécie, ou da espéciepara o gênero, ou da espécie <strong>de</strong> uma para outra, ou por analogia.” Para o filósofo, amaior qualida<strong>de</strong> do gênero poético é a <strong>de</strong> ser metafórica, pois existe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>
- Page 1 and 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁCE
- Page 4 and 5: DEDICATÓRIADedicamos esta disserta
- Page 6 and 7: Cesário diz-me muito: gostava de f
- Page 8 and 9: ABSTRACTThe Portuguese poet Joaquim
- Page 10 and 11: SUMÁRIORESUMO.....................
- Page 12 and 13: CONSIDERAÇÕES INICIAISAo entardec
- Page 14 and 15: 12revelando nos versos a crise port
- Page 16 and 17: 14grau, ao seu contexto histórico
- Page 18 and 19: 16se começa a falar em método com
- Page 20 and 21: 18faleceu em Connecticut, em 1995.
- Page 22 and 23: 20do tipo original/cópia, centro/p
- Page 24 and 25: 22No entanto, Nitrini (2000, p. 184
- Page 26 and 27: 24Essa verificação de que “a ar
- Page 28 and 29: 26Os homens sempre utilizaram sinai
- Page 32 and 33: 30observar bem para apreender a sem
- Page 34 and 35: 32apud AGUIAR e SILVA, 1990, p. 167
- Page 36 and 37: 34e justificam a proposta poética
- Page 38 and 39: 36A terceira tendência revolucion
- Page 40 and 41: 38incluindo-se Camille Pissarro. Na
- Page 42 and 43: 40mercado foi desenvolvido no exter
- Page 44 and 45: 42Pissarro morreu em novembro de 19
- Page 46 and 47: 44O segundo artista é Claude Monet
- Page 48 and 49: 46Figura 5 refere-se à tela A pont
- Page 50 and 51: 48fazem parte do segundo plano. O p
- Page 52 and 53: 50Silva Pinto, que se tornara colec
- Page 54 and 55: 52desdobramento da lírica. Do cont
- Page 56 and 57: 54Classes Laboriosas, em 1852, que
- Page 58 and 59: 56Faria e Maia, Manuel de Arriaga,
- Page 60 and 61: 58De forma aprimorada.E eu vou acom
- Page 62 and 63: 60poemas narrativos como “Don Jua
- Page 64 and 65: 62O que se configura na poesia de C
- Page 66 and 67: 64do modelo Aristotélico” (2001,
- Page 68 and 69: 66Ocorrem mudanças na sociedade bu
- Page 70 and 71: 68interpretação do verso contradi
- Page 72 and 73: 70Segundo Friedrich, a obra Flores
- Page 74 and 75: 72mundo; mas, por outro lado, o dâ
- Page 76 and 77: 744. CESÁRIO VERDE E CAMILLE PISSA
- Page 78 and 79: 76ao relacioná-lo com a abdicaçã
- Page 80 and 81:
78Camões. Há variantes entre a ed
- Page 82 and 83:
80mundo, ironicamente representado
- Page 84 and 85:
82sombrios da ordem social) é segu
- Page 86 and 87:
84Verde no século XIX que sabe que
- Page 88 and 89:
864.3 LEITURA DA PAISAGEM URBANA DO
- Page 90 and 91:
88Figura 8. PISSARRO, Camille. Boul
- Page 92 and 93:
90construções muito altas, árvor
- Page 94 and 95:
92Levou tempo para as pessoas se ac
- Page 96 and 97:
94data a expansão foi rápida, mas
- Page 98 and 99:
96Nas telas Boulevard Montmartre So
- Page 100 and 101:
98A carta é datada do dia 29 de ju
- Page 102 and 103:
100Na segunda estrofe, da parte I d
- Page 104 and 105:
102subjetiva, descreve pintando a c
- Page 106 and 107:
104da libra e do “shilling”, /
- Page 108 and 109:
106apresentam uma vida desgastada e
- Page 110 and 111:
108florestas em que há corsas, / N
- Page 112 and 113:
110falta de incentivo fiscal, técn
- Page 114 and 115:
112Figura 13. PISSARRO, Camille. Ho
- Page 116 and 117:
114da encosta do sexto plano com a
- Page 118 and 119:
116As Encostas de Vesinet, Yvelines
- Page 120 and 121:
118Imagem presente no poema OSentim
- Page 122 and 123:
120CONSIDERAÇÕES FINAISO homem in
- Page 124 and 125:
122Essas imagens chegam ao leitor e
- Page 126 and 127:
124REFERÊNCIASAGUIAR e SILVA, V. M
- Page 128 and 129:
126MOISÉS, M. A Literatura Portugu
- Page 130 and 131:
128Vê-se a cidade, mercantil, cont
- Page 132 and 133:
130E evoco, então, as crônicas na
- Page 134 and 135:
132E de uma padaria exala-se, inda
- Page 136 and 137:
134Fugiu da capital como da tempest
- Page 138 and 139:
136E assim postas, nos barros e are
- Page 140 and 141:
138Tinhas caninos, tinhas incisivos
- Page 142 and 143:
140Todos os tipos mortos ressuscito
- Page 144 and 145:
142De como, às calmas, nessas excu
- Page 146 and 147:
144Chorassem de resina as laranjeir
- Page 148:
146Se inda trabalho é como os pres