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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

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93Paris como paisag<strong>em</strong>. Visando analisar as duas formas artísticas, poesia e a pintura,b<strong>em</strong> como os el<strong>em</strong>entos da paisag<strong>em</strong> urbana, Gonçalves nos esclarece que:Se, no po<strong>em</strong>a, o probl<strong>em</strong>a da criação concentra-se no conflito entresigno e realida<strong>de</strong>, na sua relação arbitrária com o mundo, na pinturaesse conflito se dá na relação entre o ícone e o mundo, numa espécie<strong>de</strong> “suspensão indicial” <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos visuais. A luta <strong>de</strong> forças (t<strong>em</strong>poe espaço <strong>em</strong>píricos) conduz a uma compreensão das duas artes numponto in<strong>de</strong>finível <strong>em</strong> que os limites se bifurcam na “hora extr<strong>em</strong>a” damanifestação criadora. As formas <strong>de</strong> expressão nas duas interiorizam,por eliminação, as referencialida<strong>de</strong>s <strong>em</strong>píricas imediatas e com elas aconcepção <strong>em</strong>pírica <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e <strong>de</strong> espaço. (1994, p. 210)A primeira estrofe do po<strong>em</strong>a O Sentimento dum Oci<strong>de</strong>ntal, na parte I, Ave-Maria, abre um cenário citadino ao anoitecer na cida<strong>de</strong>: (Nas nossas ruas, ao anoitecer(...) O céu parece baixo e <strong>de</strong> neblina) (..) E os edifícios, com as chaminés, e a turba (...)E o fim da tar<strong>de</strong> inspira-me; e incomoda!. Essa paisag<strong>em</strong> <strong>de</strong> final <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> presentificasena tela Boulevard Montmartre Sol da Tar<strong>de</strong> (1897), <strong>de</strong> Camille Pissarro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> amarcação <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po que traz o título da tela (Sol da Tar<strong>de</strong>), b<strong>em</strong> como a iluminação, aspessoas caminhando pelas ruas, que formam a turba, e as várias carruagens ao longo darua, transportando pessoas, confirmando o fim do dia. A tela apresenta ainda a imag<strong>em</strong>das fábricas e chaminés, edifícios, (O gás extravasado enjoa-me, perturba; / E osedifícios, com as chaminés, e a turba / Toldam-se duma cor monótona e londrina.) dosversos cesáricos.No po<strong>em</strong>a e nas telas há dois pontos relevantes a ser<strong>em</strong> observados,consi<strong>de</strong>rando sua contextualização histórica, final do século XIX: a cida<strong>de</strong> no anoitecere à noite, tal como Cesário <strong>de</strong>screve nos textos. De acordo com Serrão, “Em Paris apartir do t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> Luís XIV, havia um esboço <strong>de</strong> iluminação pública, que foimelhorada, substancialmente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1765.” (1962, p. 28) e, <strong>em</strong> Portugal, ailuminação levou muito mais t<strong>em</strong>po para se efetivar. Serrão (1962) relata asdificulda<strong>de</strong>s que as pessoas sofriam pela falta <strong>de</strong> iluminação, os perigos <strong>de</strong> sair à noite,<strong>de</strong>vido à violência facilitada pela escuridão, ao perigo <strong>de</strong> sofrer quedas e até receber<strong>de</strong>tritos jogados pelas janelas, pois nas casas não havia latrina, configurando a falta <strong>de</strong>saneamento básico e a fragilida<strong>de</strong> da saú<strong>de</strong> na época. Após muitas disputas políticas eeconômicas, Serrão registra: “O certo é que 30 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1848 foram inaugurados noChiado os primeiros 26 can<strong>de</strong>eiros da nova iluminação.” (1962, p. 47). A partir <strong>de</strong>ssa

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