92Levou t<strong>em</strong>po para as pessoas se acostumar<strong>em</strong> com essa pintura e se afastar<strong>em</strong> datela para que a cena se apresente ao observador. Gombrich ressalta que o pintor sai doateliê e vai ao encontro da luz, da cor e da forma, instalando seu cavalete e transferindosua impressão para a tela, sendo responsável pelo que pintava e como pintava ante a suaprópria sensibilida<strong>de</strong>. A estrutura social e i<strong>de</strong>ológica, naquele período, registra que <strong>em</strong>1897 as pessoas que viviam <strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, como a Paris representada nas telas, jásentiam as mudanças no ritmo <strong>de</strong> suas vidas. Como é apontado por Charles, nomanifesto escrito <strong>em</strong> 1848 por Karl Marx, <strong>de</strong>vido à produção <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo, otrabalho alienante provoca probl<strong>em</strong>as.Ele postulou que o advento <strong>de</strong> uma nova classe média mais abastada,com todos os bens e serviços fornecidos pelo excesso <strong>de</strong> capital et<strong>em</strong>po para o lazer facultados pela Revolução Industrial alienaria ostrabalhadores <strong>de</strong> classe baixa dos produtos que fabricavam.(CHARLES et al, 2007, p. 285).Esse contexto levaria os vários probl<strong>em</strong>as sociais. O que é <strong>de</strong>preendido das duastelas <strong>de</strong> Pissarro, com seu contínuo movimento, é que a cida<strong>de</strong> não para e pelaperspectiva da pintura o observador está imerso nessa cida<strong>de</strong>, preso a ela. Fato este queé <strong>de</strong>lineado no século XIX e t<strong>em</strong> projeção histórica, pois os probl<strong>em</strong>as da cida<strong>de</strong> com o<strong>de</strong>correr dos séculos só aumentaram.Cesário Ver<strong>de</strong>, do mesmo modo que Pissarro, “pinta” com palavras a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Lisboa, <strong>de</strong>screvendo-a e evocando experiências <strong>de</strong> repetidas <strong>de</strong>ambulações pela “velhacida<strong>de</strong>” que o <strong>de</strong>prime e nauseia. Percorrida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o anoitecer até a <strong>completa</strong> escuridãodas “horas mortas”, a cida<strong>de</strong>, assim como o boulevard, representa o todo da civilizaçãooci<strong>de</strong>ntal a que Portugal pertence, b<strong>em</strong> como o sentimento que ela provoca é fruto <strong>de</strong>uma visão da civilização do século XIX.4.3.1 A paisag<strong>em</strong> urbana na poesia e na pinturaA distância t<strong>em</strong>poral <strong>de</strong> produção do po<strong>em</strong>a O Sentimento dum Oci<strong>de</strong>ntal (1885)e as telas Boulevard Montmartre, Sol da Tar<strong>de</strong> (1897) e Boulevard Montmartre à Noite(1897) é curto, po<strong>de</strong>ndo ser consi<strong>de</strong>rados cont<strong>em</strong>porâneos. O espaço geográficotambém não é distante, uma vez que ambos pertenc<strong>em</strong> ao mesmo continente, o europeu,o primeiro português, tendo como cenário a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa, e o segundo apresentando
93Paris como paisag<strong>em</strong>. Visando analisar as duas formas artísticas, poesia e a pintura,b<strong>em</strong> como os el<strong>em</strong>entos da paisag<strong>em</strong> urbana, Gonçalves nos esclarece que:Se, no po<strong>em</strong>a, o probl<strong>em</strong>a da criação concentra-se no conflito entresigno e realida<strong>de</strong>, na sua relação arbitrária com o mundo, na pinturaesse conflito se dá na relação entre o ícone e o mundo, numa espécie<strong>de</strong> “suspensão indicial” <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos visuais. A luta <strong>de</strong> forças (t<strong>em</strong>poe espaço <strong>em</strong>píricos) conduz a uma compreensão das duas artes numponto in<strong>de</strong>finível <strong>em</strong> que os limites se bifurcam na “hora extr<strong>em</strong>a” damanifestação criadora. As formas <strong>de</strong> expressão nas duas interiorizam,por eliminação, as referencialida<strong>de</strong>s <strong>em</strong>píricas imediatas e com elas aconcepção <strong>em</strong>pírica <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e <strong>de</strong> espaço. (1994, p. 210)A primeira estrofe do po<strong>em</strong>a O Sentimento dum Oci<strong>de</strong>ntal, na parte I, Ave-Maria, abre um cenário citadino ao anoitecer na cida<strong>de</strong>: (Nas nossas ruas, ao anoitecer(...) O céu parece baixo e <strong>de</strong> neblina) (..) E os edifícios, com as chaminés, e a turba (...)E o fim da tar<strong>de</strong> inspira-me; e incomoda!. Essa paisag<strong>em</strong> <strong>de</strong> final <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> presentificasena tela Boulevard Montmartre Sol da Tar<strong>de</strong> (1897), <strong>de</strong> Camille Pissarro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> amarcação <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po que traz o título da tela (Sol da Tar<strong>de</strong>), b<strong>em</strong> como a iluminação, aspessoas caminhando pelas ruas, que formam a turba, e as várias carruagens ao longo darua, transportando pessoas, confirmando o fim do dia. A tela apresenta ainda a imag<strong>em</strong>das fábricas e chaminés, edifícios, (O gás extravasado enjoa-me, perturba; / E osedifícios, com as chaminés, e a turba / Toldam-se duma cor monótona e londrina.) dosversos cesáricos.No po<strong>em</strong>a e nas telas há dois pontos relevantes a ser<strong>em</strong> observados,consi<strong>de</strong>rando sua contextualização histórica, final do século XIX: a cida<strong>de</strong> no anoitecere à noite, tal como Cesário <strong>de</strong>screve nos textos. De acordo com Serrão, “Em Paris apartir do t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> Luís XIV, havia um esboço <strong>de</strong> iluminação pública, que foimelhorada, substancialmente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1765.” (1962, p. 28) e, <strong>em</strong> Portugal, ailuminação levou muito mais t<strong>em</strong>po para se efetivar. Serrão (1962) relata asdificulda<strong>de</strong>s que as pessoas sofriam pela falta <strong>de</strong> iluminação, os perigos <strong>de</strong> sair à noite,<strong>de</strong>vido à violência facilitada pela escuridão, ao perigo <strong>de</strong> sofrer quedas e até receber<strong>de</strong>tritos jogados pelas janelas, pois nas casas não havia latrina, configurando a falta <strong>de</strong>saneamento básico e a fragilida<strong>de</strong> da saú<strong>de</strong> na época. Após muitas disputas políticas eeconômicas, Serrão registra: “O certo é que 30 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1848 foram inaugurados noChiado os primeiros 26 can<strong>de</strong>eiros da nova iluminação.” (1962, p. 47). A partir <strong>de</strong>ssa
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