68interpretação do verso contradiz, por ex<strong>em</strong>plo, a constituição da frase, ou que o meusentimento apoiava-se <strong>em</strong> pressuposto falsos” (STAIGER, 1997, p. 191).Júdice (1998, p. 41) aponta o jogo <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> no interior do texto, umaliberda<strong>de</strong> suscitada pela pluriss<strong>em</strong>ia, o que permite os vários significados e asinterpretações, e pelo contexto. Sendo uma obra estética, a poesia é o resultado <strong>de</strong> umcontexto. Judice distingue também a contradição, pois a poesia não fica presa aocontexto, significando a natureza da obra a <strong>de</strong> libertação da t<strong>em</strong>poralida<strong>de</strong>. Contexto econtingência são instantes <strong>de</strong> criação do po<strong>em</strong>a que se <strong>de</strong>sligam quando ele estáacabado, e o contexto passa a ser a linguag<strong>em</strong> que permite a sobrevivência do po<strong>em</strong>a. Oplano da linguag<strong>em</strong> é o que vai permitir, <strong>de</strong> acordo com Júdice, o “instrumentorelacional e, por isso, social, dos homens.” (1998, p.41). Portanto, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra-se acontradição apontada por Júdice se for consi<strong>de</strong>rado o momento, o contexto dainterpretação da obra, levando <strong>em</strong> conta que a interpretação <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada obra feitaagora e <strong>de</strong>pois, daqui a c<strong>em</strong> anos, já é outra leitura que a vida permite. Issoconsi<strong>de</strong>rando s<strong>em</strong>pre a forma, a estrutura, e as imagens fornecidas pelo texto, pois otexto permite a liberda<strong>de</strong>, mas essa liberda<strong>de</strong> está limitada pelo texto e seu contexto.Júdice assinala o lirismo como uma fase diversa do épico, fase ligada àespiritualida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> o indivíduo encontra o meio <strong>de</strong> subsistir espiritualmente <strong>de</strong>sligadoou <strong>em</strong> oposição à comunida<strong>de</strong>. Esta aproximação da atitu<strong>de</strong> lírica à marginalida<strong>de</strong>resulta <strong>de</strong> sua proscrição na utopia platônica. No final do século XIX, o poeta paraimpor seu estatuto, e não ficar relegado ao proscrito, assume a situação <strong>de</strong> poetamaldito, o que o afasta da condição <strong>de</strong> proscrição do fator religioso que <strong>de</strong> acordo como autor “per<strong>de</strong> a sua utilida<strong>de</strong> simbólica <strong>em</strong> proveito político ou do econômico.”(Júdice, 1998, p.23). Para o autor, isso colabora equivocadamente para i<strong>de</strong>ntificar poesiae lirismo, sendo que a lírica é um dos traços principais do poético, mas não o único, oque no fim do século XIX justifica o exclusivismo do <strong>em</strong>prego da expressão lírica como aparecimento do po<strong>em</strong>a <strong>em</strong> prosa. O prosaísmo que é um dos diferenciais da obra <strong>de</strong>Cesário Ver<strong>de</strong> que perpassa pela flânerie.Para estudar a poesia <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong>, é imprescindível abordar Bau<strong>de</strong>laire. Eleé citado na obra Estrutura da Lírica Mo<strong>de</strong>rna, <strong>de</strong> Hugo Friedrich, mais precisamente nocapítulo II, Bau<strong>de</strong>laire. Segundo o autor, o estilo lírico “nasceu na França, na segunda
69meta<strong>de</strong> do século XIX. Este mo<strong>de</strong>lo foi traçado a partir <strong>de</strong> Bau<strong>de</strong>laire, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter sidopressentido pelo al<strong>em</strong>ão Novalis e pelo americano Poe, Rimbaud e Mallarmé haviamindicado os limites extr<strong>em</strong>os aos qual a poesia po<strong>de</strong> ousar lançar-se”. (FRIEDRICH,1978, p. 141).Friedrich marca que, por <strong>de</strong>clarações análogas, Bau<strong>de</strong>laire é <strong>de</strong>signado o poetada “mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>”, título que se justifica, pois ele seria um dos criadores da expressão“mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>”. Em 1859, Bau<strong>de</strong>laire a <strong>em</strong>prega para expressar o particular do artistamo<strong>de</strong>rno, que engloba “a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver o paradoxo no <strong>de</strong>serto da metrópole a<strong>de</strong>cadência do hom<strong>em</strong> e pressentir uma beleza misteriosa”. (FRIEDRICH, 1978, p. 35).Sendo a civilização comercializada e dominada pela técnica é a probl<strong>em</strong>ática <strong>de</strong>Bau<strong>de</strong>laire, apresentada <strong>em</strong> sua poesia e examinada, teoricamente, <strong>em</strong> sua prosa. ParaFriedrich características fundamentais como a disciplina espiritual e a clareza <strong>de</strong> suaconsciência artística reún<strong>em</strong> o gênio poético e a inteligência crítica <strong>de</strong> Bau<strong>de</strong>laire.Sendo a obra <strong>de</strong> Bau<strong>de</strong>laire Flores do Mal que gerou a lírica dos posteriores. Friedrichjustifica,Les Fleurs Du Mal (1857) não são uma lírica <strong>de</strong> confissão, umdiário <strong>de</strong> situações particulares, por mais que haja penetradonelas o sofrimento <strong>de</strong> um hom<strong>em</strong> solitário, infeliz e doente.Bau<strong>de</strong>laire não datou nenhuma <strong>de</strong> suas poesias, como o faziaVictor Hugo. Não há nenhuma só que possa explicar-se <strong>em</strong> suaprópria t<strong>em</strong>ática a base <strong>de</strong> dados biográficos do poeta. ComBau<strong>de</strong>laire começa a <strong>de</strong>spersonalização da lírica mo<strong>de</strong>rna, pelomenos no sentido que a palavra lírica já não nasce da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>poesia e pessoa <strong>em</strong>pírica, como haviam pretendido oromânticos, <strong>em</strong> contraste com a lírica <strong>de</strong> muitos séculosanteriores (1978, p. 36-37).Bau<strong>de</strong>laire comunga com Poe a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> separar a lírica e o coração,consi<strong>de</strong>rando a ativida<strong>de</strong> poética uma ativida<strong>de</strong> intelectual, que proporciona a“capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentir da fantasia”, imag<strong>em</strong> do intelectual curvado sobre si mesmo, umhom<strong>em</strong> que sofre e é vítima da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> ao compor os po<strong>em</strong>as, mal olhando paraseu eu <strong>em</strong>pírico. Ao trabalhar no aperfeiçoamento <strong>de</strong> sua poesia, alguns nomearam estefato como falta <strong>de</strong> fecundida<strong>de</strong> do poeta. Os t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Bau<strong>de</strong>laire traz<strong>em</strong> variantes paraFriedrich, metamorfoses sintetizadas entre o satanismo e a i<strong>de</strong>alida<strong>de</strong> ainda nãoresolvida, mas que apresentam or<strong>de</strong>m e coerência <strong>em</strong> cada po<strong>em</strong>a.
- Page 1 and 2:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁCE
- Page 4 and 5:
DEDICATÓRIADedicamos esta disserta
- Page 6 and 7:
Cesário diz-me muito: gostava de f
- Page 8 and 9:
ABSTRACTThe Portuguese poet Joaquim
- Page 10 and 11:
SUMÁRIORESUMO.....................
- Page 12 and 13:
CONSIDERAÇÕES INICIAISAo entardec
- Page 14 and 15:
12revelando nos versos a crise port
- Page 16 and 17:
14grau, ao seu contexto histórico
- Page 18 and 19:
16se começa a falar em método com
- Page 20 and 21: 18faleceu em Connecticut, em 1995.
- Page 22 and 23: 20do tipo original/cópia, centro/p
- Page 24 and 25: 22No entanto, Nitrini (2000, p. 184
- Page 26 and 27: 24Essa verificação de que “a ar
- Page 28 and 29: 26Os homens sempre utilizaram sinai
- Page 30 and 31: 28intelectual. Segundo Lichtenstein
- Page 32 and 33: 30observar bem para apreender a sem
- Page 34 and 35: 32apud AGUIAR e SILVA, 1990, p. 167
- Page 36 and 37: 34e justificam a proposta poética
- Page 38 and 39: 36A terceira tendência revolucion
- Page 40 and 41: 38incluindo-se Camille Pissarro. Na
- Page 42 and 43: 40mercado foi desenvolvido no exter
- Page 44 and 45: 42Pissarro morreu em novembro de 19
- Page 46 and 47: 44O segundo artista é Claude Monet
- Page 48 and 49: 46Figura 5 refere-se à tela A pont
- Page 50 and 51: 48fazem parte do segundo plano. O p
- Page 52 and 53: 50Silva Pinto, que se tornara colec
- Page 54 and 55: 52desdobramento da lírica. Do cont
- Page 56 and 57: 54Classes Laboriosas, em 1852, que
- Page 58 and 59: 56Faria e Maia, Manuel de Arriaga,
- Page 60 and 61: 58De forma aprimorada.E eu vou acom
- Page 62 and 63: 60poemas narrativos como “Don Jua
- Page 64 and 65: 62O que se configura na poesia de C
- Page 66 and 67: 64do modelo Aristotélico” (2001,
- Page 68 and 69: 66Ocorrem mudanças na sociedade bu
- Page 72 and 73: 70Segundo Friedrich, a obra Flores
- Page 74 and 75: 72mundo; mas, por outro lado, o dâ
- Page 76 and 77: 744. CESÁRIO VERDE E CAMILLE PISSA
- Page 78 and 79: 76ao relacioná-lo com a abdicaçã
- Page 80 and 81: 78Camões. Há variantes entre a ed
- Page 82 and 83: 80mundo, ironicamente representado
- Page 84 and 85: 82sombrios da ordem social) é segu
- Page 86 and 87: 84Verde no século XIX que sabe que
- Page 88 and 89: 864.3 LEITURA DA PAISAGEM URBANA DO
- Page 90 and 91: 88Figura 8. PISSARRO, Camille. Boul
- Page 92 and 93: 90construções muito altas, árvor
- Page 94 and 95: 92Levou tempo para as pessoas se ac
- Page 96 and 97: 94data a expansão foi rápida, mas
- Page 98 and 99: 96Nas telas Boulevard Montmartre So
- Page 100 and 101: 98A carta é datada do dia 29 de ju
- Page 102 and 103: 100Na segunda estrofe, da parte I d
- Page 104 and 105: 102subjetiva, descreve pintando a c
- Page 106 and 107: 104da libra e do “shilling”, /
- Page 108 and 109: 106apresentam uma vida desgastada e
- Page 110 and 111: 108florestas em que há corsas, / N
- Page 112 and 113: 110falta de incentivo fiscal, técn
- Page 114 and 115: 112Figura 13. PISSARRO, Camille. Ho
- Page 116 and 117: 114da encosta do sexto plano com a
- Page 118 and 119: 116As Encostas de Vesinet, Yvelines
- Page 120 and 121:
118Imagem presente no poema OSentim
- Page 122 and 123:
120CONSIDERAÇÕES FINAISO homem in
- Page 124 and 125:
122Essas imagens chegam ao leitor e
- Page 126 and 127:
124REFERÊNCIASAGUIAR e SILVA, V. M
- Page 128 and 129:
126MOISÉS, M. A Literatura Portugu
- Page 130 and 131:
128Vê-se a cidade, mercantil, cont
- Page 132 and 133:
130E evoco, então, as crônicas na
- Page 134 and 135:
132E de uma padaria exala-se, inda
- Page 136 and 137:
134Fugiu da capital como da tempest
- Page 138 and 139:
136E assim postas, nos barros e are
- Page 140 and 141:
138Tinhas caninos, tinhas incisivos
- Page 142 and 143:
140Todos os tipos mortos ressuscito
- Page 144 and 145:
142De como, às calmas, nessas excu
- Page 146 and 147:
144Chorassem de resina as laranjeir
- Page 148:
146Se inda trabalho é como os pres