32apud AGUIAR e SILVA, 1990, p. 167). Assim, para o autor só a linguag<strong>em</strong> verbalpo<strong>de</strong> gerar a experiência do sublime.Gotthold Efraim Lessing, <strong>em</strong> 1776, publicou Laocoonte: ou sobre os limites dapintura e da poesia. Para Lessing, citado por Aguiar e Silva, (1990, p. 167-168), ossímbolos <strong>em</strong>pregados pela pintura são as figuras e as cores existentes no espaço,símbolos naturais, que po<strong>de</strong>m representar objetos existentes simultaneamente noespaço. Sendo assim, a pintura é consi<strong>de</strong>rada arte do espaço e a poesia, do t<strong>em</strong>po, domovimento e da ação. A matriz aristotélica-horaciana que perdurou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> oRenascimento é recusada no Romantismo, consi<strong>de</strong>rando que Lessing analisa asubjetivida<strong>de</strong> como princípio gerador da arte. O que é exaltado pelo Romantismo é acriação <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento da imitação, privilegiando a música, <strong>de</strong> acordo Aguiar e Silva,– a arte mais refractária ao mo<strong>de</strong>lo mimético – como a arte gêmea dapoesia: ut musica poesis. Expressão por excelência do gênio e daimaginação, discurso e canto inextricavelmente ligados à vidência e aà profecia, a poesia é para os românticos, como Hegel afirmou, a art<strong>em</strong>ais elevada, mais rica e mais <strong>completa</strong> (1990, p.168).A relação entre a poesia e a pintura durante e após a época romântica continua ater muita importância, permanecendo no plano da reflexão, da teoria estética e naspráticas artísticas. A poesia como arte primeira que perpassa as outras artes t<strong>em</strong> apalavra que esculpe e pinta, constroi edifícios e imita, até certo ponto, a melodia damúsica. Este interrelacionamento da poesia com as outras artes é fundamentado pelofilósofo francês Victor Cousin (1792-1867), que consi<strong>de</strong>ra a poesia o centro possível daexpressão (apud AGUIAR e SILVA, 1990, p. 168).Estabelecendo-se um paralelo, o Romantismo recupera o subjetivismo, a vidainterior do artista. O Realismo e o Parnasianismo valorizam a representação do mundoexterior, havendo um interesse acentuado e atenção às formas, aos volumes e às cores,<strong>de</strong>scrições e <strong>de</strong>talhes exatos, b<strong>em</strong> como ao colorido e ao pitoresco. Há uma riqueza <strong>de</strong><strong>de</strong>talhes da poética realista e parnasiana que proporciona uma viva plasticida<strong>de</strong> napoesia. De acordo com Aguiar e Silva (1990, p. 169) a poesia “espacializa-se, adquirecaracterísticas estruturais que a faz<strong>em</strong> funcionar s<strong>em</strong>ioticamente <strong>de</strong> modo s<strong>em</strong>elhante aotexto pictórico.” A poesia parnasiana, por sua vez, apresenta valores plásticos <strong>em</strong> seudiscurso literário, “[...] tendo autores como Banville e Hérédia explorado comfreqüência e muita engenhosida<strong>de</strong> os efeitos espaciais, ópticos e icônicos, das estruturas
33prosódicas e estróficas do po<strong>em</strong>a – rimas, dimensão do verso, formato das estrofes.”(AGUIAR e SILVA, 1990, p. 168). O autor ilustra suas i<strong>de</strong>ias com o po<strong>em</strong>a De tar<strong>de</strong>,<strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong>:De tar<strong>de</strong>Naquele pic-nic <strong>de</strong> burguesas,Houve uma coisa simplesmente bela,E que, s<strong>em</strong> ter história n<strong>em</strong> gran<strong>de</strong>zas,Em todo caso dava uma aguarela.Foi quando tu, <strong>de</strong>scendo do burrico,Foste colher, s<strong>em</strong> imposturas tolas,A um granzoal azul <strong>de</strong> grão-<strong>de</strong>-bicoUm ramalhete rubro <strong>de</strong> papoulas.Pouco <strong>de</strong>pois, <strong>em</strong> cima duns penhascos,Nós acampamos, inda o Sol se via;E houve talhadas <strong>de</strong> melão, damascos,E pão-<strong>de</strong>-ló molhado <strong>em</strong> malvasia.Mas, todo púrpuro a sair da rendaDos teus dois seios como duas rolas,Era o supr<strong>em</strong>o encanto da merendaO ramalhete rubro das papoulas!(VERDE, Cesário, 1982, p.77)O po<strong>em</strong>a De tar<strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plifica o discurso plástico <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong>. É arepresentação impressionista <strong>de</strong> um cenário campestre <strong>em</strong> que se mov<strong>em</strong> figuras queparticipam <strong>de</strong> uma merenda, <strong>de</strong>stacando-se, especialmente, “o ramalhete rubro daspapoulas”, que se <strong>de</strong>staca do <strong>de</strong>cote rendilhado do vestido <strong>de</strong> uma jov<strong>em</strong>, contrastando,<strong>em</strong> forma e cor, com a brancura dos seus dois seios, “como duas rolas”. A partir dosel<strong>em</strong>entos alusivos (cor e forma) ocorre a analogia entre o texto verbal e uma aquarelaque r<strong>em</strong>ete a uma tela pela força das cores: um granzoal azul 4 <strong>de</strong> grão-<strong>de</strong>-bico; overmelho das papoulas, “ramalhete rubro <strong>de</strong> papoulas”; dos tons <strong>de</strong> amarelo oudourado (sol; talhadas <strong>de</strong> melão, damascos, / E pão-<strong>de</strong>-ló molhado <strong>em</strong> malvasia) e dasubentendida cor branca da renda e dos seios “como duas rolas”. O ponto central doquadro é, s<strong>em</strong> dúvida, a mancha vermelha do “ramalhete rubro das papoulas” que,la<strong>de</strong>ado pelos dois seios e pelo <strong>de</strong>cote, sugere certa sensualida<strong>de</strong>.Os el<strong>em</strong>entosreferentes à paisag<strong>em</strong>, como o “penhasco” e o “sol que ainda se via” dão vida ao po<strong>em</strong>a4 Grifos nossos.
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