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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

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79Ah! como a raça ruiva do porvirEnlevo-me, a cismar, por boqueirões, por becos,Ou erro pelos cais a que se atracam botes.Na primeira estrofe do Po<strong>em</strong>a I, Ave-Marias, <strong>de</strong>signação das seis da tar<strong>de</strong>,ironicamente sugestiva da organização da vida, <strong>de</strong> acordo com o ritmo das gran<strong>de</strong>scida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> unida pela <strong>de</strong>voção religiosa, o poeta abre com a<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> uma angustiada reação psicológica ao impacto do anoitecer nas ruas quelhe são familiarizadas - nas nossas ruas – <strong>de</strong> Lisboa: “Nas nossas ruas, ao anoitecer, /Há tal soturnida<strong>de</strong>, há tal melancolia, / Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia /Despertam-me um <strong>de</strong>sejo absurdo <strong>de</strong> sofrer.”.A visão das sombras que se acentuam, os sons abafados (o bulício) e o cheiro damaresia exalado pelo rio (o Tejo, a maresia) <strong>de</strong>spertam no eu lírico um <strong>de</strong>sejo absurdo<strong>de</strong> sofrer (verso 4), ou seja, a melancolia provocada pela cida<strong>de</strong>. Na segunda estrofe, anoite <strong>de</strong>sce opressivamente: O céu parece baixo e <strong>de</strong> neblina, e nessa crescenteescuridão, os prédios e os seres fun<strong>de</strong>m-se numa massa informe, num todo orgânico: Eos edifícios, com as chaminés, e a turba/ Toldam-se duma cor monótona e londrina.Expan<strong>de</strong>m-se, nesse sentido, as associações evocadas pela <strong>de</strong>scrição da cida<strong>de</strong>,l<strong>em</strong>brando que Londres era a gran<strong>de</strong> capital mercantil da Europa no século XIX, assimcomo Paris é a cida<strong>de</strong> presente nas telas <strong>de</strong> Camille Pissarro.Em continuação, na terceira estrofe, há o efeito aprisionador da cida<strong>de</strong>, que sefecha <strong>em</strong> si próprio, à medida que <strong>de</strong>screve as sombras e o ar que contamina e provocaum <strong>de</strong>sconforto fisiológico (O gás extravasado enjoa-me, perturba,). Descrev<strong>em</strong>-se osque vão <strong>de</strong> carro <strong>de</strong> aluguel ou por via férrea para Madrid, Paris, Berlim, SãoPetersburgo e o mundo, <strong>de</strong>monstrando que a felicida<strong>de</strong> está muito além das mazelas dacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa:Bat<strong>em</strong> os carros <strong>de</strong> aluguer, ao fundo,Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!Ocorr<strong>em</strong>-me <strong>em</strong> revista, exposições, países:Madrid, Paris, Berlim, S. Petesburgo, o mundo!No primeiro verso há uma projeção ligada à vida movimentada da cida<strong>de</strong>; aofundo, os carros <strong>de</strong> aluguel que levam às vias férreas. Essa <strong>de</strong>scrição da cida<strong>de</strong> revela aoleitor o seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> fugir, não necessariamente às cida<strong>de</strong>s nomeadas, mas para o

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