96Nas telas Boulevard Montmartre Sol da Tar<strong>de</strong> (1897) e Boulevard Montmartre àNoite (1897) ocorre o mesmo processo <strong>de</strong> recorte <strong>de</strong> uma cena quando o observador seposiciona do lado esquerdo, integra-se à ela, tendo uma visão geral da qual po<strong>de</strong> seafastar ou aproximar-se. No ângulo <strong>em</strong> que o observador se encontra, sua visão éampliada para a marg<strong>em</strong> direita e o horizonte. O seu campo <strong>de</strong> visão do lado esquerdofica limitado, mas não prejudicado, porque consegue inserir-se na cena.As pessoas no po<strong>em</strong>a são <strong>de</strong>signadas <strong>em</strong> sua maioria por suas profissões. Nastelas, por meio da técnica da pintura impressionista, não se distingu<strong>em</strong> as pessoas, queestão geralmente <strong>em</strong> grupos, vestidas com roupas <strong>de</strong> cores escuras e pesadas e oshomens usando chapéus. A movimentação das pessoas e das carruagens é intensa,obe<strong>de</strong>cendo ao mesmo ritmo acelerado do po<strong>em</strong>a. As rimas são interpoladas o quedistância o fato e os aproxima nos pares <strong>de</strong> rimas <strong>em</strong>parelhadas. Na tela BoulevardMontmartre Sol da Tar<strong>de</strong> (1897) no primeiro plano, as pessoas também se encontram<strong>em</strong> pares e isolados, oferecendo-nos um ritmo contínuo, tal como o do po<strong>em</strong>a. Tambémreforçado pelo recurso do eco ao longo do po<strong>em</strong>a, “E as frotas dos avós 10 e os nómadasar<strong>de</strong>ntes / Flocos <strong>de</strong> pós <strong>de</strong> arroz pairam sufocadores / Da solidão regouga umcauteleiro rouco.”. As rimas internas, as aliterações <strong>em</strong> r, b e <strong>em</strong> k e os versosexclamativos reafirmam a i<strong>de</strong>ia do fim <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>, das pessoas <strong>em</strong> movimento como osdois últimos versos da quinta estrofe da primeira parte do po<strong>em</strong>a: “Ah! como a raça ruivado porvir /Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos, / Ou erro pelos cais a que seatracam botes.”.As mudanças no ambiente não são apenas provocadas pelo hom<strong>em</strong>, mastambém pela natureza, cabendo ressaltar que o hom<strong>em</strong> também interfere na natureza,gerando catástrofes. Em 1755, segundo Serrão (1962, p. 264), houve um terr<strong>em</strong>oto queatingiu a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa, <strong>de</strong>ixando <strong>em</strong> pé apenas a zona oriental da cida<strong>de</strong>. Areconstrução da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>u-lhe um ar <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Este fato não escapou ao olhardo poeta. Ao longo do po<strong>em</strong>a fica explicito as mudanças seja no espaço físico da cida<strong>de</strong>como nas atitu<strong>de</strong>s sociais que se misturam: “E os edifícios, com as chaminés, e a turba /Toldam-se duma cor monótona e londrina”; a cor londrina, r<strong>em</strong>etendo a industrialização<strong>de</strong> Londres, acompanhada <strong>de</strong> edifício e chaminés. Dois espaços distintos o cais local <strong>de</strong>10 Grifos nossos.
97pessoas menos favorecida e hotel da moda, traço da socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna <strong>em</strong> ocorre ocompartilhamento do mesmo espaço por grupos sociais <strong>de</strong> classe social diferente: “E <strong>em</strong>terra num tinir <strong>de</strong> louças e talheres / Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.”Nas telas <strong>de</strong> Pissarro, a cida<strong>de</strong> é o ícone do cerceamento do ser humano, assimcomo no po<strong>em</strong>a, uma prisão labiríntica e infernal i<strong>de</strong>ntificada com a escuridão, amiséria, a solidão e a morte. Na tela, o observador po<strong>de</strong> posicionar-se <strong>em</strong> um pontoqualquer no boulevard e concluir que há um longo percurso à sua frente, nãoconseguindo, porém, visualizar o horizonte. Camille Pissarro pintou o boulevard, no fimda tar<strong>de</strong> e numa noite <strong>de</strong> chuva fina, reforçando a soturnida<strong>de</strong> da noite, e a imag<strong>em</strong> seextinguindo no horizonte. O colorido <strong>em</strong> tons terrosos escuros e <strong>em</strong> vermelho, asárvores com poucas folhas, as pessoas com roupas escuras e as carruagens pretasconfer<strong>em</strong> às telas realismo e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, um dinamismo, movimento, vibração enostalgia.O céu baixo é apresentado tanto no po<strong>em</strong>a como nas telas. A menção ao céu nopo<strong>em</strong>a é pouca (primeira parte do po<strong>em</strong>a, segunda estrofe): “O céu parece baixo e <strong>de</strong>neblina” e nas telas também, sendo reduzida sua representação, pois é a cida<strong>de</strong> com suasedificações e as pessoas que são os el<strong>em</strong>entos prepon<strong>de</strong>rantes. Há aglomeração <strong>de</strong>pessoas no início da noite que com o passar das horas diminui, <strong>de</strong>monstrando que a vidana cida<strong>de</strong> não cessa.4.4 Po<strong>em</strong>a NÓS – o olhar <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong> sobre a cida<strong>de</strong> e o campoO po<strong>em</strong>a “Nós” foi publicado <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1884, no número 9 da Revista AIlustração. Junto com o texto Cesário Ver<strong>de</strong> envia ao editor Mariano Pina uma cartaexplicando as razões <strong>de</strong> sua produção e a t<strong>em</strong>ática tratada no po<strong>em</strong>a.Em todo o caso s<strong>em</strong>pre lhe direi que é um trabalho réussi, correto,honesto e dum sentimento simples e bom. Chama-se “Nós”, e é talveza minha produção última, final. Trato <strong>de</strong> mim, dos meus, <strong>de</strong>screvo asproprieda<strong>de</strong>s no campo <strong>em</strong> que nós criamos a fartura da vida <strong>de</strong>província, as alegrias do labor <strong>de</strong> todos os dias, as mortes que t<strong>em</strong>havido na nossa família, e enfim os contrat<strong>em</strong>pos da existência. Paraanimar tudo isso a vibração vital eu <strong>em</strong>preguei todo o colorido, todo opitoresco, todo o amor que senti que me foi possível acumular.(DAUNT, 2006, p. 214).
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