R - D - CLAITON CESAR CZIZEWSKI.pdf - Universidade Federal do ...
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um espaço menor <strong>do</strong> que necessitam. A prova dessa incapacidade física de suporte<br />
às demandas familiares está, aliás, no eixo gera<strong>do</strong>r da trama: a ausência de um<br />
quarto <strong>do</strong>rmitório, a ser ocupa<strong>do</strong>, de forma exclusiva, por Dóris. Sob um olhar mais<br />
atento, percebe-se que o espaço onde se desenvolve o conflito <strong>do</strong>s Souza reflete a<br />
desestruturação da família. Os avós moram na casa <strong>do</strong> filho e ocupam o <strong>do</strong>rmitório<br />
que deveria pertencer à neta. Por isso, esta coabita o quarto <strong>do</strong> irmão, que guarda o<br />
instrumento musical que pratica, a bateria, no sótão <strong>do</strong> apartamento <strong>do</strong> vizinho. Por<br />
sua vez, o pai improvisou seu escritório no cômo<strong>do</strong> destina<strong>do</strong> à empregada. Nesse<br />
contexto, tamanha mobilidade pode ser entendida como uma metáfora da<br />
desarmonia da família, um sinal de que tu<strong>do</strong> ali parece ―fora <strong>do</strong> lugar‖.<br />
Da mesma forma, a discrepância entre o tamanho <strong>do</strong> apartamento e as<br />
necessidades de espaço <strong>do</strong>s Souza serve de contraponto à personalidade de Dóris,<br />
que sempre deseja mais <strong>do</strong> que os pais podem lhe oferecer e demonstra grande<br />
dificuldade em se ajustar aos limites impostos pela realidade financeira da família.<br />
Quanto ao desfecho da trama, a mensagem final parece atestar, sem<br />
mascaramentos, a impotência <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos na sociedade <strong>do</strong>s anos 2000 e a<br />
marginalidade a que esta parcela da população é relegada. Afinal, conforme a<br />
vontade da neta, Flora e Leopol<strong>do</strong> saem da casa <strong>do</strong> filho e vão morar em um local<br />
especializa<strong>do</strong> no cuida<strong>do</strong> à terceira idade. Dóris alcança o objetivo de reaver seu<br />
quarto e apenas insinua arrependimento pelos maus-tratos aos avós, conforme<br />
verifica<strong>do</strong> na última cena da personagem, na qual ela estende a mão a uma i<strong>do</strong>sa<br />
que está sentada em um banco de praça.<br />
Finalmente, no que tange às personagens, observa-se o seguinte: à exceção<br />
<strong>do</strong> casal de i<strong>do</strong>sos Flora e Leopol<strong>do</strong>, essencialmente amáveis, e da empregada,<br />
Zilda (Roberta Rodrigues), que encarna o estereótipo da serviçal negra, petulante,<br />
mas bem-intencionada, os demais membros da família fictícia são marca<strong>do</strong>s pela<br />
ambiguidade.<br />
Protagonista da trama sobre maus tratos aos i<strong>do</strong>sos, Dóris é individualista,<br />
egoísta e cruel, mas apresenta demonstrações de humanidade e afeto, inclusive<br />
com os avós que maltrata e quem acusa, recorrentemente, de prejuízos financeiros,<br />
apesar da contribuição deles ao sustento da família. Debochada, suas declarações<br />
ácidas e preconceituosas, por vezes, soam cômicas. Além disso, a neta é uma<br />
jovem despojada e bastante sexualizada; características reforçadas pelos elementos<br />
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