R - D - CLAITON CESAR CZIZEWSKI.pdf - Universidade Federal do ...
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poder que a leva a ser reconhecida como legítima, a partir de uma relação de<br />
comunicação pedagógica, isto é, de imposição e inculcação de um arbitrário cultural<br />
segun<strong>do</strong> um mo<strong>do</strong> arbitrário de imposição e inculcação‖ (p.21). Logo, é possível<br />
perceber uma analogia intrínseca no que corresponde à essência tanto da<br />
comunicação quanto da educação.<br />
Além disso, o fazer educativo somente se viabiliza a partir de processos<br />
comunicativos por meio <strong>do</strong>s quais um emissor transmite conteú<strong>do</strong>s a um ou mais<br />
receptores. Esse emissor, por seu turno, deve gozar de uma autoridade pedagógica<br />
que lhe permita ―definir suas informações e conhecimentos como necessários‖<br />
(BOURDIEU, 1975, p.54), bem como impô-los à recepção. Já ao receptor ou<br />
receptores cabe reconhecer essa autoridade e interiorizar as mensagens. Aqui, mais<br />
uma vez, é possível vislumbrar uma relação de similitude entre o trabalho<br />
pedagógico e a mediação realizada pela comunicação enquanto prática social.<br />
Diante disso, afirma Bourdieu que os bens simbólicos produzi<strong>do</strong>s pela mídia<br />
carregam em si uma autoridade pedagógica informal, anônima e difusa. Afinal, os<br />
meios de comunicação<br />
escolhem <strong>do</strong> cotidiano e pautam os temas (selecionam e combinam) frente<br />
aos quais tomamos posição, discutimos, avaliamos e damos senti<strong>do</strong> a<br />
nossa experiência <strong>do</strong> dia-a-dia. Podemos falar, portanto, de uma ação<br />
pedagógica difusa e involuntária <strong>do</strong>s meios de comunicação. Nessa<br />
operação de narração-edição, é difundi<strong>do</strong> um saber sobre o mun<strong>do</strong> que se<br />
insere no cotidiano, geran<strong>do</strong> conversas, reavaliações da própria<br />
experiência, exercen<strong>do</strong> pressões políticas ou até provocan<strong>do</strong> mudanças de<br />
comportamento (Baccega apud NICOLOSI, 2009, p. 59).<br />
Por essa razão, é possível conceber a telenovela realista, como a<br />
consagrada pelo modelo formal brasileiro a partir da década de 1970, como uma<br />
ação pedagógica implícita, posto que reflete, no plano da narrativa, a vida social.<br />
Dela, resulta uma função educativa involuntária e informal.<br />
A pessoa cresce se nutrin<strong>do</strong> e se sacian<strong>do</strong> de informações novelísticas, e<br />
tem a ilusão de poder participar de um sistema <strong>do</strong> qual ela se sente<br />
excluída. Diante de um universo cultural carente, a apropriação da<br />
telenovela ultrapassa a dimensão <strong>do</strong> lazer, impregna as rotinas de vida de<br />
tal maneira que o receptor já não a percebe como opção de divertimento.<br />
Jovens e crianças sem acesso a outras formas de diversão e cultura podem<br />
deslocar o eixo de interesse e transformar a programação de telenovela em<br />
campo de <strong>do</strong>mínio e conhecimento, até como afirmação pessoal diante <strong>do</strong><br />
grupo (LOPES; BORELLI; RESENDE, 2002, p. 373).<br />
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