Newton Ferreira da Silva MARÍLIA 2011 - Faculdade de Filosofia e ...
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precisamente do significado <strong>de</strong> um ‗comunismo‘ que se forjaria à base <strong>de</strong> interesses<br />
individuais her<strong>da</strong>dos do capitalismo.‖<br />
Por isso mesmo Che queria que os estímulos materiais fossem utilizados <strong>de</strong> forma<br />
limita<strong>da</strong> na transição, até serem completamente anulados com o advento, em sua plenitu<strong>de</strong> e<br />
totali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> socialista. Segundo ele, o estímulo material é parte integrante do<br />
sistema capitalista, não cabendo usá-lo, portanto, em um modo <strong>de</strong> organização social e<br />
econômico mais avançado e que se baseia, antes <strong>de</strong> qualquer coisa, em um grau <strong>de</strong><br />
consciência mais profundo dos seres humanos.<br />
O estímulo material era evitado porque se queria impedir, primordialmente, a<br />
concorrência dos operários entre si para alcançar algum privilégio individual. O objetivo era<br />
sempre atribuir ao trabalho um significado <strong>de</strong> <strong>de</strong>ver social, estimulando a perspectiva<br />
coletivista – que seria refleti<strong>da</strong> em atitu<strong>de</strong>s solidárias e não competidoras. O trabalhador<br />
consciente não necessitaria <strong>de</strong> um incentivo material individual para executar eficazmente<br />
qualquer tarefa a ele imputa<strong>da</strong> ou por ele assumi<strong>da</strong>.<br />
121<br />
[...] não negamos a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> objetiva do estímulo material, mas somos<br />
renitentes quanto ao seu uso como alavanca impulsionadora fun<strong>da</strong>mental.<br />
Consi<strong>de</strong>ramos que, em economia, este tipo <strong>de</strong> alavanca adquire rapi<strong>da</strong>mente<br />
categoria per se e logo impõe sua própria força nas relações entre os<br />
homens. Não se po<strong>de</strong> esquecer que vem do capitalismo e está <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> a<br />
morrer no socialismo. [...] Estímulo material direto e consciência são termos<br />
contraditórios, em nosso conceito. (GUEVARA, 1982i, p.189-90)<br />
Che chega a afirmar que os problemas existentes no processo <strong>de</strong> transição socialista<br />
em Cuba (<strong>de</strong>ntre eles baixa produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, baixo nível <strong>de</strong> conscientização <strong>da</strong>s massas,<br />
burocratismo e inicial <strong>de</strong>senvolvimento infra-estrutural) nunca seriam solucionados<br />
aumentando os estímulos materiais <strong>da</strong> classe trabalhadora em geral. Adiciona a esta idéia o<br />
fato concreto concernente à improprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se avaliar um operário individualmente e <strong>de</strong><br />
acordo com a sua produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> – mecanismo utilizado no sistema <strong>de</strong> autogestão 69 <strong>da</strong>s<br />
69 Autogestão ou Cálculo Econômico (CE) era o método <strong>de</strong> gerenciamento e planejamento <strong>da</strong> produção<br />
industrial usado na maior parte dos países ditos socialistas do leste europeu (inclusive na URSS). Preconizava a<br />
in<strong>de</strong>pendência econômica e administrativa <strong>da</strong>s empresas estatais. Isto é, ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> produção ou fábrica era<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> uma empresa e tinha personali<strong>da</strong><strong>de</strong> jurídica própria e individual, o que redun<strong>da</strong>va em gran<strong>de</strong><br />
autonomia <strong>de</strong>stas em relação ao Estado e propiciava um menor alcance <strong>da</strong> planificação centraliza<strong>da</strong>. A<strong>de</strong>mais,<br />
centralizava os estímulos ao aumento <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> laboral nos incentivos materiais individuais. Guevara era<br />
crítico <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> gestão <strong>da</strong>s indústrias e propugnava a aplicação do método contido no Sistema Orçamentário<br />
<strong>de</strong> Financiamento (SOF). O SOF previa que uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção que atuavam no mesmo setor, com base<br />
tecnológica semelhante e cuja produção tinha <strong>de</strong>stino comum, <strong>de</strong>veriam compor um gran<strong>de</strong> conglomerado que