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Newton Ferreira da Silva MARÍLIA 2011 - Faculdade de Filosofia e ...

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To<strong>da</strong>via, Guevara negava convictamente qualquer possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se instituir o<br />

estímulo material individual 71 (para ele, o modo <strong>de</strong> aumentar a produção mais pernicioso à<br />

consciência) como forma <strong>de</strong> incitar os trabalhadores à prática <strong>de</strong> mais horas <strong>de</strong> trabalho<br />

voluntário. Até, ocasionalmente, quando queria repassar aos trabalhadores <strong>de</strong>stacados e<br />

homenageados alguns presentes que ele havia ganhado anteriormente, Che o fazia <strong>de</strong> maneira<br />

discreta e sem alar<strong>de</strong>. De fato, não queria motivar os <strong>de</strong>mais operários com a esperança <strong>de</strong><br />

receberem bons presentes por terem cumprido uma tarefa que era, antes <strong>de</strong> tudo, um <strong>de</strong>ver<br />

moral.<br />

125<br />

Por esses dias <strong>de</strong> Páscoa, caíram em minhas mãos uns pequenos presentes,<br />

não tão pequenos. Achamos que estes presentes, em caráter pessoal,<br />

po<strong>de</strong>riam ser entregues aos companheiros que mais se <strong>de</strong>stacaram. Não vou<br />

mostrá-los aqui, porque são muito bonitos e po<strong>de</strong>riam se confundir com um<br />

estímulo material, e não é essa minha intenção. (GUEVARA, 1982e, p.143)<br />

Ato contínuo, Che enfatiza a crítica aos estímulos materiais afirmando que, além <strong>de</strong><br />

reforçarem o pensamento individualista e anti-solidário, eles não têm nenhum po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

atrativi<strong>da</strong><strong>de</strong> em uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> socialista – são, <strong>de</strong> fato, pertencentes a uma categoria que<br />

conforma a sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong> regi<strong>da</strong> pelo capital, on<strong>de</strong> um homem po<strong>de</strong> ficar muito mais rico do<br />

que a maioria. No socialismo isto não é possível – há um preceito <strong>de</strong>sse sistema que preconiza<br />

a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> condições socioeconômicas entre os membros <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> – e a insistência<br />

nos estímulos materiais então per<strong>de</strong>ria o sentido. A<strong>de</strong>mais, on<strong>de</strong> a moral e a ética socialistas<br />

estão mais espraia<strong>da</strong>s, a utilização do benefício material (quase sempre apropriado priva<strong>da</strong> e<br />

individualmente) se oblitera naturalmente e ten<strong>de</strong> a per<strong>de</strong>r a força que tem nas formas <strong>de</strong><br />

organização econômica e social cultivadoras do individualismo e <strong>da</strong> concorrência em to<strong>da</strong>s as<br />

esferas.<br />

Desse modo, além <strong>de</strong> significar a presença i<strong>de</strong>ológica objetiva<strong>da</strong> do antigo modo <strong>de</strong><br />

produção, tal incitação via interesse individual não tem como repercutir, materialmente, em<br />

prol do trabalhador tomado isola<strong>da</strong>mente. Ou seja, no socialismo não se acumula riqueza<br />

indiscrimina<strong>da</strong>mente e ao bel-prazer <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um, há, pelo contrário, uma divisão equitativa e<br />

71 Ernest Man<strong>de</strong>l (1982, p.168) sintetizou brilhantemente a concepção <strong>de</strong> Che a respeito dos estímulos materiais<br />

afirmando que Guevara não rechaça ―o emprego dos estímulos materiais. Mas subordina tal atitu<strong>de</strong> a duas<br />

condições. Em primeiro lugar, é preciso escolher aquelas formas <strong>de</strong> estímulos materiais que não reduzam a<br />

coesão interna <strong>da</strong> classe operária, que não anteponham os trabalhadores entre si; por isso preconiza um sistema<br />

<strong>de</strong> incentivos coletivos (<strong>de</strong> equipes ou <strong>de</strong> empresas, mais do que um sistema <strong>de</strong> incentivos individuais). Portanto,<br />

se opõe a to<strong>da</strong> generalização abusiva dos incentivos materiais, porque criam efeitos <strong>de</strong>sagregadores sobre a<br />

consciência <strong>da</strong>s massas.‖

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