Newton Ferreira da Silva MARÍLIA 2011 - Faculdade de Filosofia e ...
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está tampouco naquilo que os homens pensam. O que importa são as suas relações reais.‖<br />
(LIMA FILHO, 1997, mimeo)<br />
Fi<strong>de</strong>l e Che atribuíam ao processo <strong>de</strong> conscientização do povo cubano o êxito e a<br />
pereni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Revolução. Isto significava para ambos que não bastava apenas, com o objetivo<br />
<strong>de</strong> garantir a vitória do socialismo na ilha, <strong>de</strong>senvolver-se industrialmente e distribuir esses<br />
ganhos <strong>de</strong> forma coletiva e burocrática – sem um sentido e significado claros <strong>da</strong>quela<br />
transformação para os trabalhadores.<br />
Desse modo, o que salta às vistas <strong>de</strong> Fi<strong>de</strong>l Castro como a gran<strong>de</strong> contribuição histórica<br />
e teórica <strong>de</strong> seu parceiro <strong>de</strong> revolução e <strong>de</strong> governo Che Guevara – a prevalência <strong>da</strong><br />
problemática <strong>da</strong> consciência – é o que consi<strong>de</strong>ramos ser, concomitantemente, o limite <strong>da</strong><br />
tentativa <strong>de</strong>ste último na sua elaboração <strong>de</strong> uma teoria <strong>da</strong> transição socialista em um país <strong>de</strong><br />
capitalismo miserável e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Acreditamos que o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma consciência<br />
pretensamente comunista, sem a objetivação <strong>de</strong> uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva e <strong>de</strong> uma<br />
sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong> concretamente comunistas, não propiciará o advento e o estabelecimento <strong>de</strong><br />
uma revolução ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente comunista. 79<br />
Che acreditava que os proletários mais conscientes <strong>de</strong>veriam <strong>de</strong>dicar-se mais que os<br />
outros à sua ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, mesmo que a forma <strong>de</strong> execução <strong>de</strong>la ain<strong>da</strong> fosse a mesma <strong>de</strong> outrora –<br />
o que remetia a séculos <strong>de</strong> exploração e espoliação colonial e capitalista. Não obstante esse<br />
limite objetivo, Guevara acreditava no po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> compreensão que os trabalhadores pu<strong>de</strong>ssem<br />
ter a respeito do sentido <strong>de</strong>sse mesmo trabalho – olhando-o com olhos ―revolucionários‖ o<br />
proletariado sentiria paixão em relação a algo que, até pouco tempo atrás, lhe causava aversão<br />
e repulsa. Assim, ao invés <strong>de</strong> livrar-se do trabalho – o máximo que fosse possível diminuindo<br />
drasticamente as horas <strong>de</strong>dica<strong>da</strong>s às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> reprodução social –, o homem, na revolução<br />
socialista cubana, teria que buscar a sua liber<strong>da</strong><strong>de</strong> mediante o exercício <strong>de</strong> mais trabalho 80 .<br />
De acordo com É<strong>de</strong>r Sa<strong>de</strong>r (2004), Che fazia uso <strong>de</strong> um ―voluntarismo<br />
revolucionário‖ (valor do exemplo, <strong>da</strong> educação, <strong>da</strong> compreensão) para tentar criar nos<br />
trabalhadores uma consciência socialista e solidária – o que redun<strong>da</strong>ria, assim esperava-se –<br />
em uma nova relação objetiva do proletariado com o velho trabalho. Portanto, a consciência<br />
79 Lima Filho sentenciou a respeito <strong>de</strong>ssa ver<strong>da</strong><strong>de</strong> factual: ―Não se po<strong>de</strong>, por um puro ato <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> consciente,<br />
construir uma nova or<strong>de</strong>m social sem que as bases materiais <strong>de</strong>sta estejam lança<strong>da</strong>s ou em vias <strong>de</strong> surgir.‖ (1997,<br />
mimeo)<br />
80 Conforme afirmação <strong>de</strong> Florestan Fernan<strong>de</strong>s: ―O trabalho, por sua vez, passou <strong>de</strong> objeto <strong>da</strong> liberação para<br />
fator <strong>da</strong> liberação. Ele está no eixo <strong>da</strong> política revolucionária e no centro <strong>da</strong> reconstrução do homem e <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Cuba.‖ (FERNANDES, 1979, p.151)<br />
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