Newton Ferreira da Silva MARÍLIA 2011 - Faculdade de Filosofia e ...
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completa <strong>de</strong> to<strong>da</strong> produção social entre os membros que compõem o coletivo – o efeito<br />
―sedutor‖ do estímulo material no socialismo torna-se, obrigatoriamente, diminuto, pois a<br />
oferta <strong>de</strong> bens e as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> acumulação não chegam a um patamar atrativo.<br />
Conforme Guevara (1982h, p.58):<br />
126<br />
[...] o modo como se po<strong>de</strong> conceber o incentivo material em sistema<br />
socialista – já disse – é muito limitado (não tendo um valor <strong>de</strong> motor, <strong>de</strong><br />
incentivo real). Em síntese, [...] po<strong>de</strong>-se ganhar muito pouco, talvez na<strong>da</strong>,<br />
acaba-se per<strong>de</strong>ndo o gosto do jogo e <strong>da</strong> premiação [...] exatamente porque<br />
não representa um incentivo suficiente. Seria como dizer, então, que<br />
escolhemos como arma contra o capitalismo uma arma do capitalismo,<br />
transferindo-a para um contexto on<strong>de</strong> necessariamente não tem atrativo,<br />
eficácia, porque só po<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver em uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> capitalista plena,<br />
isto é, em uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> cuja filosofia é a luta do homem contra o homem,<br />
dos grupos contra os grupos e <strong>da</strong> anarquia produtiva.<br />
Com esse i<strong>de</strong>ário, Che queria, já na transição, <strong>de</strong>sencorajar a procura <strong>de</strong> soluções<br />
individualistas em tempos <strong>de</strong> penúria, o que faria com que os operários aumentassem a sua<br />
produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> objetivando prioritariamente benefícios materiais pessoais. O crescimento<br />
econômico po<strong>de</strong>ria até advir <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> estímulos materiais lança<strong>da</strong> pelo Estado<br />
Revolucionário, contudo, graças ao individualismo que enseja e resulta, tal medi<strong>da</strong> afastaria<br />
todos do sistema e <strong>da</strong> lógica socialista, que prescreve, em primeiro lugar, uma consciência<br />
gregária. Conforme E<strong>de</strong>r Sa<strong>de</strong>r: ―Quando para aumentar a produção, apela-se essencialmente<br />
para a concorrência entre trabalhadores e entre empresas, termina-se por estimular um<br />
crescimento que se afasta do socialismo.‖ (2004, p.49)<br />
Além disso, segundo o próprio Che Guevara, ao utilizar categorias capitalistas para a<br />
construção do sistema socialista corre-se o risco <strong>de</strong>, ora utilizando instrumental teórico <strong>de</strong> um<br />
modo <strong>de</strong> produção, ora usando <strong>de</strong> outro, per<strong>de</strong>r-se no meio do caminho e não saber mais o<br />
que exatamente se está erigindo.<br />
Perseguindo a fantasia <strong>de</strong> realizar o socialismo graças às armas que nos<br />
legou o capitalismo (a mercadoria como célula econômica, a rentabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, o<br />
interesse material individual como alavanca etc.) po<strong>de</strong>-se chegar a um beco<br />
sem saí<strong>da</strong>. Po<strong>de</strong>-se percorrer uma longa distância na qual os caminhos se<br />
cruzam muitas vezes e on<strong>de</strong> é difícil perceber o momento em que se errou <strong>de</strong><br />
caminho. (GUEVARA, 2004d, 253-4)