Newton Ferreira da Silva MARÍLIA 2011 - Faculdade de Filosofia e ...
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impediam o avanço mais acelerado <strong>da</strong> revolução – a falta <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e conhecimento<br />
técnicos, afirmava, era uma <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s travas do processo <strong>de</strong> transformação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
cubana. O bloqueio (embargo) econômico imposto a Cuba pelos Estados Unidos e a<br />
emigração em massa <strong>de</strong> pessoal técnico qualificado juntavam-se à inexperiência dos<br />
administradores nomeados pela revolução para gerarem crises <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong> organização<br />
do trabalho. A este respeito, Che sintetizou: ―Falta <strong>de</strong> conhecimentos técnicos suficientemente<br />
<strong>de</strong>senvolvidos para que se possa tomar <strong>de</strong>cisões justas e em pouco tempo.‖ (GUEVARA,<br />
2004a, p.229)<br />
Che creditava a essa falta <strong>de</strong> técnica a aparição <strong>de</strong> uma prática <strong>da</strong> vanguar<strong>da</strong> que ele<br />
chamou <strong>de</strong> ―reunionismo‖. A ausência <strong>de</strong> experiência e conhecimento sobre os mais diversos<br />
assuntos fazia com que todos os chefes <strong>da</strong> revolução 53 e outros eminentes técnicos tivessem<br />
que se reunir em reuniões intermináveis para <strong>de</strong>cidir sobre algo que não se conhecia a<br />
contento. Se houvessem pessoas mais prepara<strong>da</strong>s tecnicamente, vários problemas seriam<br />
solucionados muito mais rapi<strong>da</strong>mente. 54 Ao não se saber o que fazer e como agir em<br />
<strong>de</strong>termina<strong>da</strong> situação – e eram <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong>las que surgiam no cotidiano <strong>da</strong> revolução – ficava-<br />
se reunindo para ver se se <strong>de</strong>scobria alguma coisa repentinamente em relação às questões<br />
coloca<strong>da</strong>s sobre a mesa. Conforme Guevara (2004a, p. 229): ―A falta quase total <strong>de</strong><br />
conhecimentos, supri<strong>da</strong>s, como dissemos antes, por uma longa série <strong>de</strong> reuniões, configura o<br />
‗reunionismo‘...‖<br />
A<strong>de</strong>mais, Che temia que esse exaustivo cotidiano burocrático – tanto dos dirigentes <strong>da</strong><br />
revolução quanto <strong>da</strong> classe trabalhadora <strong>de</strong> forma geral – obnubilasse a perspectiva<br />
revolucionária que, esperava-se, a todos moveriam. Presos à questiúnculas infinitas, os<br />
indivíduos po<strong>de</strong>riam per<strong>de</strong>r a noção do que se está buscando, do projeto principal. ―Um<br />
acúmulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões menores limitou a visão dos gran<strong>de</strong>s problemas...‖ (GUEVARA, 2004a,<br />
p.229)<br />
53 Sobre os revolucionários cubanos que tomaram o po<strong>de</strong>r em 1959, Che afirmou: ―[...] seus dirigentes eram<br />
apenas um grupo <strong>de</strong> combatentes <strong>de</strong> altos i<strong>de</strong>ais e pouca preparação.‖ (GUEVARA, 1982c, p.10)<br />
54 Embora constatasse as questões teóricas e técnicas <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as or<strong>de</strong>ns como base dos principais problemas<br />
observados e vividos naqueles primeiros anos <strong>da</strong> transição socialista em Cuba e dissesse que a vanguar<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />
Revolução <strong>de</strong> 1959 não era forma<strong>da</strong> por gran<strong>de</strong>s intelectuais que forjaram uma teoria ou por técnicos altamente<br />
qualificados, Che afirmava que não se podia ignorar o conhecimento que os revolucionários cubanos tinham em<br />
relação à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ilha <strong>da</strong>quele momento e o conhecimento que possuíam a respeito <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong><br />
população ―[...] se seus atores principais não eram precisamente teóricos, tampouco eram ignorantes dos gran<strong>de</strong>s<br />
fenômenos sociais e dos enunciados <strong>da</strong>s leis que o regem. Isso permitiu que, partindo <strong>de</strong> alguns conhecimentos<br />
teóricos e do profundo conhecimento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, fosse se criando uma teoria revolucionária.‖ (GUEVARA,<br />
2004b, p.113-4)<br />
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