Lourenço de Brito Correa: o sujeito mais perverso e escandaloso ...
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Real do Brasil já era septuagenário em 1665 e fazê-lo cruzar o Atlântico àquela altura da vida seria<br />
uma punição <strong>de</strong>veras cruel:<br />
126<br />
[...] porque enquanto viver há <strong>de</strong> perturbar esta república e censurar os <strong>mais</strong> qualificados<br />
merecimentos pela aversão natural que o seu ânimo tem a todos os que não são como ele,<br />
pois só os seus semelhantes são os que costumão aprovar o que elle escrevia contra a<br />
mesma verda<strong>de</strong>. 384<br />
A partir da terceira folha <strong>de</strong>ste longo documento, encontra-se os pareceres dos magistrados<br />
do Conselho Ultramarino que trataram <strong>de</strong>ste caso e as percepções que <strong>de</strong>ixaram sobre as alegações<br />
do Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Óbidos.<br />
Saliente-se que o conselheiro relator, Feliciano Dourado, só escreve a súmula <strong>de</strong>sta consulta<br />
em 27 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1665 e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> examinar cuidadosamente os argumentos do vice-rei ele<br />
apresentou tecnicamente o seu posicionamento, relembrando um antigo costume do processo penal<br />
Filipino para explicar a falta <strong>de</strong> consistência das <strong>de</strong>sconfianças apresentadas pelo Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Óbidos<br />
para ter prendido e embarcado para o Reino seus opositores, pois [...] conforme as regras <strong>de</strong><br />
direyto, sem culpa formada não se con<strong>de</strong>na a ninguém e <strong>de</strong>ve prece<strong>de</strong>r esta primeiro para chegar<br />
aos termos da prisam. 385<br />
Feliciano Dourado mencionou a fragilida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>núncia feita por Óbidos e o tempo<br />
<strong>de</strong>masiado longo que esta consulta estava sem análise apropriada, acarretando prejuízo aos fidalgos<br />
expulsos da Bahia:<br />
[...] como não vem <strong>de</strong>vassa com culpas que obrigue, nem consta na dita carta <strong>de</strong> avizo<br />
<strong>mais</strong> que suspeitas <strong>de</strong> uma conjuração nascida dos capítulos que dis mandava <strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong> a Vossa Majesta<strong>de</strong> e a vários ministros, não he isto bastante para pren<strong>de</strong>r e<br />
mandar ao Reino este homens. 386<br />
O magistrado não encontrou <strong>de</strong>lito algum nas acusações formuladas contra aqueles que<br />
supostamente estavam escrevendo capítulos sobre a gestão do segundo vice-rei do Brasil, na<br />
opinião do juiz, [...] dar capítulos contra os po<strong>de</strong>rosos era um recurso por on<strong>de</strong> se faz saber aos<br />
Reis e Príncipes e a seus ministros os procedimentos daqueles contra quem se dão. 387<br />
Feliciano Dourado aproveitou a oportunida<strong>de</strong> para explicar os leitores do seu parecer a<br />
metodologia legalmente admitida para se prosseguir os expedientes da capitulação. Não bastava<br />
escrever críticas e acusações contun<strong>de</strong>ntes contra os governadores do Brasil e espalhá-las entre<br />
outros homens da elite, os capitulares <strong>de</strong>veriam <strong>de</strong>ixar certa quantia em dinheiro como [...] caução<br />
<strong>de</strong>positada para pena <strong>de</strong> sua malícia ou temerida<strong>de</strong> se os não provarem, além do direyto que fica<br />
reservado contra eles como <strong>de</strong> ordinário acontece em casos semelhantes. 388<br />
384 i<strong>de</strong>m<br />
385 i<strong>de</strong>m<br />
386 i<strong>de</strong>m<br />
387 i<strong>de</strong>m<br />
388 i<strong>de</strong>m<br />
O relator <strong>de</strong>sta consulta ressaltava que era inadmissível [...] privar os homens do povo e