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Lourenço de Brito Correa: o sujeito mais perverso e escandaloso ...

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A Câmara da Bahia passou todo o século XVII a pedir providências para a Coroa no sentido<br />

<strong>de</strong> enviar socorro e <strong>de</strong>fesa das proprieda<strong>de</strong>s do recôncavo ameaçadas por índios, quilombolas e<br />

assaltantes, acoutados nas <strong>de</strong>sertas estradas que davam acesso às fazendas e povoados. Vários são<br />

os registros <strong>de</strong> roubo <strong>de</strong> caravanas, assédio dos transeuntes e extravio <strong>de</strong> documentos, as queixas<br />

eram apresentadas pelos sesmeiros da Bahia aflitos com o escoamento <strong>de</strong> sua produção e segurança<br />

dos seus patrimônios seriamente comprometidos pela ação <strong>de</strong> assaltantes, <strong>de</strong>simpedidos pela<br />

ausência <strong>de</strong> lei. 150<br />

Garantir o fluxo seguro <strong>de</strong> mercadorias e acesso da administração colonial nas partes do<br />

recôncavo era uma tarefa que <strong>de</strong>spontava aos olhos dos homens <strong>de</strong> grosso cabedal na Bahia do<br />

século XVII, seja por ser conveniente à Coroa uma maior fiscalização dos negócios <strong>de</strong>ste local, seja<br />

por causa das inúmeras queixas que as autorida<strong>de</strong>s ultramarinas recebiam <strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iros locais,<br />

<strong>de</strong>nunciando roubos, mortes e prejuízo <strong>de</strong> seus investimentos, provocados pela ausência <strong>de</strong><br />

justiça. 151<br />

<strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong> manifestou interesse nas terras situadas [...] junto a barra do Rio<br />

Perugasu, 152 ao norte da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Salvador, alegava que, nesta região, a presença da Coroa<br />

Portuguesa era invisível <strong>de</strong>vido a ausência <strong>de</strong> povoações a<strong>de</strong>quadas. Para <strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong>, as<br />

terras que avançavam 50 léguas do norte <strong>de</strong> Salvador até o Recôncavo, eram conhecidas por serem<br />

<strong>de</strong>sabitadas e perigosas, segundo ele: [...] succe<strong>de</strong> <strong>de</strong> ordinário muytas mortes, roubos, e insultos,<br />

por ser tudo hermo e não haver povoação algua em toda aquella distancia. 153<br />

Vimos que a falta <strong>de</strong> povoação a<strong>de</strong>quada não significava um recôncavo inóspito, ao<br />

contrário, o espaço ainda intocado pelo processo <strong>de</strong> conquista e colonização serviu <strong>de</strong> abrigo para<br />

muitos que não se adaptavam às or<strong>de</strong>ns impostas pela administração da Colônia. O que o capitão<br />

<strong>Lourenço</strong> parece ressaltar é que a ausência <strong>de</strong> casas, igrejas e prédios públicos legitimados pela<br />

Coroa e pelas autorida<strong>de</strong>s da Bahia ocasionava prejuízos para os moradores daqueles lugares, pois<br />

150 Num documento <strong>de</strong> 1651, Antônio <strong>de</strong> Couros Carneiro dá notícias da situação <strong>de</strong> “injustiças, roubos e insolências”<br />

que havia na Bahia do seu tempo. Ver: AHU, LF, Cx.12, Doc. 1395: [...] Consulta do Conselho Ultramarino sôbre o que<br />

escreve da Bahia Antônio <strong>de</strong> Couros Carneiro acêrca das injustiças, roubos e insolências que ali houve, ‘chegando o<br />

excesso a tanto que não ficou donzela nem casada que ou por fôrça ou por ameaças não fossem contrangidas ou<br />

violentadas suas honras,’ chegando o apêrto a tanto que se dizia naquela praça, publicamente, que melhor seria<br />

experimentar o jugo dos holan<strong>de</strong>ses que não o que até agora sofrem, 08/03/1651. Esta nostalgia do tempo flamengo<br />

será vista novamente nos tempos <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência do Brasil. Ver: op.cit. Evaldo Cabral <strong>de</strong> Mello, Rubro Veio – o<br />

imaginário da restauração pernambucana. 1997, pg. 382-383.<br />

151 Antônio <strong>de</strong> Couros Carneiro era um importante proprietário <strong>de</strong> terras e escravos na região do recôncavo da Bahia. Em<br />

1665 este fidalgo <strong>de</strong>monstrava revolta com o <strong>de</strong>scaso que os governantes do Brasil tratavam a situação <strong>de</strong> perigo e dano<br />

da sua proprieda<strong>de</strong>, atacada sistematicamente pelo gentio bravo, na região <strong>de</strong> Camarugibe. Ver: AHU, LF, Cx18, Doc.<br />

2112-2113, 15/07/1665. Para <strong>mais</strong> <strong>de</strong>talhes sobre a ocupação das terras do recôncavo da Bahia, que margeiam o Rio<br />

Paraguaçu, ver a dissertação <strong>de</strong> BARROSO, Juliana Brainer. Colonização e resistência no Paraguaçu – Bahia. 1530-<br />

1678. Dissertação (Mestrado em História), UFBA, Salvador, 2008.<br />

152 AHU, LF, Cx.17, Doc. 1921: [...] Consulta do Conselho Ultramarino sobre <strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong>, que <strong>de</strong>sse<br />

licença para fazer uma vila à suas custas, nas terras do recôncavo, para a parte <strong>de</strong> Sergipe do Con<strong>de</strong> e Peruaçu,<br />

comprando com seu dinheiro, para que possa gosa o senhorio do cível e crime como os outros donatários, 21/02/1663<br />

153 i<strong>de</strong>m<br />

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