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Lourenço de Brito Correa: o sujeito mais perverso e escandaloso ...

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jovem <strong>Lourenço</strong> e seu irmão estavam a ouvir, escandalizados, tais palavras serem pronunciadas por<br />

um conhecido <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> nação hebraica e morador daquele local. Insinuar que o primeiro<br />

Papa era a<strong>de</strong>pto <strong>de</strong> bebida quando ainda exercia a profissão <strong>de</strong> pescador, foi interpretado como<br />

blasfêmia pelo cristão velho <strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong>, ele foi criado em uma doutrina rigorosa e<br />

dava muita atenção a <strong>de</strong>terminadas expressões ditas em público, principalmente quando o conteúdo<br />

das palavras ofendia a Deus ou a Igreja e eram pronunciadas por ju<strong>de</strong>us, era seu <strong>de</strong>ver, enquanto<br />

cristão velho, resguardar a ortodoxia da fé católica.<br />

<strong>Lourenço</strong> também citou outras testemunhas que presenciaram este episódio e po<strong>de</strong>riam<br />

confirmar sua versão diante do Inquisidor. Quando perguntado se os homens que zombavam das<br />

imagens estavam em seu juízo perfeito, o Capitão <strong>Lourenço</strong> disse que [...] lhe parecia que não por<br />

falta <strong>de</strong> juízo, mas por falta <strong>de</strong> zelo e <strong>de</strong> boa christanda<strong>de</strong> zombavam os homens da nasção das<br />

sobreditas figuras e imagens e ele testemunha se escandalizara muito disso. 31<br />

<strong>Lourenço</strong> também afirmou que outro cristão velho, chamado Hieronimo Ferreira, armador<br />

<strong>de</strong> Igrejas e morador em Salvador, também ouviu a zombaria proferida, contudo, nenhum dos<br />

presentes naquela ocasião reprimiu <strong>de</strong> imediato os impropérios, justificando que [...] em semelhante<br />

gente não se estranhava tais <strong>de</strong>saforamentos. 32 A <strong>de</strong>núncia feita ao Inquisidor D. Marcos Teixeira<br />

prossegue tratando da vida privada e do comportamento sexual <strong>de</strong> outros homens <strong>de</strong> posse que<br />

habitavam os casarões da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Salvador.<br />

Novamente o alvo da acusação <strong>de</strong> <strong>Lourenço</strong> tinha origem israelita, era [...] meio xpão novo<br />

por parte <strong>de</strong> seu pay, casado e morador nesta Bahya e senhor <strong>de</strong> quatro Engenhos, 33 chamava-se<br />

Pero Garcia e, conforme o <strong>de</strong>poimento, um rico negociante. <strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong>nunciava que Pero Garcia<br />

[...] comettera pecado nefando <strong>de</strong> sodomia cõ um mullato por nome Joseph que creara em sua casa<br />

e nella o tinha ainda hoje” 34 , afirmou ainda que este cristão novo havia cometido [...] o mesmo<br />

peccado nefando 35 com [...] hum moço chamado Gaspar, natural <strong>de</strong> Viana, sobrinho <strong>de</strong> hú João<br />

Alvares, ambos seus creados. 36<br />

Devemos <strong>de</strong>stacar que todos as testemunhas arroladas por <strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong> eram<br />

cristãos-velhos como ele, resi<strong>de</strong>ntes em Salvador e antigos empregados do <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>u,<br />

Pero Garcia.Diante <strong>de</strong>stas duas <strong>de</strong>núncias, po<strong>de</strong>mos concluir que <strong>Lourenço</strong> era <strong>mais</strong> um homem do<br />

século XVII que tinha restrições quanto a presença <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>us e seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes no Brasil e<br />

31<br />

i<strong>de</strong>m, p. 245<br />

32<br />

i<strong>de</strong>m, p. 246<br />

33<br />

I<strong>de</strong>m. Pero Garcia era natural da Ilha <strong>de</strong> São Miguel e meio cristão novo pela parte do seu pai.<br />

34<br />

i<strong>de</strong>m<br />

35<br />

Sobre práticas sexuais na Colônia e a perseguição Inquisitorial contra as heterodoxias existentes no Brasil ver:<br />

VAINFAS, Ronaldo. Moralida<strong>de</strong>s brazílicas: <strong>de</strong>leites sexuais e linguagem erótica na socieda<strong>de</strong> escravista. In: NOVAIS,<br />

Fernando A. (dir.) História da vida privada no Brasil. Cotidiano e vida privada na América Portuguesa. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1998, p.222-273.<br />

36<br />

op. cit. ANTT, PT-TT-TSO-IL / 038/0784, p. 247<br />

21

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