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Lourenço de Brito Correa: o sujeito mais perverso e escandaloso ...

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entendida pelo astrólogo jesuíta como sinais <strong>de</strong> ruínas aos governos e aos súditos, acompanhemos:<br />

131<br />

[...] costuma ser apresentado como segundo argumento [em favor da natureza celeste dos<br />

cometas], embora não menos eficaz, os influxos e feitos dos cometas. [...] constatamos que<br />

após o aparecimento <strong>de</strong> cometas diversas vicissitu<strong>de</strong>s tem lugar no mundo. Por exemplo:<br />

fomes, pestes, doenças; e <strong>mais</strong> o que passamos para nosso dano: guerra, morte <strong>de</strong> príncipe<br />

e <strong>de</strong> reis, secas terremotos, etc, não quero alongar os exemplos, os livros estão cheios<br />

<strong>de</strong>les. Logo, os cometas são <strong>de</strong> natureza celeste. 400<br />

Tanto Rocha Pita como Valentim Stensel assinalaram a passagem <strong>de</strong> um cometa entre os<br />

dias 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1664 e 5 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1665, os resultados <strong>de</strong>ste movimento no céu po<strong>de</strong>m<br />

ser percebidas a partir das palavras <strong>de</strong> Rocha Pita:<br />

[...] outro acci<strong>de</strong>nte extraordinário experimentou n’aquelle próprio tempo a Bahia, ja<strong>mais</strong><br />

visto n’ella. Crescendo por três vezes em três alternados dias o mar, com tal profusão <strong>de</strong><br />

águas que atropelou os limites que lhe pos a natureza, dilatando as ondas muito além das<br />

praias e <strong>de</strong>ixando-as cobertas <strong>de</strong> innumeravel pescado miúdo, que os moradores da cida<strong>de</strong><br />

e dos arrabal<strong>de</strong>s colhiam, <strong>mais</strong> atentos ao apetite que ao prodígio, ufanos <strong>de</strong> lhe trazer o<br />

mar voluntária e prodigamente tão valioso tributo, sem consi<strong>de</strong>rarem que quando saem da<br />

or<strong>de</strong>m natural os corpos elementares, pa<strong>de</strong>cem os humanos, e causam não só mudanças na<br />

saú<strong>de</strong> e ruínas nas fabricas materiaes, mas nos Impérios. Todos estes avizos ou correios<br />

prece<strong>de</strong>ram ao terrível contágio das bexigas – <strong>de</strong> que daremos lastimosa notícia. 401<br />

Foi durante o governo <strong>de</strong> Óbidos e após a passagem do cometa que a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Salvador<br />

vivenciou uma das muitas epi<strong>de</strong>mias que assolaram os moradores da Bahia e seu recôncavo no<br />

século XVII. A bexiga era uma doença perigosa e <strong>de</strong> acordo com o cronista o Nor<strong>de</strong>ste foi vítima <strong>de</strong><br />

maior contágio, todos estavam doentes e não tinham condições <strong>de</strong> trabalhar, os irmãos da<br />

Misericórdia tentavam conseguir remédio e acolhimento para as crianças e velhos doentes, prover<br />

os funerais dos <strong>mais</strong> pobres e carregar os caixões dos confra<strong>de</strong>s que não resistiam à doença. O<br />

espaço da Igreja para se enterrar os mortos já não estava disponível e as pessoas começaram a ser<br />

enterras no chão, se na cida<strong>de</strong> a peste da bixa foi rigorosa, no recôncavo foi <strong>de</strong>struidora.<br />

Tanto escravos, índios, senhores e engenho e fazen<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> gado foram contagiados,<br />

consequentemente, a produção <strong>de</strong> alimentos para a capital caiu vertiginosamente por não ter quem<br />

plantasse nem colhesse. O Con<strong>de</strong> vice-rei teve um papel positivo no socorro das pessoas<br />

aterrorizadas pela epi<strong>de</strong>mia: [...] o Vice Rei com incessante cuidado, assistência e <strong>de</strong>spesa visitava<br />

aos enfermos e mandava aos pobres tudo o que lhes era necessário, <strong>de</strong>vendo esta carida<strong>de</strong> ao seu<br />

ânimo e ao seu sangue (ambos esclarecidos) e pô<strong>de</strong> remediar muita parte <strong>de</strong>sta ruína. 402<br />

400 i<strong>de</strong>m<br />

401 Op. cit. PITA, Sebastião da Rocha. História da América Portuguesa, livro 6, 1730. p. 180<br />

402 i<strong>de</strong>m

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