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Lourenço de Brito Correa: o sujeito mais perverso e escandaloso ...

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po<strong>de</strong>res que esvaziavam os corpos tradicionais da socieda<strong>de</strong> política. 256<br />

D. Afonso VI, valeu-se da noção <strong>de</strong> razão <strong>de</strong> estado para nomear o seu privado e assim<br />

manter a sua figura longe dos <strong>de</strong>sgastes, Castelo Melhor estava assim encarregado <strong>de</strong> conduzir o<br />

governo <strong>de</strong> Portugal, ora enfrentando os antigos partidários da Rainha Regente, ora mediando<br />

conflitos ente as várias instâncias políticas que compunham o Reino e suas conquistas. No século<br />

XVII, a chamada Razão <strong>de</strong> Estado se tornou argumento para todas as medidas extraordinárias<br />

tomadas pelas monarquias ibéricas, Carvalho Dantas fez um inventário minucioso acerca da<br />

historiografia que trabalha com esta temática e seus estudos balizam esta abordagem.<br />

O autor i<strong>de</strong>ntificou a origem <strong>de</strong>sta noção em antigos conceitos <strong>de</strong> necessitas ou ratio status,<br />

advindas das tradições jurídicas romanas. 257 Portanto, não se po<strong>de</strong> pensar a política experimentada<br />

no Antigo Regime <strong>de</strong> acordo com parâmetros contemporâneos, nesta época, o político estava<br />

envolvido numa ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> hierarquias e códigos <strong>de</strong> conduta, respaldados em conceitos morais que<br />

organizavam o mundo e <strong>de</strong> acordo com os ditames da Igreja e da natureza das coisas.<br />

Por isso, o Rei D. Afonso VI era a cabeça do Reino e como uma figura legitimada<br />

socialmente, podia agir com verda<strong>de</strong>ira razão <strong>de</strong> estado, mesmo que sua <strong>de</strong>mência fosse difundida<br />

publicamente, tinha ele um Valido que conduzia o Reino com a sua permissão e garantia a sua<br />

legitimida<strong>de</strong> como sucessor do trono <strong>de</strong> Portugal, lugar que lhe era <strong>de</strong> direito.<br />

Contudo, a vonta<strong>de</strong> do Valido estava disfarçada <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> do Rei e a partir da leitura do<br />

Regimento do Escrivão da Purida<strong>de</strong> percebe-se que os privilégios adquiridos pelo favoritismo régio<br />

provocaram crítica <strong>de</strong> nobres que também disputavam as mercês régias e <strong>de</strong>monstravam<br />

estranhamento diante das mudanças que o terceiro Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Castelo Melhor estava operando no<br />

governo <strong>de</strong> Portugal e das conquistas.<br />

O envio <strong>de</strong> D. Vasco Mascarenhas para o Brasil precisa ser compreendido a partir <strong>de</strong>sta<br />

situação política vivenciada no Reino. Óbidos foi eleito presi<strong>de</strong>nte do Senado da Câmara <strong>de</strong> Lisboa<br />

quando os primeiros movimentos <strong>de</strong> transição do trono foram arquitetados, também foi auxiliar do<br />

terceiro Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Castelo Melhor no convencimento dos outros fidalgos da Corte para a<strong>de</strong>são ao<br />

reinado <strong>de</strong> D. Afonso VI e, sendo nomeado pelo novo soberano para compor o seu Conselho <strong>de</strong><br />

Estado, Óbidos se juntava ao seleto grupo <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>s do Reino que já haviam passado pelo<br />

Brasil assumindo funções <strong>de</strong> governo, como o Con<strong>de</strong> Autoguia e o Marquês <strong>de</strong> Niza.<br />

O vice-reinado <strong>de</strong> D. Vasco Mascarenhas no Brasil (1663-1667) coinci<strong>de</strong>, pois, com o<br />

período <strong>de</strong> valimento do terceiro Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Castelo Melhor, foi no reinado <strong>de</strong> D. Afonso VI que se<br />

resgatou estas duas características marcantes do governo Filipino e foi durante este espaço <strong>de</strong> tempo<br />

256 I<strong>de</strong>m, apud: XAVIER, Angela Barreto. “El Rei aon<strong>de</strong> po<strong>de</strong>, & não aon<strong>de</strong> quer” Razões da política no Portugal<br />

seiscentista. Lisboa: Edições Colibri, 1998, p. 147<br />

257 i<strong>de</strong>m<br />

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