30.04.2013 Views

Lourenço de Brito Correa: o sujeito mais perverso e escandaloso ...

Lourenço de Brito Correa: o sujeito mais perverso e escandaloso ...

Lourenço de Brito Correa: o sujeito mais perverso e escandaloso ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

e conselheiro da Rainha D. Luísa <strong>de</strong> Gusmão. 72<br />

Para além da má recepção que teve ao chegar ao Reino, D. Fernando Mascarenhas tomou<br />

conhecimento que a Marquesa <strong>de</strong> Montalvão, sua mãe, estava <strong>de</strong>tida no Castelo <strong>de</strong> Arroyollos. O<br />

motivo <strong>de</strong>sse escândalo se encontrava na suspeita <strong>de</strong> que a senhora havia seguido o exemplo dos<br />

filhos e também estivesse prevaricando contra D. João IV. Contudo, o Rei teve a prova da fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong><br />

do primeiro vice-rei do Brasil aos Bragança e esperava que o jesuíta Francisco Vilhena cumprisse à<br />

risca as or<strong>de</strong>ns que lhe foram dadas.<br />

Anteriormente, mencionei a cuidadosa chegada do irmão Vilhena na praia <strong>de</strong> Itapoan, em<br />

1641, levando consigo as missivas secretas que orientavam <strong>de</strong>talhadamente como e em que<br />

circunstância ela <strong>de</strong>veria ser aberta, lida e aplicada. Os postos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sembarque indicados para<br />

qualquer navio que atravessasse o Atlântico rumo a Bahia era no porto da antiga Vila do Pereira ou<br />

no porto situado à beira da Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora da Conceição da Praia, locais <strong>de</strong> águas calmas e<br />

apropriados como ancoradouro, porém repleto <strong>de</strong> comerciantes e <strong>de</strong> outras pessoas influentes que<br />

certamente dariam notícia rápidas às autorida<strong>de</strong>s locais sobre a chegada <strong>de</strong> um reinol à Bahia,<br />

portanto, não era apropriado <strong>de</strong>scer na movimentada Salvador, o <strong>de</strong>sembarque <strong>de</strong> Vilhena em<br />

Itapoan tinha a intenção <strong>de</strong> ser discreto e sigiloso. 73<br />

O Con<strong>de</strong> da Ericeira narra <strong>de</strong>sta forma a chegada do jesuíta:<br />

[...] [Francisco Vilhena] sahio em terra e <strong>de</strong>o a or<strong>de</strong>m a caravela que se fizesse ao mar;<br />

chegou a cida<strong>de</strong> e entrou no seu Colégio sem fazer rumor; e tendo notícias do sossego que<br />

o Estado do Brasil obe<strong>de</strong>cia a El Rey, executou com gran<strong>de</strong> imprudência a or<strong>de</strong>m que<br />

levava sua. 74<br />

Vemos, no relato, que Vilhena preferiu seguir por terra até o Colégio dos Jesuítas. Pela sua<br />

condição, o clérigo certamente não caminhou os quilômetros que separavam a vila <strong>de</strong> Itapoan da<br />

Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Salvador, certamente preferiu cavalgar, anonimamente, em cima do lombo <strong>de</strong> uma mula,<br />

meio <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> pessoas e mercadorias amplamente utilizado para cruzar o sertão baiano<br />

durante todo o XVII e que passava por Itapoan em seu itinerário. No caminho, o emissário real<br />

arquitetava meticulosamente o que fazer com tão importante tarefa.<br />

Mas porque tanto segredo? Porque um <strong>de</strong>sembarque às escondidas e tão discreto? Qual o<br />

conteúdo misterioso das or<strong>de</strong>ns do Rei e que <strong>de</strong>ram nova forma ao jogo político <strong>de</strong> 1641?<br />

Em tempos <strong>de</strong> Restauração Brigantina, todo cuidado era pouco quando o assunto era<br />

lealda<strong>de</strong> e fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> ao novo Rei, principalmente em se tratando do Brasil e dos altos oficiais que o<br />

administravam, <strong>de</strong>ntre os quais, muitos mantinham vínculos <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> com a Coroa espanhola.<br />

72 Op, cit. CALMON, Pedro. História do Brasil, vol2 (sec XVI-XVII), 1971. p. 628.<br />

73 Felisbello Freire afirmou que [...] dous caminhos comunicavam esta praça [Salvador] com a praia: um da banda do<br />

Norte para a fonte , então chamada do Pereira e do <strong>de</strong>sembocadouro da gente dos navios; ou ao Sul, para Nossa<br />

Senhora da Conceição e para <strong>de</strong>sembocadouro das mercadorias. op. Cit. FREIRE, Felisbello. História Territorial, p.<br />

59.<br />

74 I<strong>de</strong>m p. 161.<br />

33

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!