Lourenço de Brito Correa: o sujeito mais perverso e escandaloso ...
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D. Vasco Mascarenhas: ser cristão velho e ter as partes genealógicas congruentes aos critérios <strong>de</strong><br />
limpeza <strong>de</strong> sangue constituíam-se pré-requisitos básicos para que a gestão do vice-rei fosse bem<br />
aceita; juízo e benevolência eram outros atributos <strong>de</strong>cisivos para o sucesso da governança <strong>de</strong> um<br />
mandatário enviado do Reino e este conjunto <strong>de</strong> comportamentos e atributos faziam parte dos<br />
acertos esperados pela elite <strong>de</strong> Salvador.<br />
Apesar <strong>de</strong> ser uma <strong>de</strong>claração pública <strong>de</strong> afeto e confiança no trabalho recentemente<br />
iniciado por Óbidos, a Câmara da Bahia tinha o costume <strong>de</strong> emitir várias cartas para as instâncias<br />
Ultramarinas no intuito <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer à realeza o envio <strong>de</strong> governadores para as terras do Brasil.<br />
Haviam feito isso também na ocasião da chegada <strong>de</strong> Francisco Barreto, 271 talvez para <strong>de</strong>monstrar<br />
tacitamente à realeza que, mesmo agra<strong>de</strong>cendo, a elite local estava em constante vigilância no<br />
trabalho que estava sendo <strong>de</strong>senvolvido pelos administradores enviados do Reino e, por outro lado,<br />
buscavam uma aproximação com o recém-nomeado, fazendo um elogio público à sua pessoa e<br />
dando visibilida<strong>de</strong> positiva ao seu governo na Metrópole.<br />
Conforme analisamos no segundo capítulo, vice-rei seria a única titulação que o Con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Óbidos po<strong>de</strong>ria receber fora <strong>de</strong> Portugal, pois já havia recebido este título na Índia e, ainda que<br />
tivesse sido usurpado do cargo, ele não po<strong>de</strong>ria exercer funções com menos importância política,<br />
sabemos também que a vinda <strong>de</strong> D. Vasco Mascarenhas com esta mercê extraordinária foi uma ação<br />
estratégica do Rei e seu Valido para manter o Brasil sob controle a partir <strong>de</strong> um comandante<br />
conhecido pela população local e fiel ao reinado em vigor.<br />
Foi durante as festas juninas a posse <strong>de</strong> Óbidos e ele administrou a Colônia até as<br />
celebrações <strong>de</strong> Santo Antônio <strong>de</strong> 1667. 272 A nomeação <strong>de</strong> Óbidos ocorre semanas após a ascensão<br />
<strong>de</strong> D. Afonso no trono Português e se levarmos em conta a sua ligação com o comando político do<br />
Reino teremos <strong>mais</strong> subsídios pra compreen<strong>de</strong>r o papel que ele exerceu na administração da<br />
Colônia e os <strong>de</strong>safios que encontrou neste período.<br />
Para percebermos a amplitu<strong>de</strong> dos po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> Óbidos enquanto esteve no vice-reinado do<br />
Brasil é preciso analisar alguns registros <strong>de</strong>ixados por ele e por outras autorida<strong>de</strong>s da Bahia, em<br />
contraste com as comunicações enviadas e recebidas pelo Conselho Ultramarino, corpo consultivo<br />
que estranhava sistematicamente o modo <strong>de</strong> governar <strong>de</strong> Óbidos e suas pretensões.<br />
Uma breve noção dos <strong>de</strong>safios que o Con<strong>de</strong> vice-rei encontrou ao chegar na América po<strong>de</strong><br />
ser alcançada no trecho <strong>de</strong> uma carta escrita pelo mesmo ao Governador do Rio <strong>de</strong> Janeiro, no dia<br />
23 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1663, o vice-rei <strong>de</strong>screvia assim as suas impressões sobre aquela capitania:<br />
[...]achei as coisas <strong>de</strong>ste Estado tão <strong>de</strong>masiadamente confusas e a jurisdição <strong>de</strong>ste governo<br />
tão sem limite e <strong>de</strong>spedaçada; que para se tornar a unir e restituir o governo a aquelle ser<br />
271 AHU, LF, BA. Cx.14, Doc. 1690.<br />
272 SILVA, Ignácio Accioli <strong>de</strong> Cerqueira e. Memórias históricas e políticas da província da Bahia. Tomo I, Bahia:<br />
Typographia do Correio Mercantil <strong>de</strong> Precourt, 1835, p. 112.<br />
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