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Lourenço de Brito Correa: o sujeito mais perverso e escandaloso ...

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<strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong>monstrava interesse era a matemática, isto se comprova pela sua afinida<strong>de</strong> com<br />

números ao exercer a Provedoria Mor da Fazenda Real do Estado do Brasil, em 1663.<br />

Além <strong>de</strong> cálculos, também apren<strong>de</strong>u as técnicas <strong>de</strong> memorização e repetição, estratégias <strong>de</strong><br />

aprendizagem utilizadas pelos padres jesuítas resi<strong>de</strong>ntes em Salvador e responsáveis pela educação<br />

dos jovens daquela época, assim, é provável que <strong>Lourenço</strong> tenha recitado os poemas <strong>de</strong> Camões,<br />

lido hagiografias e romances <strong>de</strong> cavalaria escritos pelos autores lusófonos e castelhanos <strong>de</strong> sua<br />

época. 19<br />

Não po<strong>de</strong>mos esquecer que a educação na Bahia do século XVII estava impregnada pelas<br />

diretrizes do Concílio <strong>de</strong> Trento, 20 o menino <strong>Lourenço</strong> foi educado <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um clima <strong>de</strong><br />

perseguição direta contra os ju<strong>de</strong>us, chamados <strong>de</strong> cristãos-novos, bem como a mouros e ciganos,<br />

hereges e bruxas que partilhavam a mesma cida<strong>de</strong> tão heterogênea (e heterodoxa) como era a<br />

Salvador do século XVII. Como cristão velho e seguidor da política tri<strong>de</strong>ntina, ele conhecia com<br />

<strong>de</strong>talhes os dogmas <strong>de</strong> fé e as tradições litúrgicas da Igreja Católica contidas no Catecismo, cujo<br />

teor havia sido traduzido para a língua brasílica em 1618, pelo padre Antônio <strong>de</strong> Araújo. 21<br />

Uma das ações <strong>mais</strong> conhecidas que a Igreja Católica <strong>de</strong>flagrou após o Concílio <strong>de</strong> Trento<br />

para coibir o crescimento <strong>de</strong> hereges e outros inimigos da fé, foi a instituição do Tribunal da Santa<br />

Inquisição. Por isso, retomarei a análise da <strong>de</strong>núncia feita por <strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong> ao<br />

Inquisidor D. Marcos Teixeira, a partir <strong>de</strong>la po<strong>de</strong>mos ter uma noção <strong>mais</strong> precisa do quanto a<br />

formação religiosa <strong>de</strong> <strong>Lourenço</strong> influenciou em suas posições quando adulto.<br />

Ele estava atento às práticas heterodoxas que alguns moradores <strong>de</strong> Salvador apresentavam e<br />

manifestou <strong>de</strong>sconfiança para com o comportamento dos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> nação infecta” 22 que com<br />

ele disputavam a vida política e econômica na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Salvador e recôncavo da Bahia. Em 1619,<br />

encontramos <strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong> aos vinte e oito anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> ostentando a patente <strong>de</strong><br />

capitão, herdada do pai. Dizia ele que estava em companhia do seu irmão caçula, João <strong>de</strong> <strong>Brito</strong><br />

<strong>Correa</strong> e juntos apreciavam uma movimentação que ocorria nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua casa, situada<br />

na rua <strong>de</strong> Nossa Senhora da Ajuda.<br />

Os moradores daquela freguesia estavam [...] vestindo huas figuras dos doze apóstolos para<br />

19<br />

Mais aspectos da educação religiosa promovida no período colonial em: VILLALTA, Luiz Carlos. O que se fala e o<br />

que se lê: língua, instrução e literatura. In: NOVAIS, Fernando A. (dir.) História da vida privada no Brasil. Cotidiano<br />

e vida privada na América Portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p.332-385. Abordarei outros<br />

aspectos do pensamento científico produzido no Brasil Seiscentista ao final do terceiro capítulo.<br />

20<br />

REYCEND. João Baptista. O Sacrossanto e Ecumênico Concilio <strong>de</strong> Trento. Em latim e português: <strong>de</strong>dicada e<br />

consagrada aos excelentíssimos e reverendíssimos senhores Bispos da Igreja Lusitana. Tomo I, Lisboa, Officina<br />

Patriarchal <strong>de</strong> Francisco Luis Ameno, 1781.<br />

21<br />

ARAÚJO, Pe. Antônio <strong>de</strong>. Catecismo na Língua Brazílica. Reprodução fac-similar da 1ª edição, Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

PUC-RJ, 1952.<br />

22<br />

A socieda<strong>de</strong> colonial baseava-se, assim como na Europa, em critérios raciais e sociais para diferenciar os indivíduos e<br />

enquadrá-los na complexa hierarquia que estavam submetidos. As chamadas nações "infectas" eram os mouros, turcos,<br />

árabes, negros, ju<strong>de</strong>us, e seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes não católicos ou <strong>de</strong> origem não católica. Ver: NOVINSKY, Anita. Cristãosnovos<br />

na Bahia, São Paulo: Perspectiva, 1972.<br />

19

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