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Lourenço de Brito Correa: o sujeito mais perverso e escandaloso ...

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CAPÍTULO I<br />

1- <strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong>: um her<strong>de</strong>iro do Caramuru<br />

[...]Aos sete dias do mês <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1619 annos, em a Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Salvador da Bahya <strong>de</strong><br />

Todos os Santos, nas moradas do Inquisidor Marcos Teixeira, em audiencia da tar<strong>de</strong>,<br />

perante elle apareceu, sendo chamado, <strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong>, christão velho, solteiro,<br />

<strong>de</strong> yda<strong>de</strong> <strong>de</strong> vinte e oito annos, pouco <strong>mais</strong> ou menos, natural <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>, filho <strong>de</strong><br />

Sebastião <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong> e sua molher Maria <strong>de</strong> Figueiredo, já <strong>de</strong>functos, todos christãos<br />

velhos. 8<br />

O presente capítulo é <strong>de</strong>dicado à trajetória política <strong>de</strong> <strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong>, um homem<br />

nascido em Salvador e bisneto da índia Paraguaçu e Diogo Alvares, o Caramuru. Não foi tarefa<br />

fácil conhecer a vida <strong>de</strong>ste homem e seguir os passos que ele percorreu no Brasil e em Portugal,<br />

apesar do seu nome constar em muitas fontes do século XVII, a documentação encontrava-se<br />

dispersa em muitos fundos arquivísticos e boa parte <strong>de</strong>la sem transcrição paleográfica a<strong>de</strong>quada.<br />

O prazeroso trabalho <strong>de</strong> leitura das fontes e diálogo constante com uma historiografia<br />

interessada nos conflitos que permeavam o universo político da Bahia do século XVII possibilitou-<br />

me aprofundar alguns <strong>de</strong>talhes do cotidiano compartilhado por este proprietário <strong>de</strong> terras e escravos<br />

da Bahia que, por <strong>de</strong>savenças políticas, cruzou o Atlântico algumas vezes e viu a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa<br />

pelas gra<strong>de</strong>s da prisão do Limoeiro. Foi nesta ca<strong>de</strong>ia o lugar on<strong>de</strong> <strong>Lourenço</strong> morreu, no ano <strong>de</strong><br />

1665, já septuagenário e apenas com seu filho <strong>mais</strong> velho a velar seu cadáver.<br />

<strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong> foi objeto <strong>de</strong> alguns estudos da historiografia baiana, Pedro<br />

Calmon e Afonso Costa foram os primeiros a apresentar uma investigação consistente sobre a sua<br />

origem familiar e ativida<strong>de</strong>s políticas que exerceu na Bahia Seiscentista, tais autores tornaram-se<br />

fundamentais para levar à cabo esta pesquisa, eles ilustram o contexto político da época e indicam<br />

fontes e bibliografias que permitiu-me <strong>de</strong>senhar o itinerário que <strong>Lourenço</strong> percorreu e ativida<strong>de</strong>s<br />

que exerceu ao longo da sua carreira na Bahia.<br />

A teia <strong>de</strong> relações em que este fidalgo 9 estava envolvido permitiu também perceber os<br />

posicionamentos que ele manifestou em diferentes conjunturas políticas, bem como as posses<br />

acumuladas e cargos <strong>de</strong> comando que exerceu ao longo da sua vida. Assim, consegui reunir<br />

subsídios suficientes para vislumbrar o contexto político vivenciado na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Salvador, na<br />

década <strong>de</strong> 1660 e localizar a participação <strong>de</strong>ste homem num suposto motim por ele li<strong>de</strong>rado com<br />

8 Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), Portugal (PT) – Torre do Tombo (TT) - Tribunal do Santo Ofício (TSO)<br />

– Inquisição <strong>de</strong> Lisboa (IL) / 038/0784. "LIVRO [2.º?] DAS DENUNCIAÇÕES QUE SE FIZERAM NA VISITAÇÃO<br />

DO SANTO OFÍCIO NA CIDADE DO SALVADOR DA BAÍA DE TODOS OS SANTOS, DO ESTADO DO<br />

BRASIL". disponível em: http://digitarq.dgarq.gov.pt/<strong>de</strong>tails?id=2318687<br />

9 Filho, & <strong>de</strong> Algo, palavra castelhana, que em Portuguez significa alguma cousa. Ao homem cavalheiro <strong>de</strong>use este<br />

nome, para se dar a enten<strong>de</strong>r, que seus pays tem herdado Algo, ou alguma cousa, <strong>de</strong> que se pó<strong>de</strong> prezar, como nobreza<br />

<strong>de</strong> sangue, ou rendas, & fazenda consi<strong>de</strong>rável, porque Algo também significa cousa <strong>de</strong> valor. Ver: op. cit. BLUTEAU,<br />

D. Raphael. Vocabulario Portuguez e Latino. Vol. 4. 1728. p.107.<br />

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