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Lourenço de Brito Correa: o sujeito mais perverso e escandaloso ...

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aseava-se em costumes medievais <strong>de</strong> gratidão e justiça, a mercê servia <strong>de</strong> retribuição aos serviços<br />

relevantes que os súditos comprovadamente houveram feito como <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> sua fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> e<br />

dignida<strong>de</strong>.<br />

Por julgar-se merecedor da recompensa régia o suplicante apresentava inúmeras folhas que<br />

<strong>de</strong>talhavam os cargos e ofícios que houvera ocupado também por outorga do Rei, bem como<br />

<strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> suas especialida<strong>de</strong>s e provas <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> à Coroa, dando assim <strong>mais</strong> subsídios para que<br />

a graça régia se manifestasse <strong>de</strong> forma ainda <strong>mais</strong> graciosa que a benesse anterior. 116<br />

A lembrança <strong>de</strong>talhada dos serviços prestados fazia parte da lógica do Antigo Regime e<br />

reforçava o caráter corporativo da monarquia portuguesa, seja combatendo contra os castelhanos no<br />

Reino ou pelejando contra os holan<strong>de</strong>ses no Nor<strong>de</strong>ste, estes serviços e partes que qualificavam a<br />

concessão da mercê real eram registrados no Brasil sob a forma <strong>de</strong> Cartas Patentes, Alvarás, Or<strong>de</strong>ns<br />

Régias e outros documentos que comprovavam a memória dos funcionários régios estabelecidos na<br />

Bahia. 117<br />

Fossem eles militares ou oficiais da administração, o <strong>de</strong>talhamento das tarefas que<br />

cumpriram, bem como risco que correram, ferimentos, mutilações, mortes, espólio <strong>de</strong> guerra e<br />

outras lembranças <strong>de</strong> relevantes ativida<strong>de</strong>s cumpridas na época da Restauração e nas guerras contra<br />

o inimigo holandês eram informações úteis e estrategicamente empregadas nos discursos epistolares<br />

daqueles que tentavam convencer ao doador da graça, o Rei, sobre os motivos para que o<br />

favorecimento real fosse alcançado. 118<br />

Logo, era <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> interesse da elite da Bahia preservar a memória <strong>de</strong>stes tempos difíceis,<br />

tendo em vista o [...] <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> fazer valer junto às autorida<strong>de</strong>s régias os serviços, materiais e<br />

espirituais, por todos prestados à restauração. 119 Assim, a guerra, o nome, os companheiros, as<br />

feridas adquiridas no corpo e na alma, os lucros e prejuízos <strong>de</strong>stes tempos, eram lembranças<br />

sistematicamente guardadas na memória dos fidalgos resi<strong>de</strong>ntes na Bahia, mas também registrada<br />

pela ponta da pena que escrevia os documentos administrativos da Colônia e do Ultramar. Estes<br />

escritos, ainda preservados, abrem possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa renovadas sobre práticas <strong>de</strong> escrita e<br />

representações da mercê régia no contexto político-administrativo da Bahia seiscentista.<br />

116<br />

OLIVAL, Fernanda. As Or<strong>de</strong>ns Militares e o Estado Mo<strong>de</strong>rno: Honra, Mercê e Venalida<strong>de</strong> em Portugal (1641-<br />

1789). Lisboa: Estar. 2001, p. 237-282.<br />

117<br />

Luiz Felipe <strong>de</strong> Alencastro chamou <strong>de</strong> “o novo pacto político entre a Corte e os guerreiros ultramarinos” as múltiplas<br />

concessões <strong>de</strong> patentes militares, postos <strong>de</strong> justiça e fazenda concedidos por mercê régia após a Restauração. Ver: op.<br />

cit. ALENCASTRO, Luiz Felipe <strong>de</strong>. O trato dos viventes. Formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo,<br />

Companhia das Letras, 2000. p. 302-307.<br />

118<br />

Marília Nogueira dos Santos enten<strong>de</strong>u a importância que as comunicações escritas tinham na Administração<br />

Ultramarina, afirmando que [...] governar por escrito <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> ser exceção e passava a ser regra. Ver: SANTOS,<br />

Marília Nogueira dos. “O império na ponta da pena: cartas e regimentos dos governadores-gerais do Brasil.” In:<br />

Revista Tempo, Niterói: UFF, v. 14, n. 27, 2009. p. 101-117.<br />

119<br />

MELLO, Evaldo Cabral <strong>de</strong>. Rubro Veio: o imaginário da restauração pernambucana. 2a. ed., Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

Topbooks, 1997, p. 34.<br />

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