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Lourenço de Brito Correa: o sujeito mais perverso e escandaloso ...

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pelo Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Óbidos foram restituídos aos seus postos e in<strong>de</strong>nizados pelas perdas que tiveram<br />

durante o encarceramento, mas este é um assunto para próximos estudos.<br />

Os meses finais do ano <strong>de</strong> 1665 <strong>de</strong>marcam acontecimentos que <strong>de</strong>finiram todo o restante da<br />

gestão <strong>de</strong> Óbidos no Brasil. Se neste ano o vice-rei se livrou dos seus principais opositores<br />

políticos, embarcando-os Lisboa e perseguindo os outros que na Bahia encontravam-se refugiados<br />

pelos conventos, ele também teve que enfrentar outros problemas que não podiam ser contidos por<br />

vias políticas.<br />

Sebastião da Rocha Pita se ocupou em sua História da América Portuguesa daquela que<br />

consi<strong>de</strong>rou a pior calamida<strong>de</strong> vivida pelos moradores do Brasil, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o <strong>de</strong>scobrimento. É a partir<br />

<strong>de</strong> suas palavras que po<strong>de</strong>mos acompanhar os dois últimos anos da gestão do Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Óbidos e<br />

assim expor outras inquietações a que este trabalho motivou.<br />

130<br />

[...] um horroroso cometa, que por muitas noites tenebrosas ateado em vapores <strong>de</strong>nsos<br />

ar<strong>de</strong>u com infausta luz sobre nossa América, e lhe anunciou o danno que havia <strong>de</strong> sentir,<br />

porque ainda que os meteoros se formam <strong>de</strong> incendios casuaes, em que ar<strong>de</strong>m os átomos<br />

que subindo da terra chegam con<strong>de</strong>nsados à esphera as cinzas em que se dissolvem são<br />

po<strong>de</strong>rosas assim a infeccionar os ares para infundirem achaques como a <strong>de</strong>scompor os<br />

ânimos para obrarem fatalida<strong>de</strong>s; tendo-se observado que as maiores ruínas nas<br />

repúblicas e nos viventes trouxeram sempre <strong>de</strong>ante <strong>de</strong>stes signaes. 398<br />

O matemático, filósofo e astrólogo jesuíta <strong>de</strong> nome Valentim Stansel veio para o Colégio da<br />

Bahia na mesma época que o Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Óbidos chegou ao Brasil, em 1663. Esteve a ensinar<br />

teologia moral e matemática e aqui se ocupava em aprofundar os seus estudos sobre o clima e a<br />

natureza dos Trópicos, além <strong>de</strong> continuar suas investigações, acompanhando os movimentos dos<br />

astros no Hemisfério Sul. Ele era um dos <strong>mais</strong> respeitados astrólogos da Companhia <strong>de</strong> Jesus e teve<br />

seus trabalhos publicados na Europa, seus estudos foram utilizados por Isaac Newton e a sua<br />

história po<strong>de</strong> nos dar <strong>mais</strong> <strong>de</strong>talhes sobre o pensamento científico do Brasil no período colonial.<br />

Não é cabe aqui aprofundar os pormenores da trajetória <strong>de</strong> <strong>mais</strong> este homem que fez o nome<br />

da Bahia ser conhecido pelos astrólogos e cientistas do Velho Mundo, todavia não seria possível<br />

encerrar esta dissertação sem mencionar que no ano <strong>de</strong> 1665, o jesuíta escreveu o seu “Legado<br />

Uranico do Novo ao Velho Mundo”. 399<br />

Apesar do padre Stansel não ver o mencionado fenômeno celeste como um aviso <strong>de</strong> Deus<br />

para re<strong>de</strong>nção das almas ou prenúncio do apocalipse, na sua concepção, todas as alterações<br />

posteriores às passagens <strong>de</strong> cometas pelo orbe eram consequências naturais e não tinham<br />

necessariamente relação com a vonta<strong>de</strong> divina, nota-se também que a passagem <strong>de</strong> cometas era<br />

398 PITA, Sebastião da Rocha. História da América Portuguesa, livro 6, 1730. p.180.<br />

399 Mais <strong>de</strong>talhes sobre o padre Valentim Stansel e suas posições sobre os cometas por ele observador e catalogados<br />

entre os anos <strong>de</strong> 1664,1665, 1668 e 1689, bem como o reflexo <strong>de</strong> suas idéias na Europa a partir do Legado Uranico foi<br />

feito por CAMENIETZKI, Carlos Ziller. “O cometa, o pregador e o cientista: Antonio Vieira e Valentim Stansel<br />

observam o céu da Bahia no século XVII.” In: Revista da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> História das Ciencias, Número 14,<br />

1995, p.37-52.

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