Lourenço de Brito Correa: o sujeito mais perverso e escandaloso ...
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em vários Conselhos, Tribunais e outras instâncias consultivas que respaldavam as <strong>de</strong>cisões régias,<br />
em áreas especificas do governo e esta tradição foi mantida por D. João IV. 254<br />
Desta forma, quando um Soberano elegia um súdito como seu principal representante<br />
político e jurídico, o raio <strong>de</strong> ação e <strong>de</strong>cisão dos Conselhos ficava limitado à vonta<strong>de</strong> do Valido, seus<br />
po<strong>de</strong>res extraordinários geravam dissenso entre Conselheiros e representantes <strong>de</strong>ste sistema<br />
administrativo, composto por múltiplos sínodos.<br />
O controle do Valido era tamanho que ele tinha a prerrogativa <strong>de</strong> interferir diretamente na<br />
economia <strong>de</strong> mercês e formar sua própria re<strong>de</strong> clientelar, colocando homens <strong>de</strong> sua confiança no<br />
exercício das funções <strong>mais</strong> importantes no Reino e no Ultramar. A centralização do processo<br />
<strong>de</strong>cisório e monopólio dos mecanismos <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> mercês régias submetidos às <strong>de</strong>cisões do<br />
Valido, fez <strong>de</strong>spertar a atenção <strong>de</strong> alguns fidalgos <strong>de</strong>sgostosos com tal merecimento e ocasionou<br />
sérios conflitos, <strong>de</strong>ntro e fora do Reino.<br />
Acompanhemos, a seguir um trecho do Regimento que levou o Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Castelo Melhor<br />
como Escrivão da Purida<strong>de</strong> do Rei D. Afonso VI e os po<strong>de</strong>res extraordinários que lhes foram<br />
conferidos:<br />
[...] Todos os Regimentos, Or<strong>de</strong>ns, e Cartas que se houverem <strong>de</strong> dar, e escrever aos Vice<br />
Reis, e Governadores das Províncias e Praças Ultramarinas, para o bom governo <strong>de</strong>llas,<br />
na paz, ou na guerra, assim no que tocas a meus Vassalos, como aos estrangeiros, mandar<br />
Exércitos, ou Armadas, assim para os mares do Reino, como <strong>de</strong> fora: e finalmente tudo que<br />
pertencer ao Estado <strong>de</strong> coroa, se expedirá por sua or<strong>de</strong>m o officio. Correrão por sua mão<br />
todos os Provimentos <strong>de</strong> Vice-Reis, e governadores, assim das Províncias e Praças do reino<br />
como do Ultramar, Generaes das Armadas. Almirantes, e todos os oficiaes gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Paz<br />
e guerra, pelos quaes com superiorida<strong>de</strong> se administra o governo público, como são os<br />
Presi<strong>de</strong>ntes dos Tribunaes, Conselheiros, Secretários e Escrivães <strong>de</strong>lles, <strong>de</strong>sembargadores<br />
e Ministros da camara <strong>de</strong>sta Cida<strong>de</strong>, e quaesquer outros <strong>de</strong> igual po<strong>de</strong>r e jurisdicção,<br />
criações <strong>de</strong> Títulos, nomeações <strong>de</strong> Bispados, e Prelazias, Officiaes da casa Real, lugares do<br />
Santo Offício, Reitor, Ca<strong>de</strong>iras e <strong>de</strong>spachos semelhantes da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra, e<br />
qualquer <strong>de</strong>pendência das outras sobreditas [...] tomará os preitos e homenagens, que se<br />
me fizerem, <strong>de</strong> qualquer Governo, Fortaleza ou Capitania, assim do Reino como<br />
Ultramarinos[...] 255<br />
Ângela Barreto Xavier afirma que o resgate da política <strong>de</strong> valimento foi <strong>mais</strong> uma forma <strong>de</strong><br />
burlar o mo<strong>de</strong>lo polissinodal da Monarquia Portuguesa no intuito <strong>de</strong> garantir a governabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
D. Afonso VI. Esta monarquia, anteriormente respaldada pelas <strong>de</strong>cisões provenientes <strong>de</strong> um amplo<br />
sistema <strong>de</strong> consultas aos Tribunais e Conselhos a<strong>de</strong>quados, tornou-se, com resgate do favoritismo<br />
régio, um [...] mo<strong>de</strong>lo autocrático, centrado num pequeno núcleo que envolvia o rei, agora com<br />
254 DANTAS, Vinicius Orlando <strong>de</strong> Carvalho. O Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Castelo Melhor: valimento e razões <strong>de</strong> Estado no Portugal<br />
seiscentista (1640-1667), p.1. Um estudo recente sobre as guerras <strong>de</strong> Restauração no período <strong>de</strong> D. Afonso foi realizada<br />
por COSTA, Fernando D. A Guerra da Restauração. (1641-1668), Lisboa: Livros Horizonte 2004. Ver também a obra <strong>de</strong><br />
Fernando Palha sobre as razões do final do Valimento régio e reinado <strong>de</strong> D. Afonso VI em: PALHA, Fernando. O<br />
Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Castelo Melhor no exílio. Lisboa: Imprensa Nacional, 1883, p. 3-14.<br />
255 Ver o Regimento do Escrivão da Purida<strong>de</strong> em : SILVA, José Justino <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> e. Collecção Chronologica da<br />
legislação portuguesa. (1657-1674). Lisboa: Imprenssa <strong>de</strong> J.J.A. Silva, 1856. p 38-84<br />
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