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Lourenço de Brito Correa: o sujeito mais perverso e escandaloso ...

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o cenáculo <strong>de</strong> quinta feira <strong>de</strong> Endoenças 23 , tal ativida<strong>de</strong> fazia parte das celebrações que ocorriam<br />

durante a Semana Santa, esta expressão <strong>de</strong> fé e <strong>de</strong>voção católica foi entendida por Flexor como um<br />

verda<strong>de</strong>iro espetáculo teatral a céu aberto, encenado nas ruas da cida<strong>de</strong> da Bahia, em gran<strong>de</strong> pompa<br />

barroca. 24<br />

O apelo sensorial das imagens <strong>de</strong> vulto foi <strong>mais</strong> um artifício litúrgico forjado pelo<br />

catolicismo ibérico e transplantado para a América, este recurso era utilizado especialmente durante<br />

as celebrações que antecediam a Páscoa e tinha o objetivo <strong>de</strong> remontar o clima dramático vivido por<br />

Jesus Cristo antes <strong>de</strong> ser crucificado. O evento era obrigatório para todo cristão presente na<br />

freguesia e o cortejo era realizado à noite, acompanhado por tochas e fumaça <strong>de</strong> incenso.<br />

Podia-se ouvir ladainhas entoadas por mulheres ajoelhadas e batendo no peito como<br />

manifestação <strong>de</strong> arrependimento, as imagens <strong>de</strong> Jesus, <strong>de</strong> Maria e dos apóstolos eram talhadas em<br />

ma<strong>de</strong>ira com gran<strong>de</strong> expressivida<strong>de</strong> e vestidas <strong>de</strong> roxo, cor predominante no tempo litúrgico da<br />

quaresma, o espetáculo <strong>de</strong> cheiros, cores e sons estimulava a fé e a veneração dos moradores. 25<br />

A <strong>de</strong>coração prévia das imagens <strong>de</strong> vulto eram ocasiões <strong>de</strong> confraternização para os vizinhos<br />

da Igreja da Ajuda 26 , os moradores se reuniam para vestir as imagens <strong>de</strong> vulto, <strong>de</strong>corar os andores e<br />

retocar as alfaias, todavia, nem tudo era <strong>de</strong>scontração naquele dia: quatro cristãos-novos que<br />

também se faziam presentes na ocasião, proferiram palavras pouco a<strong>de</strong>quadas para o momento e<br />

foram ouvidas pelo cristão-velho [...] capitão e morador nesta cida<strong>de</strong> 27 <strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong>.<br />

Ele lembrou o nome dos tais cristãos-novos que, em plena quinta feira santa <strong>de</strong> 1618, [...]<br />

estavão zombando cõ as ditas figuras dos apóstolos, que eram <strong>de</strong> vulto. 28 De acordo com seu<br />

<strong>de</strong>poimento, os zombeteiros eram [...] da nasção e pessoas conhecidas estantes nesta Cida<strong>de</strong>. 29<br />

O fidalgo nascido na Bahia guardava <strong>de</strong>talhes daquele dia, afirmou que o cristão novo<br />

Duarte Alvares Ribeiro, [...] olhando para a figura <strong>de</strong> São Pedro, disse: [...] olhai as barbas <strong>de</strong>ste,<br />

como beberia no tempo que andava na barca. 30<br />

Talvez os quatro cristãos-novos não tivessem percebido que, <strong>de</strong>ntro da mesma Igreja, o<br />

23 op. cit. ANTT, PT-TT-TSO-IL/038/0784. p. 243.<br />

24 FLEXOR, Maria Helena Ochi. Procissões na Bahia : teatro barroco a céu aberto . In: Barroco: Actas do II Congresso<br />

Internacional. Porto: Universida<strong>de</strong> do Porto. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras. Departamento <strong>de</strong> Ciências e Técnicas do<br />

Patrimônio, 2003.<br />

25 Sobre as procissões realizadas na Bahia durante o período Colonial ver: CAMPOS, João da Silva. Procissões<br />

tradicionais da Bahia. Salvador: Secretaria <strong>de</strong> Cultura e Turismo, Conselho Estadual <strong>de</strong> Cultura, 2ª ed. 2001. Agra<strong>de</strong>ço<br />

a professora Ione Celeste <strong>de</strong> Jesus Sousa pela indicação <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

26 “Igreja <strong>de</strong> Nossa senhora da Ajuda com quatro braças e um palmo <strong>de</strong> frente correndo ao rumo noroeste a su<strong>de</strong>ste, a<br />

casa <strong>de</strong> sacristia tem frente para a rua, por <strong>de</strong>trás do mesmo tempo sita a freguesia <strong>de</strong> S. Salvador.” Ver: FREIRE,<br />

Felisbello. História Territorial do Brasil, Vol.1 (Bahia, Sergipe e Espírito santo). Rio <strong>de</strong> janeiro: Typographia do<br />

Jornal do Commercio. 1906, p. 441.<br />

27 op. cit. ANTT, PT-TT-TSO-IL / 038/0784, p. 243<br />

28 i<strong>de</strong>m, p. 243. O nome dos cristãos-novos <strong>de</strong>nunciados por <strong>Lourenço</strong> eram: Duarte Alvres Ribeiro, Duarte Fernan<strong>de</strong>s,<br />

André Lopes <strong>de</strong> Carvalho e Luis Alvres.<br />

29 i<strong>de</strong>m, p. 243<br />

30 I<strong>de</strong>m, p. 244<br />

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