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Lourenço de Brito Correa: o sujeito mais perverso e escandaloso ...

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<strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong> foi <strong>de</strong>gredado do Reino e atravessou o Atlântico para cumprir uma<br />

pena <strong>de</strong> dois anos no Brasil. Sua primeira viagem compulsória, da Bahia para o Reino, foi por<br />

indícios <strong>de</strong> improbida<strong>de</strong> administrativa, contudo, em 1649, <strong>Lourenço</strong> refaz o caminho <strong>de</strong> volta para<br />

a América por uma acusação formulada por um membro da Inquisição <strong>de</strong> Lisboa.<br />

Não conhecemos ainda os argumentos levantados por Gaspar Sinel para justificar o <strong>de</strong>gredo<br />

<strong>de</strong> <strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> volta para a Bahia, o que sabemos é que Gaspar fora um conhecido familiar do<br />

Tribunal do Santo Ofício e que suas acusações foram suficientes para fazer <strong>Lourenço</strong> cruzar o<br />

Atlântico na condição <strong>de</strong> <strong>de</strong>gredado por dois anos <strong>de</strong> volta ao Brasil, uma viajem que parece ter<br />

sido proveitosa para o bisneto do Caramuru, analisaremos este aspecto com <strong>mais</strong> cuidado a seguir.<br />

Afonso Costa levanta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong> ter subornado algumas<br />

pessoas para conseguir regressar à Bahia, 98 aparentemente, esta suposição não parece coadunar com<br />

o que diz os autos do processo em tela, principalmente se levarmos em conta a <strong>de</strong>licada situação<br />

financeira que este <strong>sujeito</strong> apresentava antes <strong>de</strong> voltar à América:<br />

[...] esta muito carregado <strong>de</strong> dívidas que fez em <strong>mais</strong> <strong>de</strong> sette annos que esteve prezo, e o<br />

que tinha no Brazil Vossa Magesta<strong>de</strong> mandou ven<strong>de</strong>r, e cobrar o dinheiro para a sua real<br />

fazenda sem ele <strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> ser <strong>de</strong>vedor <strong>de</strong> couza algua, antes a fazenda real lhe<br />

<strong>de</strong>ve 99 .<br />

Apesar <strong>de</strong> contar sua miséria, o fidalgo baiano <strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong> relembrava sua<br />

condição <strong>de</strong> credor da Fazenda, o suplicante [...] pe<strong>de</strong> a Vossa Magesta<strong>de</strong> humil<strong>de</strong>mente lhe faça<br />

mercê visto o que allega 100 . Resumindo sua petição, <strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong> solicitava que o<br />

pagamento dos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> cada ano que serviu como Governador do Brasil fosse pago na Bahia,<br />

[...] indo na folha ordinária como he costume e que da mesma maneira se lhe paguem os quintos<br />

das fazendas e da fragata <strong>de</strong> Sevilha na forma do alvará <strong>de</strong> Vossa Magesta<strong>de</strong> referido. 101<br />

A palavra final do Conselho Ultramarino sobre este caso só foi dada no dia 13 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong><br />

1650, quando <strong>Lourenço</strong> tinha 60 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, pouco <strong>mais</strong> ou menos. Os juízes Jorge <strong>de</strong> Castilho,<br />

João Delgado e Diogo Lobo Pereira trataram dos seus pedidos: sobre a quantia <strong>de</strong> três mil cruzados,<br />

que alegava ter direito por serviços prestados como um dos três Governadores, os magistrados<br />

assim enten<strong>de</strong>ram:<br />

[...] Os governadores do Brasil tem <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nado a cada anno, três mil cruzados, e a este<br />

respeito parece que a mesma quantia se <strong>de</strong>ve repartir pelos três que servirão <strong>de</strong> que hu foi<br />

<strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong>, a que cabem mil cruzados por hum anno e o <strong>mais</strong> que se manter<br />

98 op. Cit. COSTA, Afonso. Baianos <strong>de</strong> Antanho (Biografias), p 304.<br />

99 op. Cit. AHU, LF, Cx. 11, Doc.1355. Apesar <strong>de</strong> <strong>Lourenço</strong> <strong>de</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Correa</strong> manifestar em seu discurso a pobreza e<br />

privações que vivia enquanto esteve preso no Reino, vemos em outros documentos que a sua situação financeira não era<br />

tão periclitante como narrava, ele continuou a receber os benefícios que o Hábito da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cristo e comendas da<br />

Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago lhe conferia, em um Alvará, escrito em 10 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1646, ele recebeu a promessa <strong>de</strong> 60$000 réis<br />

<strong>de</strong> pensão nos bens da Or<strong>de</strong>m com o Hábito <strong>de</strong> Cristo, em 16 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1647 recebeu outra pensão, por meio <strong>de</strong> um<br />

Alvará com a quantia <strong>de</strong> 10$000 réis na Comenda <strong>de</strong> Santiago <strong>de</strong> Bedoido. Ver: Série: ANTT. Or<strong>de</strong>ns Militares,<br />

Registro Geral <strong>de</strong> Mercês e Or<strong>de</strong>ns, livro 2, folhas 183 e 263.<br />

100 op. Cit. AHU, L F, Cx. 11, Doc.1355<br />

101 i<strong>de</strong>m<br />

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