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Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

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ao objeto uma reali<strong>da</strong>de esmagadora com relação ao sujeito, ou seja, lhe confere um valor exagerado. Este<br />

valor decorre <strong>da</strong> projeção ou <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de a priori <strong>da</strong> imago com o objeto, tendo como resultado o fato de<br />

que o objeto exterior se torna ao mesmo tempo um objeto interior. Eis aí como, por via inconsciente, o<br />

objeto exterior pode exercer uma influência psíquica direta sobre o sujeito, visto que, em virtude de sua<br />

identi<strong>da</strong>de com a imago, de certo modo interfere diretamente no mecanismo psíquico do sujeito. Com<br />

isto, o objeto pode adquirir um poder "mágico" sobre o sujeito. Os primitivos dão-nos disso exemplos<br />

impressionantes: tratam os filhos ou mesmo as coisas as quais conferem uma "alma", <strong>da</strong> mesma maneira<br />

como tratam sua própria alma. Na<strong>da</strong> se atrevem a fazer contra eles, por medo de causarem injúria à alma<br />

que habita nas crianças ou nos objetos. É por isto que as crianças permanecem sem instrução, tanto<br />

quanto possível, até a puber<strong>da</strong>de, para de repente, serem submeti<strong>da</strong>s a uma educação tardia,<br />

freqüentemente de aspecto terrificante (iniciação).<br />

[522] Disse eu mais acima que a autonomia <strong>da</strong> imago mantém-se inconsciente, porque é<br />

identifica<strong>da</strong> com a imago do objeto. Sendo assim, a morte do objeto provocaria estranhos efeitos<br />

psicológicos, porque não desapareceria inteiramente, mas continuaria a existir sob uma forma impalpável.<br />

Realmente, como sabemos, é isto o que acontece. A imago inconsciente, que não possui mais um objeto<br />

correspondente, torna-se um fantasma e produz sobre o sujeito efeitos que, em princípio, não podemos<br />

distinguir dos fenómenos psíquicos. As projeções inconscientes do sujeito, que canalizaram conteúdos<br />

inconscientes para a imago do objeto e a identificaram com este último, sobrevivem à per<strong>da</strong> real do objeto<br />

e desempenham um papel de grande importância na vi<strong>da</strong> dos primitivos e dos povos civilizados, antigos e<br />

modernos. Estes fenômenos nos oferecem uma prova clara <strong>da</strong> existência relativamente autônoma de<br />

imagines de objetos no inconsciente. Se elas estão presentes no inconsciente, é porque decerto nunca<br />

foram conscientemente distingui<strong>da</strong>s dos objetos.<br />

[523] Qualquer progresso, qualquer realização no plano conceitual por parte <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de têm<br />

sido acompanhados de um progresso <strong>da</strong> consciência de si mesmo: O indivíduo se diferencia do objeto e se<br />

posiciona diante <strong>da</strong> natureza como um ser distinto em relação a ela. Por isso, qualquer nova orientação <strong>da</strong><br />

atitude psicológica deverá seguir também o mesmo caminho: é evidente que a identi<strong>da</strong>de do objeto com a<br />

imago subjetiva confere ao objeto uma importância que propriamente não lhe pertence, embora a possua<br />

desde to<strong>da</strong> a eterni<strong>da</strong>de, porque a identi<strong>da</strong>de é um fato absolutamente original. Para o sujeito, porém, é<br />

um estado de primitivi<strong>da</strong>de que só perdurará enquanto não levar a graves inconvenientes. A<br />

supervalorização do objeto, porém, constitui justamente uma <strong>da</strong>s circunstâncias particularmente capazes<br />

de prejudicar o desenvolvimento do sujeito. Um objeto "mágico" excessivamente acentuado orienta<br />

poderosamente a consciência subjetiva para o objeto e frustra qualquer tentativa de diferenciação<br />

individual que, deveria começar com a separação <strong>da</strong> imagem no confronto com o objeto. Em outras<br />

palavras: é absolutamente, impossível manter a orientação geral <strong>da</strong> diferenciação enquanto fatores<br />

externos interferem "magicamente" na economia psíquica do sujeito. A separação, porém, <strong>da</strong>s imagines,<br />

que confere aos objetos sua significação exagera<strong>da</strong>, devolve ao sujeito a massa de energia dissocia<strong>da</strong> de<br />

que ele necessita urgentemente para seu próprio desenvolvimento.<br />

[524] Interpretar as imagens oníricas ao nível do sujeito é, para o homem moderno, como se se<br />

retirassem as imagens ancestrais e os fetiches a um primitivo e se tentasse explicar-lhe que os seus<br />

"poderes de cura" são de natureza espiritual, e residem, não no objeto, mas na psique humana. O<br />

primitivo sente legítima aversão por essa idéia tão herética. Também o homem moderno percebe que é<br />

desagradável e mesmo, talvez, de algum modo perigoso romper a identi<strong>da</strong>de que existe entre a imago e o<br />

objeto, consagra<strong>da</strong> desde tempos imemoriais. As conseqüências que isso traria para a nossa psicologia<br />

seriam quase inimagináveis: não haveria mais ninguém para acusarmos, ninguém a quem<br />

responsabilizarmos, ninguém ao qual ensinarmos o caminho <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, ninguém para corrigirmos ou<br />

para castigarmos! Pelo contrário, seria preciso começar, em tudo, por nós próprios; seria preciso exigir<br />

unicamente de nós próprios, e de mais ninguém, aquilo que exigimos dos outros. Sendo assim,<br />

compreende-se facilmente por que a interpretação <strong>da</strong>s imagines oníricas ao nível do sujeito não é um<br />

passo que nos deixe indiferentes, sobretudo não o é porque pode conduzir a atitudes unilaterais e a<br />

exageros, tanto numa direção como noutra.<br />

[525] Além destas dificul<strong>da</strong>des mais de ordem moral, existe também um certo número de<br />

obstáculos intelectuais. Já me objetaram que a interpretação ao nível do sujeito representa um problema<br />

filosófico e que a aplicação deste princípio conduz às limitações <strong>da</strong> cosmovisão e que, por isto mesmo,<br />

perde o seu caráter de ciência. Não me parece constituir motivo de surpresa ver a Psicologia abeirar-se <strong>da</strong>

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