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Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

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<strong>da</strong> mitologia vença ora um dragão, ora um peixe, ou um outro monstro; o motivo fun<strong>da</strong>mental é sempre o<br />

mesmo, e isto é um patrimônio comum <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de e não formulações passageiras <strong>da</strong>s diferentes<br />

épocas e regiões.<br />

[719] Assim o homem nasce com sua complica<strong>da</strong> predisposição psíquica que é tudo menos uma<br />

tabula rasa. Mesmo a mais arroja<strong>da</strong> fantasia tem os seus limites determinados pela herança psíquica, e<br />

mesmo através dos véus <strong>da</strong> fantasia mais desenfrea<strong>da</strong> transparecem aquelas dominantes que são inerentes<br />

a mente humana desde tempos imemoriais. Consideramos um fato muito estranho, quando algum doente<br />

mental desenvolve Fantasias que podem ser encontra<strong>da</strong>s sob formas quase idênticas entre os primitivos.<br />

Mas mais estranho seria se assim não fosse.<br />

[720] À esfera de nossa herança psíquica chamei-a de inconsciente coletivo. Todos os conteúdos<br />

de nossa consciência foram adquiridos individualmente. Se a psique humana consiste única e<br />

exclusivamente na consciência, na<strong>da</strong> haveria de psíquico que não tivesse surgido senão no curso <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

individual. Neste caso, procuraríamos em vão qualquer condição ou influência prévia por detrás de um<br />

simples complexo parental. Com a redução ao pai e à mãe teríamos dito a última palavra, porque eles são<br />

as figuras que primeiro influíram em nossa psique consciente, com exclusão de tudo o mais. Na reali<strong>da</strong>de,<br />

porém, os conteúdos <strong>da</strong> consciência não surgiram apenas através <strong>da</strong> influência do ambiente individual,<br />

mas foram influenciados e constelados também por nossa herança psíquica, ou seja, o consciente coletivo.<br />

Naturalmente a imagem <strong>da</strong> mãe individual é impressiva, mas sua impressivi<strong>da</strong>de to<strong>da</strong> particular é devi<strong>da</strong><br />

sobretudo ao fato de estar associa<strong>da</strong> intimamente a uma disposição inconsciente, a um sistema ou imagem<br />

inata que é o resultado <strong>da</strong> relação simbiótica <strong>da</strong> mãe com o filho, existente desde todos os tempos. Onde<br />

falta a figura <strong>da</strong> mãe individual sob este ou aquele aspecto, verifica-se uma per<strong>da</strong> ou uma exigência à<br />

imagem coletiva <strong>da</strong> mãe de se realizar. Malogrou-se, por assim dizer, um instinto. Isto, muitas vezes,<br />

provoca distúrbios neuróticos ou pelo menos singulari<strong>da</strong>des de caráter. Se não houvesse o consciente<br />

coletivo, a educação poderia conseguir tudo; poderíamos reduzir impunemente o homem a uma máquina<br />

psíquica, ou transformá-lo em um ideal. Mas todos estes esforços encontram fortes limitações, porque há<br />

dominantes do inconsciente que põem exigências quase impossíveis de realização.<br />

[721] Se no caso do paciente <strong>da</strong> neurose gástrica me perguntassem o que é que, no inconsciente —<br />

para além e acima do complexo <strong>da</strong> mãe pessoal — mantém vivo um desejo ao mesmo tempo indefinível e<br />

cruciante, eu responderia que é a imagem coletiva <strong>da</strong> mãe, não <strong>da</strong> mãe pessoal, mas <strong>da</strong> mãe em seu<br />

aspecto universal.<br />

[722] Mas alguém poderá perguntar: Por que esta imagem coletiva provoca tal desejo? Não é fácil<br />

responder esta pergunta. Se pudéssemos ter uma idéia clara <strong>da</strong> natureza e do significado desta imagem<br />

coletiva, que eu chamei de arquétipo, poderíamos entender facilmente seus efeitos.<br />

[723] Para explicar isto, eu gostaria de fazer a seguinte argumentação: A relação mãe-filho é, de<br />

qualquer modo, a mais profun<strong>da</strong> e a mais comovente que se conhece; de fato, por um certo tempo, a<br />

criança é, por assim dizer, parte do corpo <strong>da</strong> mãe! Mais tarde, faz parte <strong>da</strong> atmosfera psíquica <strong>da</strong> mãe por<br />

vários anos, e, deste modo, tudo o que há de original na criança acha-se indissoluvelmente ligado à<br />

imagem <strong>da</strong> mãe. Isto é ver<strong>da</strong>de não só nos casos individuais, mas é atestado também pela História. É a<br />

experiência absoluta de nossa espécie, uma ver<strong>da</strong>de orgânica tão indiscutível como a relação mútua dos<br />

sexos. Assim, aquela mesma intensi<strong>da</strong>de extraordinária <strong>da</strong> relação que impele instintivamente a criança a<br />

se agarrar à mãe, está naturalmente presente também no arquétipo, na imagem coletivamente her<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

mãe. Com o passar dos anos, o homem cresce e se desliga naturalmente <strong>da</strong> mãe, contanto que não se ache<br />

mais num estado de primitivi<strong>da</strong>de quase semelhante à do animal, e já tenha alcançado um certo estado de<br />

consciência e de cultura; mas não se desliga, por forma igualmente natural, do arquétipo. Se ele é<br />

instintivo, sua vi<strong>da</strong> transcorre sem livre escolha, porque a liber<strong>da</strong>de pressupõe sempre a consciência. Ela<br />

se desenvolve segundo determina<strong>da</strong>s leis inconscientes e sem nunca se desviar do arquétipo. Mas, se<br />

existe uma consciência relativamente eficiente, supervaloriza-se o conteúdo consciente, sempre em<br />

detrimento do inconsciente; <strong>da</strong>í surge a ilusão de que na<strong>da</strong> acontece quando o indivíduo se separa <strong>da</strong> mãe,<br />

exceto quanto ao fato de ele deixar de ser o filho dessa mãe individual. A consciência só reconhece<br />

conteúdos adquiridos individualmente; por isto, só reconhece a mãe individual e ignora que ela é, ao<br />

mesmo tempo, a portadora e a representante do arquétipo, o qual é, por assim dizer, a mãe "eterna". A<br />

separação <strong>da</strong> mãe, porém, só é completa, quando o arquétipo está incluído nela. O mesmo se pode dizer,<br />

naturalmente, quanto ao desligamento do filhe em relação ao pai.

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