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Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

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intacta a possibili<strong>da</strong>de de existência dos dois sistemas, a saber: <strong>da</strong> consciência do ego, de um lado, e do<br />

complexo que irrompeu, do outro. Exemplos clássicos deste processo são a experiência <strong>da</strong> conversão de<br />

Paulo e a chama<strong>da</strong> visão trinitária de Nicolau de Flüe.<br />

[414] Graças à "imaginação ativa" podemos fazer a descoberta do arquétipo sem precisar de recuar e<br />

mergulhar na esfera dos instintos, o que nos levaria a um estado de inconsciência onde é impossível<br />

qualquer conhecimento, ou, pior ain<strong>da</strong>, a uma espécie de substitutivo intelectualista dos instintos. Para<br />

usarmos uma semelhança com o espectro, isto significa que a imagem instintiva deve ser localiza<strong>da</strong>, não<br />

no extremo vermelho, mas no extremo violeta <strong>da</strong> escala cromática. O dinamismo do instinto situa-se, por<br />

assim dizer, na parte infravermelha do espectro, ao passo que a imagem instintiva se localiza na parte<br />

ultravioleta. Se nos recor<strong>da</strong>rmos do conhecido simbolismo <strong>da</strong>s cores, então, como já dissemos, o<br />

vermelho não combina tão mal com o instinto. Mas, como seria de esperar 140 o azul combina melhor com<br />

o espírito do que o violeta. Esta é a chama<strong>da</strong> cor "mística" que retrata satisfatoriamente o aspecto<br />

indubitavelmente "místico" ou paradoxal do arquétipo. O violeta é composto pelo azul e pelo vermelho,<br />

embora, no espectro, ele apareça como uma cor autônoma. Entretanto, não se trata meramente de<br />

consideração edificante, quando nos vemos compelidos a ressaltar que o arquétipo é caracterizado mais<br />

adequa<strong>da</strong>mente pelo violeta, pois não é apenas uma imagem autônoma, mas também um dinamismo que<br />

se reflete na numinosi<strong>da</strong>de e no poder fascinador <strong>da</strong> imagem arquetípica. A percepção <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de do<br />

instinto e a sua assimilação nunca se dão no extremo vermelho, ou seja, pela absorção e mergulho na<br />

esfera instintiva, mas apenas por assimilação <strong>da</strong> imagem, que significa e ao mesmo tempo evoca o<br />

instinto, embora sob uma forma inteiramente diversa <strong>da</strong>quela em que o encontramos ao nível biológico.<br />

Quando Fausto dizia a Wagner: "Tu estás consciente apenas de um impulso. Oxalá jamais conhecesses o<br />

outro..." trata-se de uma afirmação que se poderia aplicar igualmente ao instinto em geral. O instinto<br />

comporta dois aspectos: de um lado, é experimentado como um dinamismo fisiológico, enquanto, do<br />

outro lado, suas múltiplas formas penetram na consciência como imagens, desenvolvendo aí efeitos<br />

numinosos que oferecem ou parecem oferecer o mais agudo contraste com os impulsos fisiológicos. Para<br />

os que conhecem bem a fenomenologia religiosa, não constitui nenhum segredo o fato de que, embora a<br />

paixão física e espiritual sejam inimigos mortais, contudo, não deixam de ser irmãs e, por isto, basta<br />

apenas um pequeno toque, para que uma delas se converta na outra. Ambas são reais e formam um par de<br />

opostos, o que é uma <strong>da</strong>s fontes mais fecun<strong>da</strong>s de energia psíquica. Não é questão de derivar um dos<br />

membros do outro, para conferir a primazia a um deles. Se, porventura, conhecêssemos primeiramente<br />

um deles, e só muito mais tarde observássemos a presença do outro, não é prova absolutamente de que o<br />

outro também não tenha existido em todo este tempo. Não se pode derivar o quente do frio nem o<br />

superior do inferior. Uma antítese ou é constituí<strong>da</strong> de dois pólos opostos ou não é antítese, e um ser é<br />

totalmente inconcebível sem uma polari<strong>da</strong>de, porque, de outro modo, seria impossível estabelecer sua<br />

existência.<br />

[415] O mergulho na esfera dos instintos, portanto, não conduz à percepção consciente do instinto e<br />

sua assimilação, porque a consciência luta até mesmo em pânico contra a ameaça de ser traga<strong>da</strong> pelo<br />

primitivismo e pela inconsciência <strong>da</strong> esfera dos instintos. Este medo é o eterno objeto do mito do herói e<br />

o tema de inúmeros tabus. Quanto mais nos aproximamos do mundo dos instintos, tanto mais violenta é a<br />

tendência a nos libertar dele e a arrancar a luz <strong>da</strong> consciência <strong>da</strong>s trevas dos abismos sufocadores.<br />

Psicologicamente, porém, como imagem do instinto, o arquétipo é um alvo espiritual para o qual tende<br />

to<strong>da</strong> a natureza do homem; é o mar em direção ao qual todos os rios percorrem seus acidentados<br />

caminhos; é o prêmio que o herói conquista em sua luta com o dragão.<br />

[416] Como o arquétipo é um princípio formador <strong>da</strong> força instintiva, o seu azul se acha misturado<br />

com o vermelho, quer dizer: ele parece violeta, ou, ain<strong>da</strong>, poderíamos interpretar a semelhança como uma<br />

espécie de apocatástase do instinto produzi<strong>da</strong> a um nível de freqüência superior, <strong>da</strong> mesma forma como<br />

seria possível derivar o instinto de um arquétipo latente (isto é, transcendente) que se manifesta numa<br />

freqüência de on<strong>da</strong> mais longa 141 . Embora confessa<strong>da</strong>mente possa não ser mais do que uma analogia,<br />

contudo, vejo-me tentado a recomen<strong>da</strong>r esta imagem do violeta a meus leitores como uma referência<br />

ilustrativa à afini<strong>da</strong>de interior do arquétipo com seu próprio oposto. A imaginação dos alquimistas<br />

140 Esta expectativa se baseia na experiência de que se emprega mais o azul, que é a cor do ar e do céu, para descrever os conteúdos<br />

espirituais, enquanto que se emprega o vermelho, que é a cor "quente", para exprimir os sentimentos e as emoções.<br />

141 Jeans, Physik und Philosophie, p. 282s, frisa que as sombras projeta<strong>da</strong>s na parede <strong>da</strong> caverna de Platão são tão reais quanto as figuras<br />

invisíveis que as projetam e cuja existência só pode ser deduzi<strong>da</strong> matematicamente.

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