Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste
Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste
Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
IV - O SIGNIFICADO DA CONSTITUIÇÃO E DA HERANÇA PARA A<br />
PSICOLOGIA<br />
Originalmente publicado em Die Medizinische Welt, semanário médico III/47, em 1929.<br />
[220] Na opinião científica moderna já não há dúvi<strong>da</strong> de que psique individual depende<br />
amplamente <strong>da</strong> constituição psicológica; e mesmo não é pouco o número dos que consideram esta<br />
dependência como absoluta. Tão longe não quero chegar, mas, <strong>da</strong><strong>da</strong>s as circunstâncias, tenho por mais<br />
adequado que se reconheça uma autonomia relativa à psique com relação à constituição psicológica.<br />
Ver<strong>da</strong>de é que não há provas vigorosas em favor deste ponto de vista, mas também não se provar que a<br />
psique se ache sob a total dependência <strong>da</strong> constituição fisiológica. Não devemos esquecer que a psique é<br />
o x e a constituição é o y complementar. No fundo ambos são fatores desconhecidos que só recentemente<br />
começaram a tomar forma defini<strong>da</strong>. Mas estamos ain<strong>da</strong> muito longe de compreender, o mínimo que seja,<br />
a sua natureza.<br />
[221] Embora seja impossível determinar, em casos individuais as relações entre a constituição e<br />
a psique, tais tentativas já foram feitas muitas vezes, mas os resultados não passam opiniões<br />
indemonstráveis. O único método que nos pode levar a resultados mais ou menos seguros, no presente, é<br />
o método tipológico, utilizado por Kretschmer com relação à constituição fisiológica, e que eu apliquei à<br />
atitude psicológica. Em ambos os casos, o método se baseia em uma grande quanti<strong>da</strong>de de material<br />
empírico no qual as variações individuais se anulam reciprocamente, em larga medi<strong>da</strong>, enquanto certos<br />
traços típicos fun<strong>da</strong>mentais emergem com maior evidência, <strong>da</strong>ndo-nos a possibili<strong>da</strong>de de construir um<br />
certo número de tipos ideais. Naturalmente, jamais ocorrem, em reali<strong>da</strong>de, sob sua forma pura, mas<br />
sempre e unicamente como variações individuais do princípio que rege o seu aparecimento, <strong>da</strong> mesma<br />
forma como os cristais, em geral, são variantes individuais de um mesmo sistema. A tipologia fisiológica<br />
procura, antes e acima de tudo determinar as características exteriores graças às quais seja possível<br />
classificar os indivíduos e investigar suas demais quali<strong>da</strong>des. As pesquisas de Kretschmer mostraram-nos<br />
que as peculiari<strong>da</strong>des fisiológicas dos indivíduos se estendem até aos condicionamentos psíquicos.<br />
[223] A tipologia psicológica procede exatamente <strong>da</strong> mesma maneira, mas seu ponto de parti<strong>da</strong>,<br />
por assim dizer, não é exterior, mas interior. Sua preocupação não é determinar as características<br />
exteriores, mas descobrir os princípios íntimos que governam as atitudes psicológicas genéricas.<br />
Enquanto a tipologia fisiológica é obriga<strong>da</strong> a empregar, essencialmente, métodos científicos para obter<br />
seus resultados, a natureza invisível e imensurável dos processos psíquicos nos constrange a empregar<br />
métodos derivados <strong>da</strong>s ciências humanas, ou, mais precisamente, à crítica analítica. Como já tive ocasião<br />
de acentuar, não temos aqui uma diferença de princípio, mas tão somente uma nuança, determina<strong>da</strong> pela<br />
natureza diferente do ponto de parti<strong>da</strong>. O estado atual <strong>da</strong>s pesquisas nos autoriza a esperar que os<br />
resultados obtidos de um lado e doutro alcançarão um consenso quanto a certos fatos básicos e essenciais.<br />
Pessoalmente tenho a impressão de que certos tipos principais de Kretschmer não estão muito afastados<br />
de certos tipos psicológicos. Não é de todo inconcebível que nestes pontos se possa estabelecer uma ponte<br />
entre a constituição fisiológica e a atitude psicológica. Que isto ain<strong>da</strong> não tenha sido feito se deve,<br />
provavelmente, de um lado, ao fato de que os resultados <strong>da</strong> pesquisa ain<strong>da</strong> sejam muito recentes, e de<br />
que, por outro, a investigação sob o ponto de vista psíquico é muito mais difícil e por isso de menor<br />
compreensão.<br />
[223] Não é difícil concor<strong>da</strong>r que as características fisiológicas são grandezas visíveis, palpáveis e<br />
imensuráveis. Mas em matéria de psicologia nem mesmo o significado <strong>da</strong>s palavras foi ain<strong>da</strong> fixado.<br />
Dificilmente se encontram dois psicólogos que concordem quanto ao conceito de "sentimento", embora o<br />
verbo, "sentir" e o substantivo "sentimento" se refiram a fatos psíquicos; de outro modo nunca se teriam<br />
criado palavras para designá-los. Em psicologia tratamos de fatos em si mesmos definidos, mas que não<br />
foram definidos cientificamente; é um estado de conhecimento até certo ponto análogo ao <strong>da</strong>s ciências<br />
naturais na I<strong>da</strong>de Média; pois em psicologia ca<strong>da</strong> um sabe melhor do que o outro. Há apenas opiniões<br />
sobre fatos desconhecidos. Por isso, os psicólogos revelam sempre uma tendência quase invencível a se<br />
aferrar a fatos fisiológicos, porque aqui eles se sentem abrigados, na segurança de coisas que parecem<br />
conheci<strong>da</strong>s e defini<strong>da</strong>s. A Ciência depende <strong>da</strong> precisão dos conceitos verbais, e por isso a primeira tarefa<br />
que incumbe ao psicólogo é conceitos-limites e conferir nomes sem se preocupar se os outros têm ou não