19.05.2013 Views

Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

espírito como fonte de explicação. Este conhecimento despertaria nosso sentido crítico com relação a esta<br />

nossa tendência. Diríamos: muito provavelmente cometemos agora exatamente o erro inverso que, no<br />

fundo, é o mesmo. Superestimamos as causas materiais, e somente agora acreditamos haver encontrado a<br />

explicação correta, movidos pela ilusão de que conhecemos melhor a matéria do que um espírito<br />

"metafísico". Mas a matéria nos é tão desconheci<strong>da</strong> quanto o espírito. Na<strong>da</strong> sabemos a respeito <strong>da</strong>s<br />

últimas coisas. Somente esta constatação é capaz de restituir-nos o equilíbrio. Mas isto não quer dizer que<br />

neguemos a estreita vinculação que existe entre a psique e a fisiologia do cérebro, <strong>da</strong>s glândulas e do<br />

corpo em geral. Continuamos com a profun<strong>da</strong> convicção de que os conteúdos de nossa consciência são<br />

altamente determinados por nossas percepções sensoriais, e não podemos negar que a hereditarie<strong>da</strong>de<br />

inconsciente imprime em nós traços imutáveis de caráter tanto físicos quanto psíquicos, e que fomos<br />

marcados indelevelmente pelo poder dos instintos que entrava ou favorece ou modifica de maneira<br />

diversa os conteúdos mais espirituais. Temos até mesmo de confessar que a alma humana, sob<br />

qualquer aspecto que a abordemos, se apresenta, antes e acima de tudo, como uma cópia fiel de<br />

tudo o que chamamos matéria, empirismo, este nosso mundo, tanto em suas causas como em seus<br />

fins e em seu sentido. E, finalmente, depois de to<strong>da</strong>s estas concessões, perguntamo-nos a nós<br />

mesmos se a alma, no fundo, não seria uma manifestação secundária, uma espécie de epifenômeno,<br />

e totalmente dependente do substrato físico. Tudo o que em nós é razão prática e participação nas<br />

coisas deste mundo responde em sentido afirmativo, e só nossas dúvi<strong>da</strong>s quanto à onipotência <strong>da</strong><br />

matéria é que nos poderiam levar a considerar, com um olhar crítico, este quadro científico <strong>da</strong><br />

psique humana.<br />

[658] Esta concepção já foi acusa<strong>da</strong> de assimilar a ativi<strong>da</strong>de psíquica a uma secreção glandular: o<br />

pensamento seria apenas uma secreção cerebral, e com isto temos uma Psicologia sem alma. Nesta<br />

concepção, a alma não é um ens per se, uma enti<strong>da</strong>de subsistente por si mesma, mas uma simples<br />

expressão de processos do substrato físico. Que estes processos tenham a quali<strong>da</strong>de de consciência é,<br />

segundo este ponto de vista, um fato que não se pode negar, porque, se assim não fosse (continua a<br />

argumentação), não poderíamos falar de psique em geral: não se poderia falar de na<strong>da</strong>, porque a própria<br />

linguagem deixaria de existir. A consciência, portanto, é considera<strong>da</strong> a condição sine qua non <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

psíquica; é a própria alma. Por isto, to<strong>da</strong>s as "psicologias sem alma" modernas são psicologias <strong>da</strong><br />

consciência para as quais não existe vi<strong>da</strong> psíquica inconsciente.<br />

[659] Há, com efeito, não apenas uma, mas numerosas psicologias. Isto é curioso, porque, na<br />

reali<strong>da</strong>de, há apenas uma matemática, apenas uma geologia, apenas uma zoologia, apenas uma botânica,<br />

etc, ao passo que existem tantas psicologias, que uma Universi<strong>da</strong>de americana é capaz de publicar<br />

anualmente um grosso volume intitulado: Psychologies of 1930, etc. Creio que há tantas psicologias<br />

quantas filosofias, porque não existe apenas uma, mas numerosas filosofias. Digo isto, porque entre a<br />

Filosofia e a Psicologia reina uma conexão indissolúvel, conexão esta que se deve à inter-relação de seus<br />

objetos; em resumo: o objeto <strong>da</strong> Psicologia é a alma, e o objeto <strong>da</strong> Filosofia é o mundo. Até recentemente,<br />

a Psicologia era um ramo <strong>da</strong> Filosofia, mas agora se esboça uma ascensão <strong>da</strong> Psicologia, que, como<br />

predisse Nietzsche, ameaça tragar a Filosofia. A semelhança interior <strong>da</strong>s duas disciplinas provém de que<br />

ambas consistem em uma formação sistemática de opiniões a respeito de objetos que se subtraem aos<br />

passos de uma experiência completa e, por isto, não podem ser adequa<strong>da</strong>mente apreendidos pela razão<br />

empírica. Por isso elas incitam a razão especulativa a elaborar conceitos e opiniões, em tal varie<strong>da</strong>de e<br />

profusão, que, tanto na Filosofia como na Psicologia, seriam necessários numerosos e grossos volumes<br />

para caber to<strong>da</strong>s elas. Nenhuma dessas duas disciplinas pode subsistir sem a outra, e uma fornece<br />

invariavelmente à outra as premissas tácitas e muitas vezes também inconscientes.<br />

[660] A convicção moderna do primado <strong>da</strong> explicação física <strong>da</strong>s coisas conduziu, em última<br />

análise, a uma "Psicologia sem alma", isto é, a uma Psicologia onde a ativi<strong>da</strong>de psíquica na<strong>da</strong> mais é do<br />

que um produto bioquímico. Aliás, não existe uma Psicologia moderna, científica, cujo sistema<br />

explicativo se baseie exclusivamente no espírito. Ninguém, atualmente, poderia ousar fun<strong>da</strong>r uma<br />

Psicologia científica sobre o postula<strong>da</strong> de uma alma autônoma e independente do corpo. A idéia de um<br />

espírito subsistente em si mesmo, de um sistema cósmico fechado, que seria a premissa necessária à<br />

existência de almas individuais autônomas, é extremamente impopular, pelo menos entre nós. Na<br />

ver<strong>da</strong>de, devo acrescentar que, ain<strong>da</strong> em 1914, no decorrer de uma Joint Session <strong>da</strong> Aristotelian Society,<br />

<strong>da</strong> Mind Association e <strong>da</strong> British Psychological Society, assisti no Bedford College de Londres a um<br />

simpósio cujo tema era: "Are individual minds contained in God or not?" As almas individuais estão

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!