19.05.2013 Views

Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

(predomínio <strong>da</strong>s tendências destrutivas), como, por ex., o suicídio ou outros comportamentos anormais<br />

que parecem "predeterminados" no plano <strong>da</strong> existência de certos indivíduos portadores de tara.<br />

[548] A tarefa que nos impõe o tratamento <strong>da</strong> neurose é a de estabelecer aproxima<strong>da</strong>mente a<br />

harmonia entre "consciente" e "inconsciente". Pode-se conseguir isto, como se sabe, de várias maneiras:<br />

pela prática do "naturismo", pelo método <strong>da</strong> persuasão racional, pelo fortalecimento <strong>da</strong> vontade, ou pela<br />

"análise do inconsciente".<br />

[549] Como os métodos mais simples falham muitas vezes, e o médico não sabe mais como<br />

continuar a tratar o paciente, a função compensadora dos sonhos oferece uma aju<strong>da</strong> que é bem-vin<strong>da</strong>. Não<br />

queremos dizer que os sonhos dos homens modernos apontem imediatamente os meios terapêuticos<br />

apropriados, como se conta a respeito dos sonhos tidos durante a incubação [sono noturno] nos templos<br />

de Esculápio 182 , mas eles esclarecem a situação do paciente, de uma maneira que pode favorecer<br />

grandemente o processo de cura. Esses sonhos nos trazem recor<strong>da</strong>ções, reflexões; relembram<br />

acontecimentos vividos outrora; despertam coisas que dormiam no seio <strong>da</strong> nossa personali<strong>da</strong>de, e revelam<br />

traços inconscientes nas suas relações com o meio ambiente. Por isto é raro que um indivíduo que tenha<br />

se submetido ao fatigoso trabalho de análise de seus sonhos com a competente assistência de um<br />

especialista, por um longo período de tempo, não veja seu horizonte se alargar e se enriquecer. Justamente<br />

por causa de seu comportamento compensador, a análise adequa<strong>da</strong>mente conduzi<strong>da</strong> nos descortina novos<br />

pontos de vista e nos abre novos caminhos que nos aju<strong>da</strong>m a sair <strong>da</strong> terrível estagnação.<br />

[550] Mas a idéia de compensação caracteriza apenas de maneira genérica a função do sonho.<br />

Quando se contemplam séries que comportam várias centenas de sonho, como acontece nos tratamentos<br />

prolongados e difíceis, a atenção do observador é atraí<strong>da</strong> pouco a pouco para um fenômeno que no sonho<br />

isolado permanece escondido por trás <strong>da</strong> compensação. É uma espécie de processo evolutivo <strong>da</strong><br />

personali<strong>da</strong>de. Inicialmente as compensações aparecem como ajustamentos momentâneos de atitudes<br />

unilaterais ou o restabelecimento de certos desequilíbrios <strong>da</strong> situação. Mas um conhecimento e uma<br />

experiência mais aprofun<strong>da</strong>dos nos mostram que estas ações compensadoras aparentemente isola<strong>da</strong>s<br />

obedecem a uma espécie de plano predeterminado. Parecem liga<strong>da</strong>s umas às outras e subordina<strong>da</strong>s, em<br />

sentido mais profundo, a um fim comum, de modo que uma longa série de sonhos não aparece mais como<br />

uma sucessão fortuita de acontecimentos desconexos e isolados, mas como um processo de<br />

desenvolvimento e de organização que se desdobra segundo um plano bem elaborado. Designei este<br />

fenômeno inconsciente, que se exprime espontaneamente no simbolismo de longas séries de sonho, pelo<br />

nome de processo de individuação.<br />

[551] Nenhum lugar seria mais apropriado para a apresentação de exemplos ilustrativos do que o<br />

estudo descritivo <strong>da</strong> psicologia onírica. Mas esta tarefa, infelizmente, é totalmente impossível no quadro<br />

deste trabalho, por razões técnicas. Por isto remeto o leitor a meu livro Psychologie und Alchemie<br />

(Psicologia e Alquimia) 183 que, entre outros, contém um estudo sobre a estrutura de várias séries de<br />

sonhos, com referência especial ao processo de individuação.<br />

[552] Por falta de estudos adequados, ain<strong>da</strong> não se sabe ao certo se as longas séries de sonhos<br />

registrados fora do processo analítico nos permitem deduzir a existência de um processo evolutivo que<br />

indique a individuação em curso. O processo analítico, sobretudo quando inclui a análise sistemática dos<br />

sonhos, constitui o que Stanley Hall muito apropria<strong>da</strong>mente chamou de process of quickened maturation<br />

[processo de rápi<strong>da</strong> maturação]. Por isto é muito possível que os motivos que acompanham o processo de<br />

individuação só se manifestem nas séries de sonhos registrados no curso do processo analítico, ao passo<br />

que só aparecem nas séries "extra-analíticas" de sonhos a intervalos de tempo extremamente longos.<br />

[553] Lembrei, mais acima, que a interpretação dos sonhos exige, além de outras quali<strong>da</strong>des,<br />

também um conhecimento específico. Se, de um lado, acredito que um leigo inteligente, possuidor de<br />

algum conhecimento de Psicologia, de uma certa experiência <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e de um certo treinamento, seja<br />

capaz de diagnosticar, de maneira praticamente correta, a compensação produzi<strong>da</strong> pelo sonho, também<br />

acredito que é impossível compreender a natureza do processo de individuação que, como sabemos, está<br />

na base <strong>da</strong> compensação psicológica, sem sólidos conhecimentos no campo <strong>da</strong> mitologia, do folclore, <strong>da</strong><br />

psicologia dos primitivos e <strong>da</strong> história compara<strong>da</strong> <strong>da</strong>s religiões.<br />

[554] Nem todos os sonhos têm a mesma importância. Os próprios primitivos distinguem entre<br />

"grandes sonhos" e "pequenos sonhos". Nós os chamaríamos de sonhos "significativos" e sonhos<br />

182 Cf. C. A. Meier, Antike Inkubation und moderne Psychotherapie.<br />

183 [Obras completas, XII].

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!