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Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

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porque esta só tem lugar quando um instinto de forma correspondente oferece motivo e possibili<strong>da</strong>de para<br />

isto. Este esquema vale para todos os instintos e apresenta forma idêntica em todos os indivíduos <strong>da</strong><br />

mesma espécie. O mesmo se aplica ao homem: ele traz dentro de si certos tipos de instintos a priori que<br />

lhe proporcionam a ocasião e o modelo de sua ativi<strong>da</strong>de, na medi<strong>da</strong> em que funcionam instintivamente.<br />

Como ser biológico, ele não tem outra alternativa, senão a de se comportar de maneira especificamente<br />

humana e realizar o seu pattern of behaviour. Isto impõe estreitos limites às possibili<strong>da</strong>des de ação de sua<br />

vontade, tanto mais estreitos, quanto mais primitivo ele for e quanto mais sua consciência depender <strong>da</strong><br />

esfera dos instintos. Embora de um determinado ponto de vista seja absolutamente correto considerar o<br />

pattern of behaviour como um vestígio arcaico ain<strong>da</strong> existente, como o fez Nietzsche, por ex., a respeito<br />

do funcionamento dos sonhos, tal atitude, porém, não faz justiça, ao significado biológico e psicológico<br />

desses tipos. Quer dizer: não constituem propriamente relíquias ou vestígios de antigos modos de<br />

funcionamento, mas reguladores sempre presentes e biologicamente necessários <strong>da</strong> esfera dos instintos<br />

cujo raio de ação recobre todo o campo <strong>da</strong> psique e só perde seu caráter absoluto quando limita<strong>da</strong> pela<br />

relativa liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vontade. A imagem representa o sentido do instinto.<br />

[399] Embora seja provável que exista uma forma de instinto na biologia humana, contudo, parece<br />

que é difícil provar empiricamente a existência de tipos distintos, porque o órgão com o qual poderíamos<br />

apreender esses tipos, ou seja, a consciência, é em si mesmo não só uma transformação, mas também um<br />

transformador <strong>da</strong> imagem instintiva original. Por isto, não é de surpreender que a mente humana<br />

considere impossível determinar tipos precisos de pessoas, semelhantes aos que conhecemos no reino<br />

animal. Devo confessar que não consigo ver uma via direta para resolver este problema. Entretanto,<br />

consegui — ao que me parece — descobrir pelo menos uma via indireta para chegar à imagem instintiva.<br />

[400] No que se segue eu gostaria de <strong>da</strong>r uma breve descrição <strong>da</strong> maneira como esta descoberta se<br />

processou. Observei muitos pacientes cujos sonhos indicavam rico material produzido pela fantasia. Estes<br />

pacientes também me <strong>da</strong>vam a impressão de estarem literalmente cheios de fantasias, mas incapazes de<br />

dizer em que consistia a pressão interior. Por isto, eu aproveitava uma imagem onírica ou uma associação<br />

do paciente para lhe <strong>da</strong>r como tarefa elaborar ou desenvolver estas imagens, deixando a fantasia trabalhar<br />

livremente. De conformi<strong>da</strong>de com o gosto ou os dotes pessoais, ca<strong>da</strong> um poderia fazê-lo de forma<br />

dramática, dialética, visual, acústica, ou em forma de <strong>da</strong>nça, de pintura, de desenho ou de modelagem. O<br />

resultado desta técnica era to<strong>da</strong> uma série de produções artísticas complica<strong>da</strong>s cuja multiplici<strong>da</strong>de me<br />

deixou confuso durante anos, até que eu estivesse em condição de reconhecer que este método era a<br />

manifestação espontânea de um processo em si desconhecido, sustentado unicamente pela habili<strong>da</strong>de<br />

técnica do paciente, e ao qual, mais tarde, dei o nome de "processo de individuação". Mas bem antes que<br />

me surgisse este reconhecimento, eu observei que este método muitas vezes diminuía, de modo<br />

considerável, a freqüência e a intensi<strong>da</strong>de dos sonhos, reduzindo, destarte, a pressão inexplicável exerci<strong>da</strong><br />

pelo inconsciente. Em muitos casos, isto produzia um efeito terapêutico notável, encorajava tanto a mim<br />

como o paciente a prosseguir no tratamento, malgrado a natureza incompreensível dos conteúdos trazidos<br />

à luz do dia 131 . Tive necessi<strong>da</strong>de de insistir em seu caráter incompreensível, para evitar que eu próprio,<br />

baseado em certos pressupostos teóricos, recorresse a interpretações as quais eu tinha consciência não só<br />

de que eram inadequa<strong>da</strong>s, mas podiam levar a prejulgar as produções ingênuas do paciente. Quanto mais<br />

eu suspeitava que estas configurações encerravam um certo direcionamento, tanto menos inclinação eu<br />

sentia em arriscar qualquer teoria a respeito delas. Esta atitude de reserva não me saía fácil, porque em<br />

muitos casos se tratava de pacientes que necessitavam de certas idéias bem determina<strong>da</strong>s para não se<br />

perderem inteiramente na escuridão. Eu me via obrigado a tentar oferecer, na medi<strong>da</strong> do possível,<br />

interpretações pelo menos provisórias, entremeando-as com muitos "talvez", "se" e "mas", sem jamais<br />

passar além dos limites <strong>da</strong> configuração que se apresentava diante de mim. Eu me preocupava em fazer<br />

com que a interpretação desembocasse em uma questão cuja resposta fosse deixa<strong>da</strong> à livre ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

fantasia do paciente.<br />

[401] A multidão caótica de imagens encontra<strong>da</strong> com que nos deparamos no início se reduzia, no<br />

decorrer do trabalho, a determinados temas e elementos formais que se repetiam de forma idêntica ou<br />

análoga nos mais variados indivíduos. Eu menciono, como a característica mais saliente, a multiplici<strong>da</strong>de<br />

caótica e a ordem, a duali<strong>da</strong>de, a oposição entre luz e trevas, entre o supremo e o ínfimo, entre a direita e<br />

a esquer<strong>da</strong>, a união dos opostos em um terceiro, a quaterni<strong>da</strong>de (o quadrado, a cruz), a rotação (círculo,<br />

131 Cf. Seelenprobleme der Gegenwart: Ziele der Psychotherapie, p. 105s [Obras Completas, XVI] e Die Beziehung zwischen dem Ich und<br />

dem Unbewussten [edição brasileira: "O Eu e o Inconsciente", 2ª ed., Petrópolis, Ed. Vozes, 1979, em Obras Completas, VII].

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