Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste
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Além do tempo reacional prolongado, há ain<strong>da</strong> outras perturbações características cujos detalhes não<br />
podemos discutir aqui. Os conteúdos emocionais em geral se referem a coisas que o sujeito <strong>da</strong> experiência<br />
gostaria que os outros não conhecessem. Trata-se, em geral, de fatos penosos e, portanto, de conteúdos<br />
reprimidos ou mesmo de coisas que o próprio sujeito <strong>da</strong> experiência desconhece. Quando uma palavra<br />
indutora atinge um destes complexos, o sujeito <strong>da</strong> experiência não encontra nenhuma resposta, ou então<br />
as coisas que lhe ocorrem são em tal quanti<strong>da</strong>de, que ele não sabe o que responder, ou repete<br />
mecanicamente a palavra indutora, ou dá uma resposta qualquer e imediatamente, ou a substitui por outra,<br />
etc. Se, ao término do experimento, se procura saber do sujeito <strong>da</strong> experiência as respostas que ela deu às<br />
diversas palavras indutoras apresenta<strong>da</strong>s, verifica-se, em geral, que ele se recor<strong>da</strong> muito bem <strong>da</strong>s reações<br />
ordinárias, mas se esquece <strong>da</strong>s palavras liga<strong>da</strong>s a um complexo.<br />
[593] Estas peculiari<strong>da</strong>des revelam claramente as quali<strong>da</strong>des do complexo autônomo: ele<br />
determina perturbação no tempo <strong>da</strong> reação; bloqueia a resposta ou provoca pelo menos um retar<strong>da</strong>mento<br />
desproporcional, ou produz uma reação inadequa<strong>da</strong> e, em segui<strong>da</strong>, impede que o sujeito <strong>da</strong> experiência se<br />
recorde <strong>da</strong>s respostas <strong>da</strong><strong>da</strong>s. Interfere, assim, na vontade consciente, perturbando suas disposições. Por<br />
isto falamos de autonomia dos complexos. Quando submetemos um neurótico ou doente mental a este<br />
experimento, descobrimos que os complexos que perturbam as reações, são, ao mesmo tempo,<br />
componentes essenciais <strong>da</strong> perturbação psíquica. Eles provocam não só as perturbações <strong>da</strong>s reações, mas<br />
também os sintomas. Tenho visto casos em que certas palavras indutoras foram respondi<strong>da</strong>s com palavras<br />
estranhas e aparentemente sem sentido, com palavras que brotavam inespera<strong>da</strong>mente <strong>da</strong> boca <strong>da</strong> pessoa<br />
testa<strong>da</strong>. Era como se um ser estranho tivesse falado através dela. Estas palavras pertenciam ao complexo<br />
autônomo. Quando excitados por um estímulo exterior, estes complexos podem causar confusões<br />
repentinas na mente, emoções violentas, depressões, estados de ansie<strong>da</strong>de e angústias, etc, ou se<br />
exprimem através de alucinações. Em uma palavra: comportam-se de tal sorte, que a crença primitiva nos<br />
espíritos parece constituir uma forma plástica de expressar tais fenômenos.<br />
[594] Podemos estender esse paralelo muito mais além. Certos complexos surgem depois de<br />
experiências dolorosas ou desagradáveis na vi<strong>da</strong> do indivíduo. São experiências pessoais, de natureza<br />
emocional, que deixam feri<strong>da</strong>s psíquicas duradouras atrás de si. Uma experiência desagradável é capaz de<br />
sufocar, por ex., quali<strong>da</strong>des preciosas de uma pessoa. Isto dá origem a complexos inconscientes de<br />
natureza pessoal. O primitivo, neste caso, falaria, e com razão, de per<strong>da</strong> <strong>da</strong> alma, pois, na ver<strong>da</strong>de, certas<br />
partes <strong>da</strong> psique aparentemente desapareceram. Uma parte dos complexos autônomos se originam destas<br />
experiências pessoais. A outra parte, porém, deriva de uma fonte totalmente diferente. Enquanto a<br />
primeira fonte é fácil de entender, porque diz respeito à vi<strong>da</strong> exterior que todos podem ver, a outra é<br />
obscura e de difícil compreensão, porque se refere sempre a percepções ou impressões vin<strong>da</strong>s de<br />
conteúdos do inconsciente coletivo. Comumente procura-se explicar racionalmente estas percepções<br />
interiores como provin<strong>da</strong>s de causas externas, sem, contudo, atingir o âmago <strong>da</strong> questão. No fundo, tratase<br />
de conteúdos irracionais, de que o indivíduo jamais teve consciência anteriormente, e que ele, portanto,<br />
tenta em vão descobrir em alguma parte fora de sua própria pessoa. O primitivo exprime este fato muito<br />
apropria<strong>da</strong>mente, declarando convenci<strong>da</strong>mente que algum espírito estranho está envolvido no caso. Ao<br />
que sei, estas experiências interiores acontecem, ou quando algum fato exterior produz um abalo tão forte<br />
no indivíduo que sua concepção anterior <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> desmorona, ou quando os conteúdos do inconsciente<br />
coletivo por um motivo qualquer acumulam uma quanti<strong>da</strong>de tão grande de energia que se tornam capazes<br />
de influenciar a consciência. A meu ver, isto acontece quando a vi<strong>da</strong> de um povo ou de um grupo humano<br />
mais amplo sofre uma mu<strong>da</strong>nça profun<strong>da</strong> de natureza política social ou religiosa. Esta mu<strong>da</strong>nça implica<br />
ao mesmo tempo uma mu<strong>da</strong>nça na atitude psicológica. De hábito, as mu<strong>da</strong>nças profun<strong>da</strong>s na história são<br />
atribuí<strong>da</strong>s exclusivamente a causas exteriores. Contudo, estou convencido de que as circunstâncias<br />
exteriores freqüentemente são por assim dizer meras ocasiões para que se manifeste uma nova atitude<br />
perante a vi<strong>da</strong> e o mundo, prepara<strong>da</strong> inconscientemente desde longa <strong>da</strong>ta. Condições sociais, políticas e<br />
religiosas gerais afetam o inconsciente coletivo, no sentido de que todos aqueles fatores que são<br />
reprimidos na vi<strong>da</strong> de um povo pela concepção do mundo ou atitudes predominantes se reúnem pouco a<br />
pouco no inconsciente coletivo e ativam seus conteúdos. Em geral, um ou mais indivíduos dotados de<br />
intuição particularmente poderosa tomam consciência de tais mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s no inconsciente<br />
coletivo e as traduzem em idéias comunicáveis. Estas idéias se propagam rapi<strong>da</strong>mente, porque ocorreram<br />
também mu<strong>da</strong>nças semelhantes no inconsciente. Há uma disposição geral a aceitar as novas idéias,<br />
embora, por outro lado, elas encontrem também uma resistência violenta. As idéias novas não são apenas