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Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

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individualmente, é melhora<strong>da</strong> pelo bom exemplo. Uma atitude, portanto, pode impor-se mesmo contra a<br />

vontade consciente: "um espírito perverso corrompe os bons costumes". É na sugestão <strong>da</strong>s massas onde<br />

isto mais se evidencia.<br />

[631] A atitude ou disposição, portanto, pode impor-se à consciência, a partir de fora ou de dentro,<br />

como um afeto, e, por conseguinte, pode ser expressa em figuras de linguagem. À primeira vista, a atitude<br />

parece muito mais complica<strong>da</strong> do que um afeto. Mas um exame aprofun<strong>da</strong>do nos mostra que não é assim,<br />

pois a maioria <strong>da</strong>s atitudes, por assim dizer, se baseia consciente ou inconscientemente em sentenças que<br />

têm freqüentemente o caráter de um provérbio. Em certas atitudes identificamos imediatamente a<br />

sentença subjacente, e chegamos mesmo a descobrir a sua fonte. Muitas vezes, a atitude se caracteriza<br />

apenas por uma única palavra, que geralmente expressa um ideal. Acontece não poucas vezes que a<br />

quintessência de uma atitude não é uma sentença nem um ideal, mas uma personali<strong>da</strong>de que se reverencia<br />

e se imita.<br />

[632] A educação se utiliza dos fatos psicológicos e procura sugerir as atitudes adequa<strong>da</strong>s<br />

mediante sentenças e ideais, muitos dos quais, na reali<strong>da</strong>de, continuam a exercer sua influência ao longo<br />

de to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>, como princípio ou idéias-mestras duradouras. Elas se apoderam do homem, como os<br />

espíritos. A um nível mais primitivo, é inclusive a visão do mestre de doutrina, do poimen ou poimandres,<br />

que personifica o princípio orientador e o concretiza em uma figura simbólica.<br />

[633] Aqui nos aproximamos do conceito de "espírito", que ultrapassa de longe o sentido<br />

animístico do termo. Os aforismos ou os provérbios, via de regra, são o resultado de muitas experiências e<br />

esforços individuais, a suma de percepções e de conclusões, condensa<strong>da</strong> em poucas palavras expressivas.<br />

Se submetermos a palavra bíblica: "Possuí como se não possuísseis" a uma análise rigorosa, procurando<br />

reconstituir to<strong>da</strong>s aquelas experiências e reações de que resultou a quintessência <strong>da</strong> sabedoria de vi<strong>da</strong><br />

conti<strong>da</strong> neste aforismo, não podemos deixar de admirar a plenitude e a maturi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> experiência de vi<strong>da</strong><br />

que está por detrás dela. É uma palavra "impressionante" que toca o sentido receptivo com grande força, e<br />

talvez dele se apodere duradouramente. Aqueles aforismos ou idéias que a mais rica experiência de vi<strong>da</strong> e<br />

a mais profun<strong>da</strong> reflexão encerram, constituem aquilo que chamamos "espírito" no melhor sentido do<br />

termo. Se uma idéia-mestra deste gênero consegue uma dominação absoluta, nós dizemos que a vi<strong>da</strong><br />

vivi<strong>da</strong> sob sua guia é uma vi<strong>da</strong> regi<strong>da</strong> pelo espírito ou vi<strong>da</strong> espiritual. E quanto mais absoluta e mais<br />

compulsiva é a influência <strong>da</strong> idéia-mestra, tanto mais ela possui a natureza de um complexo autônomo<br />

que se contrapõe à consciência do eu como um fato irresistível.<br />

[634] Não devemos perder de vista que tais máximas ou idéias-mestras — não excetuando sequer<br />

as melhores dentre elas — não são palavras mágicas cujo poder é absoluto; só adquirem domínio sob<br />

certas condições, isto é, quando há dentro de nós algo que lhes corresponde, ou seja, algum afeto que<br />

esteja pronto a se apoderar <strong>da</strong> forma apresenta<strong>da</strong>. Somente através <strong>da</strong> reação dos sentimentos é que a<br />

idéia, ou o que possa ser o princípio orientador, se torna um complexo dominante. Sem esta reação, a<br />

idéia continuaria um conceito submetido ao arbítrio <strong>da</strong> consciência, uma simples peça de calcular<br />

intelectual, sem poder de determinação. A idéia que for um mero conceito intelectual não pode ter<br />

influência na vi<strong>da</strong>, porque neste estado ela não passa de uma palavra vazia de sentido; e inversamente,<br />

quando a idéia adquire a importância de um complexo autônomo, ela passa a atuar sobre a vi<strong>da</strong> do<br />

indivíduo através de suas emoções e sentimentos.<br />

[635] Não devemos pensar que estas atitudes resultem de atos conscientes de nossa vontade e de<br />

uma escolha consciente. Quando dissemos, acima, que para isto é necessária também a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong>s emoções<br />

e dos sentimentos, poderíamos também ter dito que, para além <strong>da</strong> vontade consciente, deve haver uma<br />

disposição inconsciente de produzir uma atitude autônoma. Não se pode propriamente querer ser<br />

espiritual, porque todos os princípios que podemos escolher ou que desejamos alcançar permanecem<br />

sempre dentro dos limites de nossas emoções e sentimentos e são submetidos ao controle de nossa<br />

consciência; por isto nunca podem converter-se naquilo que escapa ao domínio <strong>da</strong> vontade consciente.<br />

Trata-se, antes, <strong>da</strong> questão decisiva e crucial: que princípio deve reger nossa conduta.<br />

[636] Certamente uma pergunta que se fará a este respeito é a se não haveria indivíduos para os<br />

quais o próprio livre-arbítrio constituiria o supremo princípio do agir, de modo que to<strong>da</strong>s as suas atitudes<br />

seriam intencionalmente escolhi<strong>da</strong>s por eles próprios. Não acredito que alguém haja atingido ou venha<br />

atingir esta semelhança com Deus, mas sei que há muitos que almejam este ideal, porque estão<br />

dominados pela idéia heróica <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de absoluta. De um modo ou de outro, todos os homens são<br />

dependentes; todos são determináveis de alguma forma, pois não são deuses.

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